Para Verônica Branco, docente do curso de Pedagogia da UFPR (Universidade Federal do Paraná), os resultados do Pisa são frutos de um amplo “descaso” com a educação brasileira nas últimas décadas e que tiveram início com o descumprimento da progressão da carga horária para a educação básica estabelecida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, e passam pela precariedade na formação inicial e continuada dos professores até o descumprimento da lei que obriga a implantação de bibliotecas no ambiente escolar em até dez anos.

Em entrevista à FOLHA, a doutora em Educação em Tempo Integral e em Alfabetização lembrou que em todos os 20 países mais bem posicionados no ranking do Pisa os alunos permanecem o dia inteiro nas escolas. A LDB estabeleceu no mínimo 800 horas distribuídas em 200 dias letivos de “trabalho escolar efetivo” para a educação básica, com “ampliação do período diário do aluno na escola” nos primeiros cinco anos, o que no Brasil ainda não é colocado em prática, “ao arrepio da legislação”, lembrou.

“Isso dá nos calendários das escolas cinco dias por semana, quatro horas cada dia. Se você considerar que no currículo das nossas crianças têm Educação Física, Artes e Religião, as 20 horas semanais viram 16 para ensinar Língua Portuguesa, História, Matemática, Geografia e Ciências. É muito pouco. Esse é o contrato do professor para ensinar. Eles ainda precisam ler, dialogar mais, fazer experiências. Aulas de uma hora não rendem nada”, lamentou.

A docente também lamentou a deficiência na formação dos professores dos anos iniciais. “O aluno que não apreendeu a ler, interpretar textos e matemática, não avança. Quando consegue ir vai mancando e as outras aprendizagens estão comprometidas”, avaliou.

Por conta disso, Verônica Branco avalia de forma positiva a aprovação no Conselho Nacional de Educação de resolução que define novas diretrizes curriculares para a formação de professores da educação básica e instituiu a nova Base Nacional Comum Curricular para a formação dos alunos. “Isso é uma promessa de formação para os professores que vão ter 800 horas de prática pedagógica, sendo 400 nas escolas. Hoje, em geral, os estudantes aqui na Federal têm 120 horas de estágio”, explicou.

A resolução também determina o aumento da carga horária das disciplinas específicas que atualmente na Universidade Federal do Paraná, por exemplo, é de 30 horas cada. “O que são 30 horas para o professor apreender não a metodologia, mas o conteúdo para ser ensinado? Uma coisa é você falar português e escrever rápido, outra coisa é você entender, que é o problema nosso do Pisa”, avaliou.

A esperança da docente é que a nova BNCC, o primeiro "currículo nacional" da educação brasileira, colabore ao longo dos anos para a diminuição da histórica desigualdade entre as regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. No entanto, avalia que nada acontecerá rapidamente.

Questionada, a especialista afirmou não ser favorável ao método fônico, um dos pilares da Política Nacional de Alfabetização publicada em abril deste ano e amplamente defendido pelo secretário de Alfabetização, o educador londrinense Carlos Nadalim. Procurado, o secretário não quis conversar com a reportagem.