A PCPR (Polícia Civil do Estado do Paraná) identificou o homem que enviou, no dia 28 de outubro, uma ameaça de morte aos cinco diretores da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e autoridades do estado do Paraná caso a vacina contra a Covid-19 para crianças de 5 a 11 anos fosse aprovada. A polícia informou a Folha de Londrina que o autor da ameaça foi intimado, compareceu à delegacia e foi ouvido na quinta-feira (4), sendo que relatou estar arrependido de ter feito as ameaças. A reportagem quis obter mais detalhes sobre qual delegado fez a oitiva, em qual delegacia e como foi feita essa identificação, mas recebeu como resposta que isso não seria divulgado para não atrapalhar as investigações.

O Diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, foi uma das pessoas ameçadas.
O Diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, foi uma das pessoas ameçadas. | Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

O homem não foi preso. A Polícia Civil não forneceu mais detalhes da investigação, que segue em curso. Na mensagem encaminhada aos secretários estaduais da Saúde, Beto Preto, e da Educação e do Esporte, Renato Feder; e aos diretores da Anvisa, Antonio Barra Torres (diretor-presidente), Meiruze Sousa Freitas (segunda diretoria), Cristiane Rose Jourdan Gomes (terceira diretoria), Rômison Rodrigues Mota (quarta diretoria) e Alex Machado Campos (quinta diretoria), o homem caracteriza a vacina como “experimental”, o que não é verdade, já que os imunizantes aprovados foram submetidos a testes. Ele classificou o imunizante como "ameaça à saúde e à integridade física" do filho, o que também não é verdadeiro, pois os imunizantes foram amplamente estudados e testados e a aprovação conta com critérios rigorosos, inclusive por agências internacionais.

A mensagem dizia ainda: “Deixando bem claro para os responsáveis, de cima para baixo: quem ameaçar, quem atentar contra a segurança física do meu filho: (sic) será morto. Isto não é uma ameaça. Isto é um estabelecimento. Estou lhes notando por escrito porque não quero reclamações depois”, escreve, no e-mail.

A alusão feita neste trecho foi à suposta obrigatoriedade de vacinação contra a Covid-19 para a efetivação da matrícula escolar no Paraná, o que, pelo menos por enquanto, não ficou estabelecido pela Sesa. O e-mail com a ameaça foi enviado no dia seguinte à farmacêutica Pfizer informar que pedirá a autorização da Anvisa para o uso de suas vacinas em crianças entre 5 e 11 anos. Na semana passada, a FDA (autoridade sanitária dos Estados Unidos) aprovou o uso da vacina do consórcio Pfizer-BioNTech em pessoas com idade entre 5 e 11 anos. Já nesta terça (2), o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, na sigla em inglês) passou a recomendar a aplicação do imunizante em crianças desta faixa etária no país.

As assessorias dos secretários estaduais disseram à Folha na época em que receberam a mensagem que souberam do conteúdo da mensagem por meio da imprensa e que ainda analisam quais seriam as medidas cabíveis. A própria Anvisa acionou a Polícia Federal e o Ministério Público, e remeteu ofícios ao STF (Supremo Tribunal Federal), Ministério da Justiça e aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado relatando o fato.

Embora a ameaça não tenha sido anônima, a agência não tinha certeza se o nome utilizado era o verdadeiro e a Polícia Civil do Paraná não confirmou para a Folha de Londrina se a assinatura da missiva era realmente de quem havia encaminhado a mensagem, já que isso poderia interferir na investigação do caso.

ANVISA

O diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, disse que pediu proteção da Polícia Federal para diretores e para as instalações prediais da agência em Brasília.

O pedido foi feito após os cinco diretores serem ameaçados de morte caso a agência aprove o uso de imunizantes contra a Covid para crianças. Segundo ele, já são três ameaças encaminhadas, sendo que a segunda e a terceira podem ter vindo da mesma fonte.

"Temos também o pedido em relação à diretoria que objetivamente foi ameaçada e estendi também a algumas gerências gerais que atuam diretamente na análise vacinal. Então, esse pedido foi feito, lamento que tenhamos que fazer, porque o combate ao crime da Polícia Federal também é por demais desgastante e exige muito desses valorosos profissionais", disse em entrevista à Globo News.

A superintendência da Polícia Federal em Brasília abriu investigação para apurar as ameaças sofridas pelos diretores.

"Há um clima de insegurança, porque toda essa análise de medicamentos de enfrentamento da pandemia, todas as medidas que envolvem o enfrentamento da pandemia são por demais desgastantes, requerem muita atenção e dedicação", destacou.

A primeira ameaça foi feita por email no dia 28 de outubro e foi encaminhada para os cinco diretores da agência. Além dos diretores, também constam como alvo das citadas ameaças de morte instituições escolares do estado do Paraná.

No dia seguinte, a Anvisa recebeu uma segunda correspondência eletrônica. Desta vez, ele foi anônima com ameaças a servidores, diretores, funcionários terceirizados e seus familiares.

A Anvisa comunicou sobre as ameaças às presidências da República, do Senado, da Câmara e do STF (Supremo Tribunal Federal). Além da PGR (Procuradoria- Geral da República), ministérios da Justiça e da Saúde, Casa Civil, Polícia Federal e secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.

Ainda não há pedidos na Anvisa para que libere a aplicação de doses da vacina contra a Covid-19 em crianças. A Pfizer informou que deve solicitar à agência reguladora a aplicação da vacina ComiRNAty em crianças no mês de novembro.

O Instituto Butantan vai entrar na próxima segunda (8) com um novo pedido na Anvisa para a aprovação do uso da Coronavac em crianças e adolescentes entre 3 e 17 anos.

De acordo com a informação, confirmada pela Folha, o órgão está terminando de reunir os dados solicitados pela agência, que negou o primeiro pedido para a utilização do imunizante contra a Covid-19 nessa faixa etária, feito em 30 de julho. (Com Folhapress)

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