Peruanos protestam contra nova reeleição de Fujimori
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sexta-feira, 07 de janeiro de 2000
Lima, 06 (AE-AP) - Pelo menos uma pessoa ficou ferida hoje (06), durante o dia nacional de protesto contra a decisão da Justiça peruana de permitir que o presidente do Peru, Alberto Fujimori, concorra a um novo mandato nas eleições de abril. Na cidade amazônica de Iquitos, um manifestante que participava de um bloqueio rodoviário foi ferido a bala num confronto com a polícia.
Momentos de mais tensão eram esperados na capital peruana, Lima, onde os organizadores asseguravam que mais de 100 mil pessoas estariam nas ruas participando de uma marcha contra a candidatura de Fujimori.
O movimento nacional foi convocado por partidos da oposição, associação de estudantes e sindicatos de trabalhadores inconformados com a pretensão de Fujimori de exercer um terceiro mandato. A atual Constituição peruana, de 1993, permite que a mesma pessoa exerça apenas dois mandatos consecutivos. Mas o Tribunal Constitucional - cujos ministros são nomeados por Fujimori - emitiu um parecer técnico no qual considerava legal a postulação dele a um terceiro mandato, entendendo que para o primeiro, iniciado em 1990, Fujimori tinha sido eleito sob as regras da Carta anterior.
Logo após a publicação da decisão do tribunal, Fujimori inscreveu-se como candidato na Junta Nacional de Eleições (JNE), cujos membros também são escolhidos pelo presidente da república. A JNE recebeu 18 pedidos para que impugnasse a chapa de Fujimori, mas o organismo indeferiu todos eles no domingo.
De acordo com pesquisas realizadas em dezembro, Fujimori é o favorito para as eleições, com 30% das intenções de voto. É seguido pelo ex-chefe do Instituto de Previdência Social Luis Castañeda, com 18%, e pelo prefeito de Lima, Alberto Andrade, com 13%. Negociações entre os líderes oposicionistas para apresentar uma chapa unificada para barrar nas urnas a pretensão de Fujimori fracassaram nos últimos dias.
Aos 61 anos, Fujimori justifica sua candidatura argumentando que o processo de reformas iniciado por ele tem de continuar e não poderia ser ameaçado por "experiências políticas irresponsáveis, já testadas anteriormente".
Eleito pela primeira vez em 1990, Fujimori fechou o Congresso e o Judiciário no "autogolpe" de 1992, assumindo poderes que lhe permitiram controlar uma hiperinflação de mais de 7.000% ao ano e neutralizar os grupos subversivos Sendero Luminoso e Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA), que mergulharam o Peru numa onda de violência nos anos 80. Entre os principais triunfos de seu governo está a prisão do líder senderista Abimael Guzmán. Com a popularidade conquistada graças a esses fatos, reelegeu-se facilmente em 1995.
