Rápido e prático, o PIX, ferramenta de pagamento desenvolvida pelo Banco Central, virou febre entre os brasileiros. Realidade há menos de um ano, o sistema já teve que passar por mudanças porque também caiu no gosto dos bandidos. A mais recente, instituída no começo de outubro, foi o limite de saques de até mil reais para pessoas físicas entre 20h e 6h. A medida tenta frear o aumento de sequestros-relâmpago em todo o país.

No Paraná a situação não é diferente. Em pouco mais de cinco anos, este tipo de crime caiu no Estado, mas se aperfeiçoou ao longo do tempo. Se antes o criminoso mirava o dinheiro físico para sequestrar uma vítima, hoje utiliza a tecnologia, principalmente o PIX. "Esse já era um efeito esperado. É um fenômeno que acontece no Brasil inteiro. Alguns estados tiveram um crescimento considerável", avalia o delegado Marcelo Magalhães, da Delegacia de Furtos e Roubos de Curitiba.

Imagem ilustrativa da imagem Paraná tem em média quase 10 sequestros-relâmpago por mês
| Foto: iStock

Entre janeiro de 2016 e agosto de 2021, 654 pessoas foram alvo de sequestros-relâmpago no Paraná, a maioria homens. Foram 379 pessoas do sexo masculino e 239 mulheres. Nesse mesmo período, 106 bandidos foram presos por praticarem o delito. O número de prisões vem caindo ao longo dos anos. Se 24 acusados foram detidos em 2016, apenas seis acabaram indo pra cadeia neste ano. Os dados foram obtidos pela FOLHA por meio da Lei de Acesso à Informação com a Sesp (Secretaria Estadual de Segurança Pública).

O delegado explica porque as detenções não seguem o mesmo ritmo das ocorrências. "Não é porque 654 pessoas foram sequestradas que os crimes foram cometidos por 654 suspeitos. Dois criminosos podem praticar vários sequestros. Eles sempre agem em quadrilhas. Em 2019, por exemplo, uma organização que roubava relógios de luxo aqui em Curitiba foi derrubada. Esse tipo de delito não foi mais registrado durante um ano. Se prendemos cinco integrantes de determinação associação criminosa, conseguimos até zerar a ação deles", observa.

A Delegacia de Furtos e Roubos da capital é especializada na investigação de sequestros-relâmpago e tem atribuição de também ajudar em casos no interior. "Todo caso vira prioridade para a polícia porque é extremamente grave. O bandido que atua nesse ramo tende a ser mais experiente, mas também há espaço para aventureiros. São pessoas que se arriscam na criminalidade principalmente pela praticidade do PIX", comenta.

Ranking

O balanço repassado à reportagem mostra a divisão desta modalidade de sequestro nos municípios paranaenses. Entre janeiro de 2016 e agosto deste ano, foram 738 crimes consumados ou tentativas. Curitiba lidera a lista com 275 casos, seguida de Londrina (67), São José dos Pinhais (31), Colombo (28) e Foz do Iguaçu (22).

Visão da Justiça

O sequestro-relâmpago foi incluído no Código Penal em 2009, mas desde então sempre houve muita confusão na aplicação com o delito de roubo. Para evitar dúvidas, uma lei de 2020 classificou o crime como hediondo. "A pena já parte de uma base alta, de seis a 12 anos de prisão. Se ele for cometido por uma ou duas pessoas ou com arma de fogo, são condenações tidas como significativas", esclarece o advogado e professor de Direito Penal da PUC (Pontifícia Universidade Católica) Londrina, Rafael Soares.

Segundo Soares, é comum que os acusados fiquem presos durante o processo por causa da gravidade. "Não podemos cravar uma situação como regra geral. No entanto, é um crime que restringe a liberdade e a condição física da vítima. Por conta disso, o Tribunal de Justiça tem negado muitos pedidos de liberdade.

Dicas

O delegado Marcelo Magalhães ressalta que a atenção é a principal aliada para evitar ser alvo dos sequestradores. "Eles percebem quando as vítimas estão distraídas, olhando no celular. Sempre preferem abordar quem está desatento. Não vou dizer que é errado andar com objetos de valor, mas dependendo do horário, às vezes é melhor não ostentar", completa.

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