João Pessoa, 24 (AE) - Soldados, cabos e sargentos da Polícia Militar da Paraíba decidiram hoje à noite firmar acordo na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), pondo fim à greve que completou 18 dias. Os grevistas aceitaram os termos da contraproposta apresentada pelo governo, que prevê uma gratificação de 85 reais para soldados e cabos, 90 reais a sargentos e 130 reais a oficiais. O soldo básico de um recruta é de 136 reais.
O governo compromete-se, segundo o acordo, a rever as punições a 164 policiais que foram excluídos da PM por deserção. De acordo com o líder do movimento, sargento Onildo Rodrigues, o Comando-Geral da polícia não poderá punir nenhum militar, nem mesmo disciplinarmente.
"Saímos vitoriosos", festejou Rodrigues, ao anunciar o fim da greve, na Praça João Pessoa, onde um grupo de policiais permaneceu acampado, em frente do palácio do governo.
Os PMs paraibanos cruzaram os braços para forçar o governo a rever o cálculo do escalonamento vertical, uma lei aprovada em 1997, que prevê um benefício de 136 reais sobre o soldo básico, mas o governo o calculava sobre 83 reais, segundo Rodrigues. O escalonamento vertical permite reajuste em cascata, incidindo sobre outras vantagens. O governo alegava que não havia receita para bancar as reivindicações dos militares.
Rodrigues disse que os grevistas aprovaram o acordo possível. "Não podíamos continuar indefinidamente com a greve"
disse o sargento, acusado, no começo da semana, pelo Ministério Público (MP) de incitar a ordem pública. Cansados, os militares, alguns descalços e com a farda desabotoada, desocuparam a Praça João Pessoa, onde os grevistas armaram várias barracas de plásticos.
O comandante da PM, coronel Ramilton Cordeiro, disse que
apesar das provocações da liderança do movimento, o Comando-Geral da PM não ordenou a prisão de nenhum militar.
"Tivemos muita paciência para negociar", disse o coronel, que será beneficiado com o acordo. Ele disse que o movimento era justo, mas ilegal. "Polícia não pode fazer greve", disse o coronel.
O movimento contou com a adesão de cerca de 70% da corporação de 7, 5 mil soldados e oficiais, na avaliação do comando de greve. "O movimento era insignificante e não representou a PM", retrucou o comandante, ao afirmar que apenas cem policiais amotinados participaram do movimento.
Semana passada, o governador José Maranhão (PMDB) requisitou tropas federais, temendo o descontrole da ordem pública, mas, 24 horas depois, foi convencido pelo ministro-chefe da Casa Militar, general Alberto Cardoso, a desistir do pedido. Cerca de 2 mil soldados do Exército estão de prontidão em dois quartéis em João Pessoa. A partir do recuo do governo, o movimento grevista cresceu, mas o governo tomou medidas de impacto contra os grevistas. Esta semana, o comando da PM excluiu 164 soldados, cabos e sargentos da corporação, porém, serão tornadas nulas com a assinatura do acordo entre os grevistas e o governo.
O secretário de Comunicação Social da Paraíba, Luiz Augusto Crispim, disse repetidas vezes que o movimento era financiado por prefeituras cujos prefeitos são adversários políticos de Maranhão. Crispim referia-se aos prefeitos de João Pessoa, Cícero Lucena (PMDB), e de Campina Grande, Cássio Cunha Lima (PMDB). "A greve da PM era uma festa e gostaria de saber quem a financiou", disse o secretário.