São Paulo, 06 (AE) - Os perueiros mantiveram suas linhas funcionando hoje. Depois de enfrentar dias difíceis, com apreensão de veículos, conflitos com fiscais e acidentes, os motoristas de lotações deram início a uma nova semana trabalhando. Para isso, não faltaram passageiros dispostos a embarcar nas vans.
O atendente Carlos Alberto Medeiros, de 33 anos, dirige lotações nos fins de semana e feriados, para complementar a renda familiar. Hoje começou a trabalhar às 5 horas, no Terminal Tatuapé, na zona leste, e pretendia continuar até a meia-noite. "Todos os perueiros querem se regularizar, mas a Prefeitura trata a gente como bandido", reclama. Ele observa que, após a fiscalização, a procura por clandestinos caiu 30%. "Na semana passada, até a Polícia Militar parou o carro de meu cunhado e mandou revistar todos os passageiros", relata. "É uma pressão psicológica."
Evangélico, o perueiro Murilo, que não quis dar o sobrenome, sempre recorre às orações antes de sair com seu lotação. O ex-bancário foi demitido há oito meses e comprou a van com o dinheiro do fundo de garantia. Ainda tem de pagar dez prestações do consórcio. "Graças a Deus, nunca apreenderam meu carro", afirma Murilo, que sempre carrega a Bíblia no porta-luvas.
Mas o perueiro confessa que já perdeu a fé na Prefeitura. "Estou com vontade de parar de fazer lotação, pois não tenho mais tranquilidade para trabalhar", lamenta. Sua mulher, Virgínia, que cobra as passagens, ainda acredita que Deus pode ajudá-los. "Estou orando para que o Pitta mude de idéia e pare de perseguir os perueiros", afirma. "Ele precisa pensar que esse mundo é passageiro e temos de fazer o bem ao próximo."
Já o perueiro Joaquim de Oliveira, de 50 anos, acha que o problema será resolvido apenas pelo próximo prefeito. "Não acredito que o Pitta vai cadastrar os 4.500 perueiros." E afirma que preferia estar legalizado. "Não é problema pagar imposto." Oliveira conta que seu vizinho é fiscal da SPTrans. "Uma vez, ele me pegou com os passageiros e levou minha perua"
lamenta. Para reaver o veículo, teve de pagar uma multa de R$ 2.730,00. Mesmo com as dificuldades, o perueiro não vê outra alternativa para trabalhar. "Com 50 anos, vou fazer o quê?", indaga. Antigamente, Oliveira era dono de um bar, mas o negócio faliu.
Clarismino Vieira da Silva, de 52 anos, dirige lotações há 22. "Já fazia a linha Parque Dom Pedro II-Vila Matilde quando a Radial Leste não existia e o metrô ainda não tinha sido construído", recorda ele. Orgulhoso por ser um dos primeiros a transportar passageiros até o Estádio do Morumbi, o perueiro lembra que, quando começou, a fiscalização era bem mais rigorosa que hoje. "Os fiscais já chegavam dando tiro", afirma.
Silva já teve a perua apreendida três vezes, mas nada impediu que continuasse a trabalhar. Hoje tem uma frota de 12 vans, todas legalizadas há sete anos. "Mas se não tivesse a linha, seria clandestino", diz.
Táxi - O estoquista Cláudio dos Reis Bispo, de 45 anos, pega lotação todos os dias, do Terminal Tatuapé até a Vila Prudente. "Os motoristas de ônibus costumam não parar no ponto", reclama. "Na quarta-feira, por causa da blitz, não tinha nem ônibus nem perua; peguei um táxi."
"Os perueiros são mais atenciosos com os passageiros do que os motoristas de ônibus", acredita a operadora de telemarketing Rosângela Costa, de 37 anos. "Não pego lotação porque quero, mas por falta de opção; os ônibus têm hora para chegar, mas não para sair", reclama. Rita de Cássia Costa, de 47 anos, mora na Avenida Sapopemba e ficou esperando o ônibus por 50 minutos na manhã de hoje. Sem mais paciência, não teve dúvidas: andou quatro quilômetros até o Shopping Anália Franco e lá pegou um lotação até o Terminal Tatuapé. "Não tinha outra alternativa", diz.