A Polícia Militar deflagrou no começo da manhã desta terça-feira (30) a reintegração de posse em uma fazenda ocupada desde 2015 por famílias do MST (Movimento Sem Terra) no distrito de Lerroville, zona rural de Londrina. A área tem 86 alqueires, segundo os ocupantes, e pertence a parentes do ex-deputado federal José Janene, morto em 2010.

Segundo uma das coordenadoras do Acampamento “Quilombo de Palmares”, Ângela Pasqual, cerca de 300 famílias ocuparam a propriedade há quatro anos, mas, 159 ainda estavam no local. A Polícia Militar, entretanto, afirmou ao deputado Arilson Chioratto (PT), que esteve na desocupação, que os ocupantes se revezavam no acampamento e, pela manhã, quando chegaram cerca de 90, entre homens, mulheres e crianças, estavam em seus barracos.

Ângela e José Damasceno, outro coordenador do MST na região, argumentaram que têm os manifestantes teriam direito ao espaço porque este teria sido adquirido por Janene com verbas públicas oriundas do Mensalão.

Damasceno afirma que os ocupantes da fazenda em Lerroville são oriundas de outra propriedade, a Fazenda Figueira, doada pelo barão do café Alexandre Von Pritzelwitz, em 1995, para a Fundação de Estudos Agrários Luíz de Queiroz (FEALQ).

À época, afirma o coordenador do movimento, foi firmado um acordo entre o ex-prefeito Alexandre Kireeff, o Ministério Público e o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para acomodar 1,2 mil, mas a conversa não prosperou. Enquanto isso, quem foi obrigado a sair de casa ficará temporariamente no Assentamento Eli Vive.

Por causa da operação, a PM proibiu a entrada de professores e de um ônibus que trazia alunos de uma escola da região. Os estudantes não tiveram aulas nesta terça. Segundo o comandante do 5º Batalhão, major Nelson Villa, foram apreendidas duas armas de pressão, uma carabina, uma cartucheira, 17 munições intactas e outras oito deflagradas. Uma pessoa foi presa com oito pássaros silvestres.

TENTANDO GANHAR TEMPO

Além de Chiorato, o deputado estadual Professor Lemos (PT) também veio a Londrina tentar negociar com a PM para que os barracos não fossem derrubados. Antes, tiveram reunião com o Chefe da Casa Civil, Guto Silva, para tentar suspender a reintegração. “Ele alegou que, se não cumprisse a decisão, o Estado teria de arcar com uma multa de R$ 50 mil por dia”, afirma Chiorato.

Ele conta que há um comitê formado por parlamentares e agentes do Executivo para discutir ações de encaminhamento para pessoas em áreas ocupadas no Paraná. “Nossa conversa é para que fosse feita essa previsão antes da desocupação. O que não estamos contentes é com a forma rápida como está sendo executada a retirada das família”, diz.

Na entrada do acampamento, foi estacionada uma pá carregadeira. Segundo Villa, desde o início da reintegração, os barracos começaram a ser desmontados pelos proprietários e levados progressivamente para outros destinos, sob acompanhamento da PM.

Por volta das 16h, poucos militares permaneciam no local, que seria guardado durante a noite para, nesta quarta-feira (31), ser reiniciada. Por outro lado, os que permanecerem intactos, caberá à proprietária tomar as providências e derrubar. “Mas acredito que todos serão desmontados pelos próprios despejados”, afirma o major.

'EU ACREDITAVA NA REFORMA AGRÁRIA'

Morador do Acampamento Quilombo dos Palmares desde julho 2015, Marlo Alves de Lima diz que o ingresso no MST foi “uma forma de conseguir algo, já que emprego não existe”. “E os salários não dão para pagar aluguel, água, luz, manter os filhos na escola”, enumera. Por volta das 11h, quando conversava com a reportagem, já havia retirado os pertences do barraco onde morava com a família de cinco pessoas e auxiliava no desmonte do barraco de outra parente.

No “quarentinha”, como chamam as divisões dentro do acampamento – lotes de 1.600 metros quadrados, ou seja, com laterais de 40 metros -, plantava mandioca, batata doce e milho. “Cada um tem um 'quarentinha' para sua produção e também tem espaço para quem tem animal colocar seu porco, seu gado de leite”, diz. Nascido em Lerroville, complementa a renda com serviços extras.

Soube da desocupação pela manhã, quando chegava de um bisco em guarita, que cumpriu das 18h às 6h. “Agora, não tenho lugar para ir. Eu acreditava na reforma agrária, passei quatro anos achando que ia dar certo, mas não saiu”, lamentou.

Para Lima, a reforma agrária poderia resolver parte dos problemas do Brasil e o MST devia ser visto de outra forma, porque “não tem mais a baderna que era”. A opinião mudou dentro do acampamento. “Aqui tem regras e quem não respeita, é obrigado a sair. Só ficam os que estão interessados na terra”, garante.

(Atualizado às 16h10)