Rio, 16 (AE) - O diretor da Coordenação de Programas de Pós-Gradução em Engenharia (Coppe), o físico Luiz Pinguelli Rosa
contestou hoje a versão oficial do governo de que a queda de um raio na subestação da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), em Bauru, foi a causa do blecaute de quinta-feira passada, que deixou dez Estados e o Distrito Federal sem luz. Segundo o físico, dois motivos o fazem não acreditar nessa versão: o local da queda do raio e o pequeno estrago que ele provocou no equipamento atingido - um pequeno furo na peça superior de um isolador de pedestal de energia, chamado de anel de equalização.
"Uma subestação como essa é muito bem protegida por pára-raios, até por causa da sua importância", afirmou o diretor da Coppe. A unidade da Cesp em Bauru forma um grande entroncamento de linhas de alta-tensão que alimentam as regiões Centro-Sul e Sudeste, pelo qual passam 7 mil megawatts produzidos por seis usinas. "Mesmo que, digamos, a subestação tivesse sido, de fato, atingida por um raio, jamais o dano provocado se resumiria num pequeno curto de um equipamento; pelo contrário, a alta descarga de energia provocada por um raio simplesmente destruiria esse equipamento", ponderou.
Hipótese - Pinguelli Rosa e o presidente da Associação Brasileira de Planejamento Energético, Maurício Tolmasguim, também professor da Coppe, levantam uma outra hipótese para o blecaute. Segundo eles, a mais provável causa do blecaute foi um pulso de tensão que atingiu a subestação por alguma das suas linhas de transmissão. Esse pulso, sim, seria provocado pela queda de um raio. "O raio forma um campo eletromagnético em seu em torno e, caso haja uma torre de transmissão a pelo menos 100 metros de distância, é possível que se crie um pulso de tensão que pode ser propagado pelas linhas", disse.
Segundo Pinguelli, esse fenônemo é muito comum, por isso
em cada torre, são colocados disjuntores que puxam a energia contida no pulso de tensão para a terra, evitando que ele atinja uma subestação, provocando danos maiores, como o blecaute de quinta. "Provavelmente, esses disjuntores não funcionaram", especulou. "Um raio na subestação é um problema maior, mas um pulso não é um problema tão grave assim".
Assim como o governo, Pinguelli Rosa e Tolmasguim lembram que, no dia do apagão, Bauru registrou uma grande quantidade de queda de raios - segundo ele, foram 13 mil. "Se o governo tem essa informação porque ele não divulga os mapas com os locais exatos dos raios que caíram na região para confirmar sua tese?", perguntou. O físico explica que, periodicamente, é feito um monitoramento dos raios com exatidão de até 200 metros de distância do ponto atingido.
A precisão dos mapas sobre raios apontada por Pinguelli não é confirmada pelo chefe do Setor Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Osmar Pinto Júnior. Segundo ele, atualmente, o monitoramento, que é feito em convênio com Furnas e a Central de Energia de Minas Gerais (Cemig), só detecta a localização de 70% dos raios que caem em São Paulo, mesmo assim com uma margem de erro de dois quilômetros de distância. "Por isso não podemos ter certeza exata do local da queda dos raios", disse. Light - Até hoje, as 43 agências da Light espalhadas por todo o Estado do Rio haviam recebido 152 pedidos de formais de ressarcimento de conserto de equipamentos elétricos-eletrônicos, atingidos pelo blecaute de quinta-feira passada. Segundo a empresa, todos os consumidores que tiveram prejuízos com o apagão serão ressarcidos.