Representantes de professores da rede estadual têm apontado uma insatisfação dos profissionais com as plataformas digitais ofertadas pelo governo do Estado para serem utilizadas em sala de aula. Segundo a APP-Sindicato, que representa a categoria, os educadores são contrários à obrigatoriedade do uso de tecnologias.

Um levantamento feito pelo sindicato aponta que apenas 16,9% dos professores das escolas estaduais paranaenses afirmam que as plataformas tecnológicas utilizadas em sala de aula melhoraram a aprendizagem dos estudantes. Para 40,3% a aprendizagem piorou. Enquanto 42,7% dizem que os resultados não foram positivos nem negativos.

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Em entrevista à FOLHA, a presidente da APP-Sindicato, Walkiria Olegário Mazeto, afirmou que os profissionais não são contrários ao uso de tecnologias, mas sim à maneira como os aplicativos foram inseridos na rede estadual de ensino.

“Vivemos uma era de extremas transformações tecnológicas. Não é possível pensar a atual sociedade sem as atuais ferramentas tecnológicas. Evidente que a escola precisa refletir sobre o uso destas tecnologias. E este é o ponto! Não queremos a tecnologia só pelo seu uso. Há que se refletir sobre os seus usos e a que interesses atende”, considera.

Ainda, conforme Mazeto, faltou diálogo do governo com os professores sobre as plataformas que seriam utilizadas.

“No Paraná as plataformas chegaram às escolas sem um mínimo de reflexão de fundo ou pedagógica entre as pessoas envolvidas - professores e professoras, equipe diretiva e pedagógica, funcionários e funcionárias de escola e os e as estudantes. Além disso, o uso das ferramentas se tornou obrigatório nas escolas, desvalorizando a autonomia dos profissionais envolvidos”, declara à FOLHA.

A presidente da APP-Sindicato também apontou que a obrigatoriedade do uso de tecnologias em sala de aula evidencia a desigualdade de classes, excluindo os alunos que têm menor poder aquisitivo.

“Um estudo de 2021 realizado pelo IBGE, durante a pandemia, indicou que metade dos e das estudantes da rede pública não possuía equipamentos e acesso à internet. Entre as escolas, há uma boa distribuição de rede de acesso com cabeamento e Wi-fi, no entanto as escolas possuem apenas um laboratório com equipamentos com algumas dezenas de máquinas, o que é inviável em uma escola com 500, mil ou mais estudantes”, pontua.

E como fazer a inclusão digital funcionar na escola? Para o especialista em psicopedagogia institucional e educação especial inclusiva Bruno Luís Simão, é preciso responder a seguinte pergunta: o que temos de políticas públicas que garantem o acesso ao mundo tecnológico?

“Quando a gente fala de tecnologia na escola, muita gente acredita que é só instalar um aplicativo e dar para as crianças usarem na escola. Mas é muito além disso. A gente fala também de custos, porque não adianta ter o equipamento e não ter a manutenção. Dentro disso, o que entra no orçamento para dar suporte para essas instituições? [...] Também há a preparação dos profissionais. Muitas vezes temos profissionais que, por não saberem utilizar essas ferramentas, acabam sendo resistentes a essas mudanças, ao uso desse material. Essa resistência pode ser reduzida quando se tem uma formação e preparação de professores para atuar com essa tecnologia”, afirma o professor da Uninter à FOLHA.

Para a presidente da APP-Sindicato, Walkiria Olegário Mazeto, a inclusão digital exige alguns elementos centrais para ter a garantia de que todos possam participar deste mundo.

“Nesse sentido, os governos devem ter políticas para garantir este acesso, principalmente à parcela da população mais pobre. Na sala de aula, deve-se buscar uma reflexão sistemática e adequada ao planejamento de aula de cada profissional. A utilização das ferramentas/plataformas precisa atender a um conjunto de ações pedagógicas planejadas por professores, dentro da autonomia pedagógica que cada profissional tem”, avalia.

Segundo Simão, quando esses pontos são equilibrados, há inúmeros benefícios do emprego da tecnologia na educação.

“Esse uso da tecnologia trouxe para a educação básica, como um todo, muitos benefícios no sentido de dar acesso aos estudantes de forma igualitária, e eu coloco esse igualitária em parênteses porque sabemos que nem todo lugar tem um acesso 100%. Mas aqueles lugares que conseguiram ter acesso à tecnologia, isso deixou a forma de estudar, a forma de aprender, muito além do que se tinha antes. Um exemplo: a professora está dando aula de história e está falando sobre civilizações antigas. Se a gente tinha essa informação apenas numa foto em um livro didático, hoje com acesso à tecnologia conseguimos fazer um passeio 3D dentro de um museu”, afirma.

O QUE DIZ A SEED

Procurada pela FOLHA, a Seed (Secretaria de Estado da Educação) respondeu por meio de nota dizendo que a tecnologia serve de apoio à aprendizagem e não é o principal em sala de aula.

“Na rede estadual de ensino do Paraná, o emprego de recursos tecnológicos serve como metodologia de apoio à aprendizagem, consoante relatório expedido pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), acerca do emprego de ferramentas digitais como suporte ao processo educacional”, ressalta.

Conforme a Seed, atualmente, são oito plataformas de aprendizagem usadas como “metodologia coadjuvante ao principal agente do processo de ensino: o docente”.

“Destaque-se que, somada ao ensino tradicional, a adoção de recursos tecnológicos de aprendizado resultou em significativa contribuição com o aumento dos níveis do desempenho acadêmico dos estudantes da rede estadual de ensino. Há que mencionar também o aumento da pontuação do Paraná no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do Estado, que no último levantamento foi de 4,6, colocando o Estado no primeiro lugar nacional pela avaliação”, destaca.

A Seed informou ainda que todas as escolas foram equipadas para garantir o uso da tecnologia.

“Ressalte-se, por fim, que todas as escolas do Estado possuem conexão de internet com rede Wi-Fi para alunos, professores e funcionários (sendo 80% das escolas atendidas por conexão via fibra óptica e 20% via satélite). Para viabilização das referidas atividades, a Secretaria de Educação do Paraná distribuiu, só no primeiro semestre de 2023, 50 mil desktops, 50 mil tablets e 18 kits de robótica, respeitando política permanente de aquisição e atualização de dispositivos para garantir infraestrutura adequada para todas as escolas, de acordo com os critérios do guia EduTec do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB)”, aponta.