Rio, 07 (AE) - O cenário de recuperação econômica esperado para 2000 pelo sistema financeiro é bem mais modesto do que o traçado pelo Brasil no acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Uma pesquisa do Banco Central junto a instituições financeiras revela que o setor vê com ceticismo a meta de crescimento de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) e superávit de US$ 5 bilhões na balança comercial este ano.
O estudo elaborado pelo BC para ser divulgado ao sistema financeiro, investidores estrangeiros e jornalistas projeta expansão de 3% para o PIB, um saldo positivo de US$ 4,05 bilhões na balança comercial e um déficit de US$ 23 bilhões em conta corrente este ano. "O mercado é sempre mais conservador", afirma o economista-chefe do Banco Chase Manhattan, Luís Fernando Lopes.
O executivo do Banco BNL Claúdio Lellis considera incompatível o governo prever um superávit comercial dessa magnitude e um crescimento de 4% do PIB. "Quando a economia acelera, as importações também aumentam", adverte. "Esse é um fator que limita a expansão da economia." Ele salienta que a taxa de câmbio sozinha não é suficiente para reverter o comportamento da balança comercial.
"A teoria ficou comprovada este ano, quando ocorreu uma maxidesvalorização cambial e as exportações não reagiram." Outro indicador questionado pela pesquisa do Banco Central é o da inflação. O mercado aposta em um Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) na casa dos 7% ao ano, um ponto percentual acima do alvo central da meta prevista pelo governo com o FMI.
Executivos descartam uma queda forte na taxa nos próximos meses e esperam um índice de preço mais elevado para 2000. Mas não acreditam em um descontrole da taxa. "A pressão não vai impedir que o IPCA fique dentro da banda criada pelo governo", previu Lopes.
Entre todos os indicadores, o resultado fiscal é o que atrai mais atenção entre os analistas financeiros. "O governo não pode errar a mão no lado fiscal, principalmente este ano que tem eleições municipais", destacou. "Essa é uma variável fixada com o FMI e que todo mercado está de olho." Segundo o economista-chefe do Chase, a situação fiscal brasileira é melhor em 2000 do que nos últimos anos, sem o impacto de uma mudança no regime cambial.
Já o executivo do BNL revela que as previsões de arrecadação de impostos são muito boas, porém, a possibilidade do governo gastar mais em ano eleitoral é um fator que preocupa. "É ainda mais difícil dizer negar verbas quando se tem dinheiro em caixa", alertou.

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