A população idosa aumentou 2,9% em dez anos no Paraná. Em 2012, o estado possuía 1.279 milhão de pessoas com mais de 60 anos. O número subiu para 1.720 milhão em 2022. Os dados são da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) neste mês.

O Estado conta com 11.662 milhões de habitantes. O levantamento também aponta que a população jovem reduziu nos últimos anos. O percentual de pessoas abaixo dos 39 anos caiu de 62,7% em 2012 para 59% em 2022.

Para o geriatra Rubens de Fraga Junior a chamada "transição demográfica", com acréscimo de idosos e diminuição das parcelas mais jovens da população, provoca o debate sobre o planejamento do setor público, especialmente na área da saúde.

"Isso vai levar a uma demanda maior de serviços de saúde. E essa transição, que a gente chama de demográfica, está modificando os padrões de adoecimento e de mortalidade da população. A gente deve considerar as mudanças nas questões epidemiológicas: as pessoas vão acabar adoecendo não mais de doenças infecciosas e parasitárias e sim de doenças crônicas e degenerativas, que são doenças não transmissíveis", disse em entrevista à FOLHA.

A Lei 10.741/2003, que instituiu o Estatuto do Idoso, determina que as pessoas idosas são asseguradas de todos os direitos fundamentais para preservação da saúde física e mental e aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social em condições de liberdade e dignidade. Esses direitos devem ser garantidos pela família, sociedade e poder público.

Diante disso, o geriatra ouvido pela FOLHA pontua que, com o envelhecimento da população, há entre essas questões uma necessidade de capacitação de cuidadores, além de um projeto via SUS (Sistema Único de Saúde) que disponibilize esse serviço para os pacientes.

"Nós precisaríamos de cuidadores para essas pessoas. Não passa atualmente a ideia, por exemplo, que o SUS ou que as secretarias de ação social disponibilizem esses profissionais. Quando você sofre de doenças crônicas, você passa a depender de cuidados de terceiros. Então, há a necessidade de capacitação desses profissionais na saúde e de equipes multidisciplinares", aponta.

A Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) declarou o período de 2021 a 2030 como a Década do Envelhecimento Saudável. A ideia é promover ações voltadas para a saúde do idoso.

"A nível pessoal deve-se adotar medidas de envelhecimento saudável como alimentação saudável, prática de exercícios regulares e controle de doenças como pressão alta e diabetes. E a nível de comunidade e estado precisamos adotar políticas públicas voltadas para o envelhecimento saudável", afirma Rubens de Fraga Junior à FOLHA.

ACESSIBILIDADE

Apesar das mudanças da pirâmide etária, as áreas urbanas carecem de infraestrutura adequada para quem tem mais de 60 anos. Essa é a avaliação do arquiteto Ricardo Mesquita, especialista em acessibilidade.

Segundo ele, as dificuldades de mobilidade, especialmente em relação às calçadas, contribuem para o isolamento e perda de autonomia de pessoas idosas.

"A luta tem sido no sentido de que a calçada seja a prioridade. Claro que não existe recurso disponível para mudar todas as calçadas de uma vez só, por isso é preciso planejamento para criar rotas acessíveis nas cidades", analisou em entrevista à FOLHA.

O arquiteto cita que essa população enfrenta problemas assim que coloca o pé para fora de casa, com buracos e pisos irregulares. "A calçada tem que ser construída e mantida por órgãos públicos. É preciso ter uma melhor padronização, que seja um material antiderrapante e plano, não pode ser irregular e escorregadio, por exemplo", finaliza.

O envelhecimento populacional é um fenômeno que vem sendo observado no Brasil e no mundo com a diminuição da taxa de natalidade nos últimos anos e o aumento da expectativa de vida. Com uma população com mais de 60 anos maior, fica evidente a necessidade de políticas públicas para um envelhecimento saudável.

Em Londrina, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apurou, no Censo 2022, uma população de pouco mais de 555 mil pessoas, mas o quantitativo por faixa etária ainda não foi divulgado. Em 2010, a estimativa era de que a cidade possuía mais de 64 mil pessoas com mais de 60 anos - cerca de 12,72% da população da época. A projeção do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social) é de mais de 115 mil pessoas idosas na cidade.

Para muitas dessas pessoas, o acesso a coisas básicas, como uma calçada em boas condições, já pode fazer a diferença. É o que cita a aposentada Josefa Melo, 64, que também relata a dificuldade para embarcar e desembarcar dos ônibus do transporte coletivo.

