Rio de Janeiro - A Polícia Federal deixou em aberto o envolvimento de quatro suspeitos em seu relatório final sobre o homicídio da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.

Os nomes foram citados na delação do ex-PM Ronnie Lessa, mas a polícia considera que não houve elementos de corroboração suficientes para o indiciamento deles.

Entre os suspeitos estão um homem que teria recolhido a arma do crime, de acordo com a colaboração premiada de Lessa, apontado como executor do homicídio, e um suposto infiltrado por Domingos Brazão no PSOL.

A PF realizou a prisão preventiva do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido) e do seu irmão Domingos, conselheiro do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro), sob suspeita de terem encomendado a morte da vereadora. O delegado Rivaldo Barbosa também foi detido por, segundo a polícia, ter auxiliado no planejamento do crime e na obstrução da investigação.

O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, afirmou no domingo (24), dia das prisões, que a corporação encerrou a investigação sobre os mandantes e intermediários envolvidos no crime. "Isso não invalida que eventuais outras ações possam ser adotadas a partir, inclusive, das apreensões e análises do material", afirmou.

No relatório final do caso, a PF reconhece a necessidade de mais investigações em relação a outras pessoas mencionadas por Lessa em sua delação.

"Em que pese a verossimilhança do seu relato e a notoriedade dos vínculos escusos que estes possuem com os autores mediatos, não foi possível, por ora, promover sua corroboração com elementos técnicos, ainda que de natureza indiciária, de modo a frustrar seus respectivos indiciamentos", diz o documento.

Um dos suspeitos citados é o policial militar Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixão, assessor de Domingos Brazão no TCE-RJ.

Segundo Lessa, foi ele quem intermediou o encontro dele e de Edmilson de Oliveira, o Macalé, com os irmãos Brazão no qual a morte da vereadora teria sido encomendada.

Peixão também foi o responsável, de acordo com Lessa, por buscar a submetralhadora usada no crime, junto com Macalé, na favela Rio das Pedras, área de atuação da família Brazão. O assessor do conselheiro também participou, segundo a colaboração, da devolução da arma e do descarte das munições num córrego da comunidade.

O PM foi alvo de busca e apreensão autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). É o único em liberdade entre os quatro suspeitos não indiciados.

As investigações mostram que Peixão mantinha contato com Marcus Vinicius Reis dos Santos, o Fininho, preso em 2019 sob acusação de ser um dos líderes da milícia de Rio das Pedras. A PF aponta Fininho como outro suspeito cujo indiciamento não foi possível por falta de corroboração nos relatos. Há registros no relatório, porém, de ligações dele a pessoas ligadas ao deputado Chiquinho Brazão.

Ele, por sua vez, está vinculado a Laerte Lima, também preso sob acusação de envolvimento com a milícia da favela da zona oeste. O relatório descreve ligações telefônicas entre os dois.

O advogado de Laerte, Renan Dutra, afirma que "a defesa foi surpreendida com sua menção e que os fatos narrados já foram esclarecidos em diversas instâncias investigativas". A defesa de Fininho não foi localizada pela reportagem.

A PF não indiciou Laerte Lima apesar de Lessa atribuir a ele as informações sobre o PSOL e Marielle repassadas à família Brazão. O suspeito se filiou à sigla da vereadora 20 dias após a eleição de 2016, e a suspeita é que ele tenha atuado como um infiltrado no partido. A polícia não descreve se tentou ouvir Laerte.

O relatório também não diz se algum político ou militante do PSOL foi ouvido para descrever a atuação do suspeito dentro do partido. À Folha de S.Paulo o deputado estadual Flávio Serafini (PSOL) disse desconhecer "registro de que ele de fato tenha conseguido se aproximar de Marielle".

O quarto suspeito não indiciado é o ex-PM Ronald Paulo Alves Pereira, conhecido como major Ronald, também preso sob acusação de atuar na milícia de Rio das Pedras.

Segundo Ronnie Lessa, ele teria participado de parte do monitoramento sobre a vereadora dias antes do crime e teria sido o responsável por avisá-lo do evento de Marielle na Casa das Pretas, que antecedeu o assassinato.

O atual advogado de Ronald, Igor Carvalho, disse que o cliente realizava um curso da Polícia Militar e que por isso sua antena estava próxima ao local. A informação foi analisada e confirmada em investigação sobre os executores do crime na Polícia Civil, que chegou a chamar o oficial para prestar depoimento.

Apesar das lacunas, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e Andrei Rodrigues declararam considerar encerradas as investigações sobre as circunstâncias da morte da vereadora. "Esse trabalho ora se encerra, pelo menos neste ponto, até que venham novos elementos. Neste momento temos bem claro os executores deste crime hediondo", disse o ministro.

"A nossa conclusão é essa. Esses são os mandantes do crime. A Polícia Federal encerra essa fase da investigação apontando não só os mandantes, mas também os executores e intermediários que tenham alguma relação com o crime", acrescentou Rodrigues.