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Polícia diz que travesti morreu em motel de Londrina depois de discutir com suposto cliente

ATUALIZAÇÃO
12 de novembro de 2020

Rafael Machado - Grupo Folha
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A Delegacia de Homicídios está convicta de que a travesti Sandra Beatriz Rangel, 23 anos, foi morta depois de uma discussão com o rapaz apontado como autor do homicídio. O caso aconteceu na noite do dia 25 de setembro deste ano em um motel da Avenida Brasília, trecho urbano da BR-369, na saída de Londrina para Ibiporã. A vítima foi baleada com um único tiro na cabeça na garagem de um dos quartos. 

 

O inquérito foi concluído nesta quarta-feira (11) e será encaminhado para o Ministério Público oferecer ou não a denúncia. Segundo a Polícia Civil, após atirar, o suspeito pegou seu carro, deu ré e atropelou Sandra. Como não teve sucesso na fuga, desceu do veículo e pulou o muro. Dias depois, ele se entregou e alegou legítima defesa durante interrogatório, mas a versão não condiz com o que foi levantado pelos investigadores. 

"Ele alegou que estava na rodoviária aguardando a chegada do pai. Em certo momento, optou em dar uma volta, saiu de carro do estacionamento e garantiu que foi abordado por dois criminosos no semáforo da Avenida Leste Oeste com a Jorge Casoni. Um deles estaria armado com uma faca e obrigou o motorista a dirigir sem rumo. Então, depois de rodar um pouco pela cidade, foram para o motel, onde aguardariam a chegada de uma terceira pessoa, no caso a Sandra. Segundo o que foi dito pelo suspeito, ela levaria uma máquina para fazer saques com o cartão dele. O rapaz disse que digitou a senha três vezes, mas não deu certo. Os assaltantes teriam se irritado e decidiram matá-lo. Nesse instante, ele diz que pegou um revólver calibre 38 embaixo do banco do automóvel e disparou contra os bandidos. Foi quando acertou a Sandra na cabeça", explicou o delegado João Reis, responsável pela investigação. 

Policiais civis refizeram o trajeto e constataram que não foi bem isso que aconteceu. Para Reis, a história de que houve um assalto é fantasiosa. "As câmeras de segurança do motel não mostram a chegada dos dois ladrões, mas apenas da Sandra. Em depoimento, o porteiro relatou que o suspeito informou que queria um quarto, onde ficaria por pouco tempo. Ele teria dito que estava esperando uma acompanhante, no caso a vítima. Concluímos que os dois tinham acertado um programa sexual, mas ocorreu um desacordo na garagem quando a Sandra chegou", argumentou. 

O delegado informou que a travesti tentou extorquir o suposto cliente. "A Sandra, que já tem passagens por ameaça de extorsão em Umuarama e Maringá, tinha uma máquina de cartão e passou uma fita isolante no visor. Acreditamos que a discussão tenha começado aí. O rapaz digitava, mas não conseguia ver os números. Foi então que ele atirou e tentou escapar na sequência, mas isso nem de longe é motivo para uma morte dessa. Depois que pulou o muro, ele solicitou uma corrida por um aplicativo. Ao motorista, passou uma versão diferente da do assalto, que ele mesmo assegurou aqui na delegacia. Esse condutor foi ouvido e confirmou o que foi dito durante a viagem", ponderou. 

A polícia não descobriu se o eventual programa entre a travesti e o jovem teria sido acordado há muito tempo. "O celular dela desapareceu, o que poderia nos ajudar a verificar as conversas entre os dois. Acreditamos que ele pegou o aparelho para alterar a cena do crime e impedir que a investigação avançasse", completou João Reis. O suspeito foi indiciado por homicídio, fraude processual porque teria ficado com o celular e posse irregular de arma de fogo. A reportagem entrou em contato com a defesa e aguarda manifestação. O suspeito responde em liberdade.

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