São Paulo, 30 (AE) - O secretário da Segurança Pública, Marco Vinicio Petrelluzzi, prometeu hoje realizar uma apuração rápida das acusações feitas à CPI do Narcotráfico pelo informante da polícia de São Paulo que usa o codinome de Laércio da Cunha. Petrelluzzi recusou comparações com a chamada banda podre da polícia do Rio denunciada pelo ex-coordenador de Segurança Luiz Eduardo Soares. E atirou na direção do governador Anthony Garotinho (PDT). "Lá, há uma acusação feita por um dos responsáveis pela política de segurança contra pessoas do porte de um delegado-geral, até mesmo do governador", disse. "Aqui atingiu o mais baixo degrau da polícia."
A Corregedoria da Polícia Civil paulista havia identificado até a tarde de hoje nove policiais denunciados pelo informante de corrupção, extorsão de traficantes e tráfico de drogas. A maioria dos policiais citados por Laércio pertencem ao Departamento de Investigações sobre Crimes contra o Patrimônio (Depatri).
O primeiro a ser identificado foi o delegado operacional da 2.ª Delegacia de Roubo de Cargas, Marcelo Teixeira de Lima. Como o informante citou somente o primeiro nome ou os apelidos dos demais policiais dificultou a identificação de Juvandir, Mucini, Celso, Joacir, Marcão, Valtinho, Manoel, Lucindo, Farofa, Adriano e Daniel. Também foram citados Marquinhos e Mussini como policiais do 63.º Distrito Policial e outro chamado de Jorge PM, que ainda não se sabia se pertencia à Polícia Militar.
Para facilitar o trabalho de identificação dos acusados, o delegado corregedor da Polícia Civil, Ruy Estanislau Silveira Mello, mandou para o Rio de Janeiro, onde a CPI está trabalhando
os delegados Luis Antonio Rezende Rebelo e Laerte Idalino Marzagão. A polícia corre contra o tempo, já que o secretário Petrelluzzi quer que esteja amanhã (31) sobre sua mesa o nome completo de todos os policiais citados.
O secretário prometeu fazer uma apuração rápida das denúncias. Ele disse que pretende ter nos próximos dias uma avaliação se irá afastar ou não os policiais do trabalho. "Não tomarei essa decisão sem saber o teor da denúncia", disse Petrelluzzi, que durante toda a entrevista tentou demonstrar tranquilidade, mas deixou transparecer sua preocupação com uma possível comparação da polícia paulista com a fluminense.
Petrelluzzi começou a se preparar para enfrentar as denúncias na última quarta-feira. Um dia antes, o programa Cidade Alerta, veiculado pela TV Record, já anunciava a "testemunha bomba" que a CPI do Narcotráfico ouviria no Rio e que faria denúncias contra policiais paulistas. Poucas horas antes do depoimento do informante, Petrelluzzi reuniu-se, em seu gabinete, com o delegado-geral da Polícia Civil, Marco Antonio Desgualdo, e o delegado-corregedor para traçar a estratégia de apuração das denúncias.
Na mesma tarde, no prédio do Depatri, o clima era de tensão
segundo informou alguns policiais. Televisores forem ligados para acompanhar o depoimento do informante, que afirma ter trabalhado durante cinco anos com policiais de Depatri , que utilizavam suas informações para prática de corrupção. "Acho que somente os delegados do Garra dormiram em paz", afirmou um policial, que pediu para não ser identificado. Ele referiu-se ao Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra), que pertence ao Depatri, mas foi poupado pela testemunha da CPI. O diretor do Depatri, Godofredo Bittencourt, não quis falar sobre o caso. O delegado não foi localizado na sua delegacia.
Entre os dias 10 e 14 de abril, a CPI do Narcotráfico deve passar por São Paulo, onde ouvirá os 14 policiais denunciados por envolvimento com o tráfico de drogas. Os trabalhos da CPI serão feitos em conjunto com a Comissão da Assembléia Legislativa.