Sebastião Moreira/Agência Estado
(Não é permitida a reprodução total ou parcial desta foto dentro ou fora do Brasil)IndignaçãoO empresário Masataka Ota, pai do garoto Yves, sequestrado e morto por policiais, chora sobre o caixão do filho Terminou de forma trágica o drama da família Ota. Depois de dez dias desde que fora sequestrado, o menino Yves Yoshiaki Ota, de 8 anos, foi encontrado anteontem à noite enterrado debaixo de um berço em uma casa na zona leste. Durante todo esse tempo e já com a criança morta com dois tiros no rosto, os sequestradores - dois policiais militares e um vigia - mantiveram vivas as esperanças dos pais e negociaram o valor de um resgate.
Um dos policiais militares, Paulo de Tarso Dantas, de 34 anos, trabalhava como segurança particular de uma das empresas do pai de Yves, o comerciante Masataka Ota, de 41 anos. Ele é considerado pela polícia como o mentor do crime, pois conhecia bem os hábitos da família. Chegou a prestar solidariedade ao pai, após ter levado o menino.
‘‘Perdi a confiança na PM, a polícia tem que ser uma só’’, afirmou ontem o pai, durante o velório do seu filho. Masataka Ota estava muito chocado e revoltado com a morte do filho. Ele deu entrevista coletiva, em sua casa, durante a madrugada de ontem. ‘‘Em quem vamos confiar? A polícia sequestrou e matou meu filho. Ele foi morto injustamente, sem poder se defender.
O empresário quer que os PMs sejam julgados pela Justiça comum, ao invés da militar, como é de costume. ‘‘Acho que a lei está do lado deles, por isso eles estão abusando. Durante o sequestro, eles até vinham fazer ronda.
Como são PMs, os supostos sequestradores ficaram isolados. ‘‘Eles não deixaram nem tocar neles para que dissessem onde estava meu filho. Ficaram três dias protegidos pela PM. Só porque estão de farda, não podem fazer isso. Justiça para eles, e pena de morte’’, desabafou Masataka.
O corpo de Yves foi enterrado na casa do vigia Silvio da Costa Batista, na Rua Serra de Santa Marta, 12A, na Vila Carmosina, zona leste. A casa fica a 400 metros de um dos depósitos de materiais do comerciante Masataka Ota. Foi Batista quem sequestrou o garoto na tarde do dia 29 de agosto, levando um buquê de flores e uma caixa de bombom para a sobrinha do comerciante.
O crime foi premeditado e bem planejado. Alguns dias antes, outros buquês e caixa de bombons haviam sido entregues. Na ocasião, porém, eles não conseguiram levar o garoto, porque os presentes puderam ser apanhados pela empregada sem abrir o portão.
Na segunda tentativa, no dia 29, levaram caixas maiores. Nesse dia, o vigia Batista conseguiu dominar a empregada, que estava na casa com o menino Yves e um primo dele. Segundo os parentes, o vigia foi logo perguntando quem era o filho do comerciante. Batista tinha cobertura do policial Dantas, que lhe emprestou uma pistola 380 milímetros. Vizinhos notaram que algo estranho tinha acontecido quando perceberam o portão do sobrado aberto e o cachorro solto na rua.
Na manhã do dia seguinte, um sábado, os sequestradores fizeram um primeiro contato com o pai de Yves. Pediram R$ 800 mil. Na segunda-feira, o telefone da casa foi grampeado pela polícia. Nesse dia, o policial Dantas chegou a passar na frente da casa fardado. Mostrou-se solidário com a família. Ele trabalhava havia seis anos como segurança de um dos pontos comerciais de Ota, todos na zona leste e Grande São Paulo.
Houve duas outras negociações, e os valores do resgate foram diminuídos: R$ 150 mil e depois R$ 80 mil. O pai chegou a pedir uma prova de que Yves estaria vivo. Os sequestradores só informaram a idade do garoto e a sua data de nascimento. Segundo o delegado titular da Deas, Maurício Guimarães Soares, é provável que Yves já tenha sido morto no próprio dia que foi levado ou no dia seguinte.
Na quinta-feira, investigadores da Deas viram o policial Dantas em frente à porta da casa da avó de Yves, que mora a poucos metros da família Ota. O pai do comerciante confirmou que conhecia o militar. No dia 6, os policiais civis chegaram até o vigia Batista, que confessou o sequestro e informou que os policiais Dantas e Serio Eduardo Pereira de Souza também teriam participado do crime. Batista foi preso no Depatri.
Os dois policiais negaram a autoria, mas foram presos em flagrante e levados ao Presídio Romão Gomes, exclusivo para policiais militares. Anteontem à noite, chegaram até a casa de Batista, onde o menino Yves tinha sido enterrado com cal embaixo do berço da filha de dois anos e meio do vigia. A mulher e a filha do vigia não estavam na casa. Ela está sendo investigada por policiais da Deas.
O menino Yves estudava a 2ª série na Escola Santa Isabel, na zona leste. Segundo sua única irmã, Vanessa Junko Ota, de 11 anos, Yves não costumava sair muito para a rua.
De acordo com os parentes, o comerciante tem vários imóveis que são ocupados por funcionários. Ele, a mulher e os filhos iriam se mudar para um apartamento, mas acabaram adiando a mudança. Cerca de 40 dias antes, o comerciante já havia sido assaltado por integrantes do grupo que levaram o menino Yves na porta de sua casa. Levaram R$ 4 mil. Os policiais militares e o vigia serão indiciados por crime de extorsão mediante sequestro seguido de morte. A pena deve ser superior a 30 anos.