A Delegacia de Homicídios não indiciou nenhum policial militar pela morte de Cristiano da Silva Rodrigues de Jesus, 20 anos, registrada durante um confronto na Rua Camile Flamarion, no Jardim Califórnia, zona leste de Londrina, no final da manhã de 11 de abril. O delegado João Reis entendeu que os PMs agiram em legítima defesa. O inquérito foi encerrado em junho e encaminhado para o Ministério Público. O caso gerou revolta entre os moradores, que organizaram três protestos consecutivos no bairro.

Imagem ilustrativa da imagem PMs agiram em legítima defesa em confronto que gerou protestos, conclui delegado
| Foto: Arquivo FOLHA

A polícia diz que foi até o Califórnia verificar uma denúncia de tráfico de drogas. Cristiano estava com dois amigos e, segundo o relatório de investigação, correu quando os agentes tentaram abordá-lo. Na fuga, teria entrado em uma residência, onde buscou abrir a porta, que estava trancada. O rapaz teria sacado uma arma e atirado contra os PMs, que revidaram. Segundo o laudo de necropsia do Instituto Médico Legal, ele foi atingido por cinco disparos, que se concentraram no tórax e abdômen.

Os policiais refizeram o caminho da perseguição e encontraram 52 porções de cocaína que teriam sido jogados por Cristiano. O boletim de ocorrência do confronto descreve que a população "invadiu a área de isolamento, arremessando pedras e xingando a corporação". Para dispersar os manifestantes, a PM usou "munições de impacto controlado". O jovem vestia camiseta, shorts e usava tornozeleira eletrônica.

Depoimentos

Em pouco mais de dois meses, a Polícia Civil ouviu seis testemunhas. Os donos da casa em que Cristiano foi morto relataram que escutaram o barulho dos tiros, mas não viram como tudo teria acontecido. Os pais garantiram que o filho não estava armado. Foi a mesma versão dada por um dos colegas que estavam com o jovem e presenciaram a tentativa de abordagem da PM. No entanto, ele não soube precisar se o amigo saiu antes da viatura chegar.

Os quatro policiais militares que atenderam a ocorrência não prestaram depoimento. Isso deveria ocorrer em 26 de abril, mas o comandante do 5º Batalhão, tenente-coronel Nelson Villa, enviou um ofício três dias antes à Delegacia de Homicídios informando que os agentes não possuíam advogados, o que prejudicou a apresentação.

De acordo com o documento, a decisão foi tomada em atendimento ao artigo 16 do Código de Processo Penal Militar, que prevê a nomeação de defensores para os servidores "envolvidos em procedimentos apuratórios sobre crimes dolosos contra a vida no exercício da função".

No ofício, Villa disse que consultou a Corregedoria Geral da Polícia Militar "para que a mesma possa transcorrer informações de como deverá se proceder o cumprimento da referida lei". O delegado João Reis, que não quis dar entrevista à FOLHA, encerrou o inquérito mesmo assim.

Críticas

Sem querer se identificar por medo de represálias, o pai de Cristiano afirma que o filho não portava nenhuma arma. "Ele não tinha boca para nada, era indefeso. Eu já esperava que ninguém fosse indiciado. Sabia que não ia dar em nada. Pra fazer o que fizeram, não tenho dúvidas de que foi uma execução", argumentou.

Em 2019, Cristiano foi preso depois de roubar o Iphone e um relógio de pulso de um homem na Rua da Canoagem, perto da barragem do Lago Igapó. Foi condenado a mais de cinco anos em regime semiaberto e passou a usar tornozeleira eletrônica. Durante o processo, confessou o crime, praticado junto com um comparsa.