“Eu tenho que ir até o terminal para descer e não correr o risco de cair, porque o ônibus para muito longe do meio-fio”, relata, pontuando que também já notou rampas íngremes em alguns locais que dificultam o acesso de cadeirantes, por exemplo.

“Acho que a cidade não está tão preocupada com isso [acessibilidade para os idosos]. Está preocupada em crescer, crescer e crescer, e esquece que as pessoas estão envelhecendo.”

“Esses dias eu precisei marcar uma consulta e foi muito rápido, mas tem muito o que fazer ainda”, opina Josefa Melo
“Esses dias eu precisei marcar uma consulta e foi muito rápido, mas tem muito o que fazer ainda”, opina Josefa Melo | Foto: Douglas Kuspiosz

A aposentada diz que a saúde de Londrina “está melhorando” nos serviços aos idosos, mas que ainda precisa avançar. “Esses dias eu precisei marcar uma consulta e foi muito rápido, mas tem muito o que fazer ainda. Outro dia eu fiquei quatro horas para medir a pressão.”

Para Maria Canedo, 73, as calçadas da cidade estão muito “esburacadas” e por isso muitas vezes é necessário andar pela rua. “Eu mesma ando na ‘beirada’ da rua porque tem muito buraco e é onde a gente cai. Já caí algumas vezes”, conta, pedindo uma maior fiscalização.

Ela também reclama da demora para conseguir uma cirurgia no joelho, já que hoje precisa do auxílio de muletas para se locomover. “Eu fui ao posto de saúde, eles marcaram lá, mas até hoje não veio o papel. Está fazendo quase três anos”, diz. “A gente, que é idoso, não tem mais força nas pernas, as pernas estão meio fracas. Os novos não, pulam os buracos, andam, estão nem aí. Mas os velhos estão sofrendo.”

“Calçada, para gente que é de idade, é muito difícil. Ainda mais a gente que enxerga pouco”, diz a aposentada Jacira Gerbe, 87, que cita os buracos e outros obstáculos no meio do caminho, além de problemas como o desnível do calçamento.

Ela também reclama da lotação no transporte coletivo e o desrespeito com os assentos preferenciais. “Os estudantes não dão lugar para os idosos, fazem de conta que estão dormindo, ficam no celular com a cabeça baixa. É horrível.”

SECRETARIA

A reportagem procurou a secretária do Idoso de Londrina, Andrea Bastos Ramondini Danelon, e apresentou as demandas de alguns dos entrevistados. Ela explica que a pasta oferece serviços para idosos dependentes e independentes, e que está “em um momento de crescimento dos serviços oferecidos”.

Alguns exemplos de serviços são os disponibilizados nos Centros de Convivência da Pessoa Idosa, em que há acesso a atividades sociais e culturais, como um programa de inclusão digital e outro de orientações de saúde e cidadania. Também há parceria com o Cefe (Centro de Estudos e Formação para o Envelhecimento).

Para os idosos que precisam de cuidados, o município mantém termos de colaboração com ILPIs (Instituições de Longa Permanência para Idosos), disponibiliza a Casa Dia e acolhimento na modalidade abrigo, e outros serviços, além de parcerias com programas estaduais e federais.

Sobre a acessibilidade das calçadas, Danelon ressalta que o município aderiu ao programa Cidade e Comunidades Amigáveis com a Pessoa Idosa, promovido pela OMS (Organização Mundial de Saúde), em que são estudadas estratégias de enfrentamento a médio e longo prazo pensando na mobilidade urbana. Manutenção de ruas e calçamentos, faixas elevadas de travessia e outras intervenções são analisadas no programa, que deve ser lançado em agosto.

A respeito do acesso ao transporte coletivo, a secretária diz que a pasta trabalha “com as demandas e propostas das Conferências Municipais da Pessoa Idosa que sempre são encaminhadas para os órgãos competentes”.

Danelon também destaca que há uma parceria contínua com a Secretaria de Saúde e que, recentemente, o secretário Felippe Machado foi até o Centro de Convivência da zona norte para ouvir as demandas da população idosa da cidade.

“Quanto às Instituições de Longa Permanência para Idosos a parceria também é primordial, tanto no que diz respeito a questão do calendário de vacinação, controle e manejo de surtos de doenças infecciosas, orientações de todas as normativas e legislações de saúde, e na operacionalização dos fluxos de atendimento com as Unidades Básicas de Saúde e Caps etc.”, completa a secretária.