Enquanto a 5ª Vara Criminal de Londrina se prepara para dar início à fase de instrução do processo que julga denúncias de supostos crimes contra dois diretores e seis funcionários de duas clínicas psiquiátricas de Londrina, outra suspeita de maus-tratos e morte nas instituições é investigada.

Direção da Clínica Psiquiátrica de Londrina informou que fez "todo o possível" para o tratamento da paciente
Direção da Clínica Psiquiátrica de Londrina informou que fez "todo o possível" para o tratamento da paciente | Foto: Gustavo Carneiro

De acordo com Lilian Guimarães Mello, a irmã dela, Tatilaine Brizola Guimarães, 36, deu entrada na Clínica Psiquiátrica de Londrina fisicamente bem, “falando e andando”, mas morreu no dia 12 de outubro por suposta negligência no atendimento. A internação ocorreu em 27 de setembro após encaminhamento do Hospital Carolina Lupion, em Jaguariaíva, cidade em que família mora, a 270 quilômetros de Londrina.

Diagnosticada com transtorno bipolar, Tatilaine teve febre alta e precisou ser transferida para o HU (Hospital Universitário) no dia 11 de outubro, já com os rins paralisados e após ter sofrido um AVC (Acidente Vascular Cerebral) isquêmico, trombose e choque séptico pulmonar. No HU, ainda passou por procedimento para poder respirar, mas morreu durante a madrugada.

Tatilaine havia passado a apresentar sintomas de ansiedade e distúrbio do sono aos 19 anos e já havia sido internada na mesma clínica, em 2016, período em que eram permitidas visitas pelos familiares. “Pedimos para um casal de amigos para ir visitar no domingo (29) e eles disseram que ela continuava agitada, mas estava com febre. No dia 8, quando meus pais foram para visitá-la, foram proibidos. Minha mãe começou a passar mal e a levaram para uma visita monitorada, com psicólogo, médico e assistente social. Ela já estava entubada com o lado esquerdo paralisado”, descreveu a irmã.

A paciente fazia uso contínuo de antidepressivos e hormônios para o funcionamento da glândula tireoide e nunca foi agressiva, apenas inquieta. Ela deixa uma filha de seis anos.

Lilian afirma que a irmã não foi alimentada e hidratada corretamente durante a internação e teria sofrido uma overdose medicamentosa. Após a constatação da morte, o pai foi à Clínica solicitar cópia do prontuário médico, o que não foi concedido. Em seguida, um boletim de ocorrência foi registrado.

Em nota, a diretora da Clínica, a médica Carolina Alves de Moraes Nicolau, disse que a instituição fez "todo o possível" para o tratamento da paciente Tatilaine Brizola Guimarães por 11 dias e lamentou com "pesar e tristeza" a morte dela no Hospital Universitário de Londrina. “A paciente teve um choque séptico com AVC tronco encefálico antes de ser transferida para o HU prontamente pelo Samu. A Clínica enviou uma enfermeira para acompanhar a paciente, mas, infelizmente, ela tinha trombofilia, uma doença de alteração sanguínea com trombos que foram para o coração e cérebro, ainda desconhecida da família”, disse Nicolau.

A diretora da clínica também esclareceu que um AVC tronco encefálico não é compatível com a vida e as medicações administradas durante a internação não alteraram o quadro nem foram a causa da morte.

O advogado Marcos Dauber, que defende a Clínica Psiquiátrica Londrina e Vila Normanda, rechaçou as acusações de maus-tratos e disse que os diretores ainda não foram intimados formalmente a prestar esclarecimentos. E que, caso sejam, colaborarão com as investigações assim como têm feito em todos os outros casos.

Segundo o Ministério Público, uma série de irregularidades contra pacientes foi constatada, como alimentação inadequada, leitos sem enxoval, utilização de medicamentos sem justificativa, ausência de registro de agressões e tentativas de fugas e até utilização de carimbos de médicos que não trabalhavam mais nas clínicas para suposta extensão do tratamento.

Em fevereiro, a Clínica Psiquiátrica de Londrina e a Vila Normanda foram alvo de operação do Ministério Público que apurou, também, a possível prática de falsidade ideológica em prontuários médicos contra o Sistema Único de Saúde, o que resultou na acusação de organização criminosa contra diretores.