SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Zé Roberto tinha feito 41 anos em 9 de março.

Pedreiro, ele trabalhava de maneira informal, como a enorme maioria em sua profissão. Passou anos em grandes obras, mas nos últimos dois anos, segundo sua esposa Maria, fazia pequenas reformas. Nas últimas semanas estava em casa, por conta da pandemia de coronavírus.

Natural da Bahia, José Roberto dos Santos veio para São Paulo há pouco menos de 20 anos e ajudou a construir a casa de dois quartos onde morava não só com a companheira, mas com as três filhas (de 18, 17 e 9 anos) e um casal de netos (de 2 e 4 anos).

Estava, agora, reformando o local, colocando gesso no teto da sala, porcelanato no piso, mármore na pia. A família também tinha contratado um ajudante para fazer móveis novos. O processo parou pela metade.

"De onde ele estiver, vai ver que estou fazendo tudo, vou deixar a casa maravilhosa", diz Maria, sobre a primeira coisa que vai fazer quando passar a pandemia.

Zé estava em casa, saindo muito pouco. Maria o levou ao hospital pela primeira vez no dia 18 de março, um sábado. Recebeu medicamento para asma e voltou. Na noite do dia seguinte, retornaram, porque ele quase não conseguia respirar.

Ela voltou para casa para cuidar das filhas. No dia seguinte, de manhã, o marido ligou, avisando que seria internado, e ela nunca mais o viu.

Com coronavírus, na quarta foi transferido do hospital do Campo Limpo para a unidade do M'Boi Mirim. Uma semana depois, na terça, dia 28, os médicos informaram que ele não havia resistido. Zé não fumava, mas tinha hipertensão.

Palmeirense apaixonado, gostava sobretudo de assistir futebol, novelas e noticiários na televisão.

Também costumava ir a bares na comunidade onde morava para encontrar os amigos que trouxe da Bahia.

Um deles era Zelito, corintiano que o conheceu criança em Ibirataia, sul do estado nordestino, mas que não pode ir ao velório, em respeito às normas de isolamento social impostas no estado de São Paulo, pela pandemia do coronavírus.

O amigo conta que seus pais tinham fazendas vizinhas e os dois viviam brincando (e a partir de certa idade, também trabalhando), tanto no terreno de uma quanto de outra família. Jogavam bola e ajudavam na roça.

"O que você precisasse, ele nunca dizia não. Nunca pedi uma ajuda e ouvi não. Quando ele não tinha, tentava com outra pessoa para te ajudar. Ele era legal demais", diz.

À Bahia, o pedreiro voltava sempre que podia, para visitar o pai.

Um de seus trabalhos mais recentes foi na escola Arco, em Pinheiros. "Gostaríamos de prestar uma homenagem a ele e a todos os que trabalham na construção civil e que, colocando tijolo por tijolo, nos permitem colocar nossos sonhos em pé", disse a escola em uma publicação no Facebook.

Maria afirma que nenhum dos outros seis moradores da casa apresentou sintomas de coronavírus. Diz também que a comunidade ofereceu apoio, mas que recusou, "deixo para quem precisa mais do que eu".

"Trabalho de doméstica. Não estou indo agora, mas meus patrões estão pagando normalmente. Trabalho há 17 anos no mesmo lugar", completa.

Zé Roberto não é o primeiro trabalhador da construção civil a morrer.

Durante a quarentena, o sindicato do setor, o Sintracon, já chegou a paralisar obras que não estavam testando devidamente os seus trabalhadores.

Atualmente, o IBGE estima que para cada trabalhador com vínculo formal (CLT), existem dois informais, o que faz com que os operários do setor atuem em condições mais precárias em termos de direitos e garantias trabalhistas.

O setor foi enquadrado como essencial no estado de São Paulo e 88% de suas obras foram mantidas durante o isolamento.