SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Se as máscaras de proteção funcionam, por que é necessário fechar o comércio? Se não funcionam, por que somos obrigados a usá-las? Nas redes sociais, questões assim circularam em páginas de Guaianases e Cidade Tiradentes, bairros da zona leste, na periferia da capital paulista.

Questionamentos do tipo têm sido comuns nas periferias da capital desde que começou a obrigatoriedade do uso da proteção nas ruas de São Paulo, determinado em decreto pelo governador João Doria (PSDB), em 7 de maio.

A medida vale em espaços públicos, inclusive nos transportes por aplicativos, por tempo indeterminado.

Em parte, alguns indagam sobre a eficácia na proteção. Mas a novidade também tem servido para quem questiona o fechamento de comércios.

Morador do Grajaú, na zona sul, Thiago Heleno da Cruz, 42, não vê a necessidade de fechar os comércios se 'está todo mundo mascarado'. Para ele, a proteção da máscara permite a circulação de pessoas. "Porque manter os comércios fechados, se trens e metrôs estão extremamente lotados?"

Especialistas apontam a proteção contribui para diminuir o contágio, mas não evita plenamente a propagação da doença. É o mecanismo para quem não tiver opção e precisa sair de casa.

"Ajuda a conter a disseminação do vírus por pessoas assintomáticas, pois o corona é transmitido por gotículas no espirro ou na fala. Apesar de não filtrar o ar, podem servir de barreira", diz o infectologista Alexandre Piva Sobrinho, 63, membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

O item também pode impedir que pessoas levem as mãos ao rosto e ter contato com nariz, boca ou olhos. O infectologista também aponta a questão psicológica, que é lembrar as pessoas dos cuidados em tempos de pandemia.

Para a médica Maria Aparecida de Assis Patroclo, 67, mestre em epidemiologia e doutora em Ciências da Saúde, ainda faltam estudos sobre como proteger melhor as pessoas, mas as máscaras são barreiras contra gotículas nas quais o vírus está presente. "Com certeza elas protegem contra a infecção pela via respiratória", defende.

Na zona leste, Antônio Sérgio Lima, 48, se tornou um dos mobilizadores da causa no Jardim Helian, em Itaquera. Ele diz que usa máscara desde que foram anunciadas as primeiras recomendações. "Usando certinho a chance é bem pequena de contágio", comenta.

Nas ruas do bairro, ele comenta que o uso do produto aumentou. Por outro lado, diz que há quem resista adotar a medida, além de outros que usam errado. "Vi um morador com a máscara no queixo e outros com o nariz descoberto."

O infectologista Alexandre Piva Sobrinho diz que deixar a máscara frouxa e manuseá-la pela frente são erros comuns da população. Ele orienta que o tecido deve ficar encostado no rosto, a modo de cobrir rosto e boca e manusear pelos elásticos, sempre com as mãos higienizadas.

Entre as recomendações, também não tocar, não deixá-la no queixo e trocar assim que ficar úmida ou suja.

"Achar que a máscara protege totalmente é um erro. Ela serve como uma proteção leve, mas que, associada à limpeza das mãos, eleva a eficácia".

Outro desafio nas periferias é garantir máscara para todos. Lima participa de algumas mobilizações no Jardim Helian nesse sentido. Desde o dia 6 de abril, agentes de saúde e moradores da região tem distribuído a proteção para moradores, graças a uma articulação com costureiras do bairro.

Além disso, uma empresa de brindes na região doou mil máscaras para a comunidade. "Aqui, qualquer morador pode retirar gratuitamente a sua, sujeito ao término do estoque."

Do outro lado da cidade, o educador social Weslley Silva, 23, morador do Grajaú, zona sul, comenta que o uso das máscaras está sendo obedecido pela população, mas diz que o esforço agora é a adesão das crianças e adolescentes.

Para contornar a situação, alguns coletivos artísticos e movimentos sociais trabalham com itens estampados com referências à ostentação, ao personagem Coringa, super-heróis, além dos escudos de time. Ainda na região, a Ocupação Jardim da União têm se mobilizado em distribuir alimentos e máscaras aos mais pobres.