Ribeirão Preto - Um homem de 26 anos põe as mãos na cabeça e não apresenta resistência ao ser abordado por dois policiais militares em Ourinhos, no interior paulista, mas, mesmo assim, é baleado duas vezes, uma delas quando já estava caído ao chão, e morre.

O crime ocorreu na última segunda-feira (20), na Vila Operária, às 18h37, conforme mostra uma câmera de segurança. As imagens foram prova fundamental para contrapor a alegação dos policiais de que agiram em legítima defesa ao reagir a uma ação de Murilo Henrique Junqueira.

A vítima era um foragido da Justiça por tentativa de homicídio. Quando abordado próximo a uma casa pelo subtenente Alexandre Davi Zanete, 49, e pelo cabo João Paulo Herrera de Campos, 37, Junqueira põe as mãos na cintura e, em seguida, as leva à cabeça e se aproxima dos PMs. Nesse momento, é atingido pelo primeiro tiro.

Dois segundos depois, já no chão, é baleado mais uma vez. Um intervalo de 18 segundos se passa até que outro tiro é disparado, desta vez para o alto.

Ao apresentarem a ocorrência ao plantão policial, os PMs disseram ter agido em legítima defesa.

Comunicado sobre o caso, o delegado José Henrique Ribeiro Junior, da DIG (Delegacia de Investigações Gerais), foi ao local inicialmente para ouvir a versão dos policiais e registrar a ocorrência. Não havia indício de que a versão não fosse verdadeira, até a descoberta das imagens.

"Pedimos um mandado judicial e fomos até a casa com um técnico da área. Encontramos o gravador e, com surpresa, vimos nas imagens que a versão apresentada pelos policiais não era real, não coincidia com as imagens que a gente estava vendo", disse o delegado.

Um inquérito foi instaurado em sequência, com pedido de prisão temporária de Zanete e Campos, que foi autorizada no dia seguinte.

Avisada do ocorrido, a PM local cumpriu os mandados e levou os policiais para serem apresentados. Na última quarta-feira (22), foram encaminhados ao presídio militar Romão Gomes, na capital.

"Esperava que as imagens confirmassem a versão apresentada por eles, foi com surpresa que a gente viu [que não]", disse o delegado.

O inquérito está em andamento e, segundo Ribeiro Junior, além das imagens também já houve a confirmação de testemunhas.

A Polícia Militar informou que o comando local da corporação começou a investigação sobre o crime imediatamente e que, com base nas provas colhidas, como o vídeo, pediu a prisão preventiva dos dois policiais envolvidos.

"Dada a gravidade das imagens expostas e conduta inaceitável de quem tem o dever de zelar pela legalidade e proteção das pessoas, a Polícia Militar, compromissada com defesa da vida, continuará apurando com o rigor necessário e informará à sociedade de todos os atos de investigação decorrentes", diz comunicado da PM paulista.

A reportagem não obteve contato com a defesa dos dois policiais.