A Polícia Civil do Paraná encerrou os primeiros seis meses de 2020 com uma redução de 25% no desaparecimento de crianças em comparação ao mesmo período do ano passado. Segundo dados obtidos pela FOLHA com o Sicride (Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas), foram 117 registros em 2019 e 87 neste primeiro semestre. Desse total, foram 44 meninas e 43 meninos que desapareceram. O mês com o maior número de ocorrências foi janeiro, com 26. Na região da 10ª Subdivisão Policial de Londrina, foram oito situações.

O Sicride é a delegacia especializada para investigar esses casos. Foi criada em agosto de 1995 por meio de uma portaria da Secretaria Estadual de Segurança Pública para apurar exclusivamente os sumiços de crianças de zero a 12 anos incompletos. Titular do setor há aproximadamente um ano e meio, a delegada Patrícia Paz elencou dois motivos principais para a diminuição nos desaparecimentos. "O Paraná é o único estado brasileiro que tem um local específico para esse tipo de investigação, o que por si só traz estatísticas exitosas. Além disso, a pandemia da Covid-19 contribuiu na redução porque as crianças estão mais em casa", disse.

Imagem ilustrativa da imagem Paraná tem queda em desaparecimentos de crianças no primeiro semestre
| Foto: Reprodução/Polícia Civil do Paraná

Segundo a policial, todas as situações deste ano foram solucionadas. "Elas acontecem por várias razões, às vezes filhos pequenos que se dispersam dos pais principalmente em lugares bem movimentados ou até aqueles que, já um pouco maiores, fogem de casa. Porém, não identificamos nenhum crime, ou seja, alguém que teve a intenção de desaparecer com um menor". O levantamento de 2020 mostra que as crianças de 11 anos foram as que mais desapareceram (26 no total), seguidas das de 10 anos (11 desaparecimentos) e as de nove (9 registros).

'NÃO PRECISA ESPERAR 24 HORAS'

Patrícia Paz esclareceu que a demora em comunicar a polícia pode prejudicar a investigação. "Ficamos em Curitiba, mas atende todas as cidades paranaenses. Quando um boletim de ocorrência de desaparecimento é feito, seja pela Polícia Militar, internet ou presencialmente, o documento é automaticamente enviado para o Sicride. Quanto antes essas informações chegarem ao nosso conhecimento, melhor será. Não há aquela obrigação da pessoa esperar 24 horas para procurar uma delegacia. Constatamos que essa antecedência tem sido decisiva para desvendar os casos", pontuou.

CASOS DA DÉCADA DE 1990

Apesar de resolver 100% das ocorrências, o Sicride acumula inquéritos em aberto, alguns bem emblemáticos, como do garoto Leandro Bossi, que desapareceu em Guaratuba em fevereiro de 1992 e de Guilherme Tiburtius, que não foi mais visto desde junho de 1991 em Curitiba. Ele virou o símbolo de crianças desaparecidas no Paraná na década de 90. Outro que permanece sem solução e recentemente teve novidades foi o da menina Luana Oliveira Lopes, desaparecida há quase 17 anos de Florestópolis (Região Metropolitana de Londrina).

O mistério quase foi resolvido em março, quando uma jovem de 24 anos, dizendo possuir semelhanças físicas com Luana, buscou a família dela na pequena cidade do Norte do Paraná. A garota pode ter sido raptada em 2003 por um caminhoneiro. Mas um exame de DNA frustou as expectativas de todos os envolvidos. O teste deu negativo. Para ajudar no reconhecimento de como estariam atualmente as pessoas desaparecidas, o Sicride dispõe de um programa chamado Progressão de Idade. Um perito designado especialmente para esse serviço pega uma imagem antiga da criança e transforma em um retrato semelhante aos dias atuais.

PAPEL DA FAMÍLIA

De acordo com a psicóloga e psicopedagoga Lívia Fortes, os conflitos familiares têm papel importante nos desaparecimentos. "Na maioria das vezes, a criança é motivo de discussão, ainda mais aquela que está saindo da infância e entrando na pré-adolescência. Ela tem uma descarga hormonal maior, tem um tamanho corporal maior e é imatura. A mãe manda fazer uma coisa, ela não obedece e a confusão acontece. Essas brigas ficaram mais evidentes durante a pandemia, quando todos estão em casa. Acredito que os menores também somem por outras explicações, como os abusos sexuais cometidos por parentes próximos, que registrou um crescimento nos primeiros seis meses deste ano no Brasil", apontou.

A especialista observou ainda como as transformações sociais dos últimos anos afetaram o público infantil. "Dessa ótica, percebemos que as crianças têm menos habilidades para andar na rua ou escapar de uma situação de risco em um supermercado, por exemplo. Apesar de serem mais comunicativas, são mais ingênuas em alguns aspectos. Elas não têm medo de desagradar os pais, o que não ocorria antes. Por isso, o diálogo sempre é essencial", completou.

SERVIÇO:

O Sicride (Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas) fica na avenida Vicente Machado, 2.560, Campina do Siqueira; fone/Fax (41) 3270-3350 / (41) 3224-6822; e-mail [email protected]

A violência contra a criança e o adolescente pode ser denunciada pelos fones:

100 - Denúncia Nacional

156 - SOS Criança

181 - Narcodenúncia