Um cenário inusitado preocupou pescadores e moradores de Sertanópolis, na região metropolitana de Londrina. A aparição da conhecida "Ponte Caída". A estiagem abaixou o nível da represa da Hidrelétrica Capivara que abrange Sertanópolis e Primeiro de Maio, e fez a ponte emergir completamente, o que não acontecia há pelo menos cinco anos.

O pescador Marcelino da Silva, 72 anos, frequenta o local há mais de uma década: "Para encher vai demorar muito"
O pescador Marcelino da Silva, 72 anos, frequenta o local há mais de uma década: "Para encher vai demorar muito" | Foto: Gustavo Carneiro



Embora a chuva tenha chegado na última semana, não foi suficiente para subir o nível da represa. Segundo Roberto Palomares, 58, empresário londrinense que possui uma chácara perto da represa, em janeiro choveu menos do que o usual, o que afetou o nível das águas.

O cenário é de seca. "Para encher isso aqui não é nem uma tromba d'água, tem que dar um elefante inteiro", brinca. O empresário, que tem casa no local há dez anos, disse que nunca viu a represa tão seca. "A chuva não enche, está longe para encher. Faz muito tempo que não fica assim. Desse jeito assim é a primeira vez", contou.

A mesma situação foi vista em outros municípios represados como Rancho Alegre e Primeiro de Maio. Palomares alega que desde 1989 a ponte não aparecia por completo. "Há três anos baixou bem o nível, mas não dava para atravessar", completou.

Uma imagem que espanta quem frequenta o leito do rio: anos coberta pela água, é possível atravessar a ponte sem molhar os pés. A usina hidrelétrica Capivara foi criada em 1975 e represou as águas do rio Tibagi, que desemboca no Paranapanema.

Um alerta também para a navegação perigosa no local. Os barcos, que antes passavam por cima da ponte, agora têm de passar por baixo. "Isso nunca aconteceu", disse Palomares.

ABASTECIMENTO

"Para encher vai demorar muito", contou o risonho pescador Marcelino da Silva, 72. Londrinense que há mais de uma década frequenta a ponte para pescar com a família, Silva relata que há pelo menos cinco anos a ponte não emergia totalmente.

"Eu já atravessei a ponte para pescar do outro lado. Sempre pego algum peixinho como a manjuba, barbado, piau, carpa, tilápia e o mandi chorão", lembrou.

Seu filho, Marcelo da Silva, 33, trabalha como operador de máquinas em Londrina. Desde criança ele acompanha o pai na pescaria do final de semana. Ele conta que a última vez que o nível da represa baixou tanto a ponto de atravessar a ponte foi em 2012. "Meio complicado, se continuar assim vai acabar a água", disse. Mas, a Sanepar garante que "não há qualquer dificuldade de abastecimento na região que tenha relação com este caso."

"As comportas são em Mauá da Serra. Se eles liberarem aí enche de novo. Por enquanto os barcos estão passando por baixo da ponte", contou Marcelo.

A CTG Brasil, que opera a hidrelétrica, é a maior usina do Paranapanema. Quanto ao controle do nível do reservatório e à abertura das comportas, a CTG afirmou que "essa operação leva em consideração diversos fatores, como o uso múltiplo do reservatório e os níveis dos demais reservatórios do País", controlados pelo ONS.

A empresa ainda ressalta que desde novembro de 2018 as chuvas têm sido escassas na bacia do rio Paranapanema. "Como consequência, a falta de chuvas refletiu nos níveis dos reservatórios das usinas do rio Paranapanema. Para os próximos meses, diversos institutos meteorológicos projetam que ainda teremos um índice pluviométrico abaixo da média".
Mas, segundo a CTG, embora os níveis dos reservatórios estejam reduzidos por conta da falta de chuvas, "o nível atual é considerado normal para a operação da usina e encontra-se dentro da sua faixa de operação definida pelas pertinentes autorizações Regulatórias, não afetando a geração de energia".
Na sexta-feira (15), quando a reportagem visitou o local, o nível do reservatório da Capivara operava na cota correspondente ao volume útil armazenado de 21,6%. Em dezembro de 2018, operava com 70%.