Sindicato diz que unidade possui uma planta criogênica capaz de produzir entre 480 mil e 720 mil m³ por dia de oxigênio hospitalar/medicinal
Sindicato diz que unidade possui uma planta criogênica capaz de produzir entre 480 mil e 720 mil m³ por dia de oxigênio hospitalar/medicinal | Foto: iStock

Enquanto funcionários de unidades de saúde do estado já relatam a falta do oxigênio hospitalar para o tratamento de pacientes com o quadro avançado da Covid-19, a disputa de narrativas em torno da possibilidade de produção do gás pela Ansa (Araucária Nitrogenados), antiga Fafen (Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados), em Araucária, Região Metropolitana de Curitiba, vai se tornando mais acirrada. Após a Petrobrás negar que a fábrica pudesse produzir o gás, a FUP (Federação Única dos Petroleiros), disse que a unidade possui uma planta criogênica capaz de produzir entre 480 mil e 720 mil m³ por dia de oxigênio hospitalar/medicinal com 99,8% de pureza.

Sindicato diz que unidade possui uma planta criogênica capaz de produzir entre 480 mil e 720 mil m³ por dia de oxigênio hospitalar/medicinal
Sindicato diz que unidade possui uma planta criogênica capaz de produzir entre 480 mil e 720 mil m³ por dia de oxigênio hospitalar/medicinal | Foto: iStock

Nesta semana, a Sesa (Secretaria de Estado da Saúde) chegou a solicitar que empresários concedam cilindros para a utilização na rede hospitalar. Segundo o secretário de Saúde, Beto Preto, o estado não registra a falta do oxigênio, mas alguma unidades precisam de cilindros para armazenarem o gás. Por conta disso, 200 cilindros foram cedidos pelo governo do Amazonas ao estado.

Subsidiária da Petrobrás até o ano passado, a unidade da Araucária Nitrogenados foi projetada para produzir Amônia e Ureia. No entanto, vinha produzindo também um catalizador chamado ARLA32 (utilizado em veículos a diesel), até ser desativada, em março. Em outubro, a Petrobrás deu início à fase vinculantes do processo de venda de 100% de suas ações da subsidiária.

Em meio à crise sanitária gerada pelo agravamento da pandemia, a polêmica ganhou um novo capítulo após uma solicitação de informações feita pelo MPF/PR (Ministério Público Federal do Paraná) e pelo MPT (Ministério do Trabalho), na semana passada.

No dia seguinte ao pedido, a Petrobrás emitiu um comunicado afirmando que a fábrica nunca produziu oxigênio e nem mesmo possui a estrutura necessária para isso. O comunicado ressaltou que a composição físico-química, a pressão e a temperatura do gás gerado no processo produtivo da Ansa "não guardam relação com as especificidades do oxigênio medicinal", afirmou a Petrobrás.

No entanto, conforme ofício enviado pelo coordenador geral da FUP, Deyvid Souza Bacelar da Silva, "a FAFEN-PR possui uma planta criogênica que produz Oxigênio (O2 ) com pureza de até 99,8% e Nitrogênio Líquido (N2)", afirmou. Para alcançar esse resultado seria necessário "recontratar 250 trabalhadores com experiência e que já trabalharam na operação, manutenção e segurança da unidade divididos em cinco grupos de revezamento (condição normal de trabalho)", explicou.

Em ofício ao MPF e ao MPT, também ressaltou que o tempo necessário para o início da produção dependeria do estado em que a planta se encontra e que algumas adequações seriam necessárias para viabilizar o armazenamento e o carregamento do oxigênio medicinal.

"É necessário de acesso à unidade com um corpo técnico de especialistas para avaliar as condições da planta. Os levantamentos apresentados foram feitos com engenheiros de processos, engenheiros de manutenção e engenheiros de projetos, técnicos e operadores com décadas de trabalho naquela unidade", disse.

Entretanto, de acordo com ele, a FUP e o Sindiquímica-PR (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas do Estado do Paraná) não conseguem acessar a unidade desde fevereiro de 2020.

O comunicado também apontou um descompasso entre a Petrobrás e o Governo Federal nas ações para reduzir a dependência de fertilizantes importados. Isso porque, se por um lado a unidade de Araucária acabou sendo vendida, o Governo Federal instituiu no início deste ano um grupo de trabalho que vai desenvolver a Política Nacional de Fertilizantes. O objetivo do grupo de trabalho é "fortalecer políticas de incremento da competitividade da produção e da distribuição de insumos" visando "ampliar a competitividade do agronegócio brasileiro no mercado internacional", diz o artigo 1º do decreto 10.605/2021.

A unidade de Araucária da antiga Fafen deu início à produção de ureia e amônia em 1982 e chegou a atingir 700 mil e 475 mil toneladas anuais de cada produto, respectivamente. "Tecnicamente a unidade possui uma planta de separação de ar, que, com uma pequena modificação, pode ser convertida para produzir oxigênio hospitalar. Esse é um dos processos que ocorre para a produção da amônia, matéria prima utilizada na fabricação da ureia", explicou a FUP em seu site oficial na semana passada.

Nesta terça-feira, a bancada do Partido dos Trabalhadores na Alep (Assembleia Legislativa do Paraná) também se movimentou e apresentou um pedido ao ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), para a reabertura da fábrica.

A FOLHA entrou em contato com a Sesa (Secretaria de Estado da Saúde), porém não obteve resposta sobre o tema até o fechamento desta edição.

Questionado, o MPF informou que vai aguardar o recebimento de respostas por parte do Governo do Paraná para se manifestar.