Polícia internauta patrulha o ciberespaço em busca dos que procuram sexo com crianças
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quarta-feira, 22 de março de 2000
Por Jennifer Coleman
Sacramento, Califórnia (AE-AP) - Durante cinco meses, Bill Mannering foi para o trabalho todos os dias e fingiu que era um menino de 13 anos. Passando de quatro a seis horas por dias na Internet, o detetive da cidade de Sacramento colocou-se na mira para que um homem procurando sexo com crianças se aproximasse dele. Os dois conversaram pelo computador por três semanas sobre sexo e então o homem pediu ao "garoto" que se encontrasse com ele.
"Ele, basicamente, seduziu meu personagem", disse Mannering. "Ele organizou a coisa toda".
Mas quando o homem chegou ao shopping center de Sacramento para o encontro no dia 14 de agosto, ele encontrou uma delegada de 23 anos vestida como um garoto e foi preso.
Mannering é parte de um crescente contingente de policiais que os órgãos da lei lançam na Internet em busca de crimes contra crianças.
"O computador tem esta aura de anonimato", disse Randy Aden, agente supervisor do FBI em Los Angeles. "Quando você adiciona a isso adolescentes que começam a descobrir sua sexualidade, a exercer sua independência.... tem-se uma barril de pólvora, prestes a virar um problema".
O FBI iniciou a Operação Imagens Inocentes em 1995 para investigar o crescente número de casos de exploração de crianças relacionados à Internet, disse Angela Bell, porta-voz do FBI em Washington.
"Em 1996, nós tivemos 113 casos. Em 1998, foram 698 casos e no ano seguinte eles já eram 1.497", conta Bell. Os agentes do FBI detiveram 515 pessoas e 439 condenações desde que a Operação Inocente começou.
O orçamento do FBI é de US$ 10 milhões, incluindo o dinheiro para o treinamento de policiais locais e para o estabelecimento de forças-tarefas regionais, explica Bell.
Cerca de 100 agentes do FBI trabalham em tempo integral nos casos de exploração infantil, e o orçamento do Imagens Inocentes paga os salários de cerca de 50 oficiais das agências da lei locais, diz ela.
Isso inclui o salário de Mannering por seu trabalho na Força-tarefa Regional de Crimes de Alta Tecnologia, uma das três agências na Califórnia que investigam crimes envolvendo crianças com o uso da Intertet.
As forças-tarefas comuns consistem em agências locais, estaduais e federais que são financiadas com recursos dessas três fontes e doações.
Os oficiais da força-tarefa entram em salas de bate-papo frequentadas por crianças, procuram por pornografia infantil na web e respondem a reclamações dos pais.
Mas contatos como esses, dia a dia podem afetar os policiais, diz o capitão de polícia de Sacramento, Jan Hoganson.
"Trata-se de um lado inacreditavelmente escuro da nossa sociedade. Muitas pessoas podem lidar com o fato de se relacionar com pessoas que roubam bancos ou furtam pertences de outras", diz Aden. "Mas para a maioria das pessoas, a hipótese de procurar e manipular crianças para situações envolvendo sexo está além do que elas podem suportar".
Os agentes passam por testes psicológicos quando iniciam qualquer missão que envolve crimes contra crianças e são avaliados a cada seis meses para determinar se o trabalho os está afetando, explica Aden, que supervisiona o time da força-tarefa conjunta que cobre sete cidades no sul da Califórnia.
Mannering e Aden disseram que podem revelar detalhes sobre como o FBI faz suas investigações. Mas Aden explica: "Nós damos bastante tempo para ter certeza de que nós não somos os instigadores, de que o alvo do indivíduo somos nós e que é clara a intenção dele ou dela de buscar crianças para sexo".
Aos suspeitos é dada todas as oportunidade de voltar atrás, mas poucos aproveitam a chance, diz ele. "Infelizmente, estas pessoas são tão obcecadas, a ponto de saberem que isso pode ser um truque dos oficiais da lei, mas mesmo assim continuam", diz Aden.
As forças-tarefa da Internet não são uma ameaça à privacidade na rede na medida em que enfocam suas operações secretas on-line como fariam qualquer investigação "off-line", disse James X. Dempsey, o mais antigo conselheiro do Centro para Democracia e Tecnologia em Washington.
"O que você diz numa sala de bate-papo não é privado, e por isso não é protegido por lei. É como estar num bar ou outro lugar público onde você encontra estranhos, disse Dempsey.
O homem detido em agosto, no caso de Mannering, o executivo de computadores do Vale do Silício William Michael Bowles, está cumprindo uma pena de seis meses de cadeia depois de ter confessado sua culpa por tentar um ato libertino com uma criança e pela posse de pornografia infantil.