Nesta semana, o céu fechado e a grande ocorrência de raios chamaram a atenção dos londrinenses. Dados do Elat (Grupo de Eletricidade Atmosférica), órgão ligado ao Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), apontam que o Paraná registrou 302 mil descargas elétricas em janeiro e 380 mil, em fevereiro.

É um índice expressivo, principalmente ao observar que, em todo o ano passado, 2,5 milhões de raios foram registrados no Paraná; o número quase dobrou em relação a 2021, quando 1,3 milhão de raios foram contabilizados no estado.

Os dados indicam, também em nível nacional, uma elevação na incidência nos últimos anos. Foram 66 milhões de raios a tocar o solo brasileiro em 2021 e 73 milhões, em 2022. Nos dois primeiros meses deste ano, foram 9,4 milhões e 8,9 milhões, respectivamente.

De acordo com o coordenador do Elat, Osmar Pinto Jr., esse fenômeno tem sido cada vez mais frequente, sobretudo nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil.

“A gente atribui parte às condições meteorológicas atuais, mas também às mudanças climáticas que estão em andamento. Tudo indica que as tempestades, devido ao aquecimento do planeta, estão ficando mais intensas. Isso não se apresenta só em termos de raios, mas também de chuvas”, explica Osmar, citando os temporais que atingiram e devastaram o Litoral Norte de São Paulo.

O Elat atua há mais de dez anos no monitoramento de raios no país. Esse trabalho é feito em tempo real e os dados são utilizados tanto para dar suporte à sociedade, em ações de proteção às pessoas ou em melhorias no sistema de proteção às descargas elétricas, mas também em pesquisas científicas.

Osmar explica que o Brasil, por ser um país continental, tem muitas diferenças na ocorrência do fenômeno. Há regiões em que a incidência é de um raio por quilômetro quadrado - um número muito baixo - e outras, como o centro da Floresta Amazônica, em que chega a 30 por quilômetro quadrado.

“Em média, o Brasil tem 70 milhões de raios atingindo o solo, sem falar no número de descargas que acontecem nas nuvens, e aí é muito maior, mas a informação é menos precisa”, afirma o coordenador, pontuando que os números variam anualmente. “Em um ano podem ser 50 milhões, em outro 100 milhões. Varia em função de uma série de fatores, mas principalmente com os fenômenos La Niña e El Ninõ.”

PROTEÇÃO

Em fevereiro, um trabalhador rural morreu após ser atingido por um raio em Ivaté, no Noroeste. Ele trabalhava fazendo plantação de cana. Já em fevereiro, no município de Primeiro de Maio (Região Metropolitana de Londrina), uma casa pegou fogo após ser atingida por um raio.

O coordenador do Elat relata que, anualmente, cerca de 110 mortes por descargas elétricas são registradas no Brasil, e de 300 a 400 pessoas sofrem algum tipo de ferimento. Do total de mortes, 80% acontecem em locais ao ar livre, e 20% em residências.

Para se proteger, há uma série de recomendações a serem seguidas. Caso esteja ao ar livre durante uma tempestade, é preciso buscar abrigo em um carro ou em uma residência. Também é preciso se afastar de objetos metálicos, sair da água e de lugares abertos. Para quem está no campo, caso não seja possível buscar abrigo, é recomendado não ficar perto de cercas de arame farpado, tratores, locais isolados, rios, lagos e objetos como pás e enxadas.

Uma das formas de ficar 100% seguro é entrar em um veículo fechado; dentro de uma casa ainda há riscos, sobretudo ao encostar em objetos ligados à rede elétrica, usar telefones com fio ou um celular carregando na tomada, por exemplo.

O site do Elat (www.inpe.br/elat) traz, além do monitoramento em tempo real, informações relevantes sobre o fenômeno e formas detalhadas de como se proteger.

DANOS

A Copel (Companhia Paranaense de Energia) faz o ressarcimento de eventuais danos a equipamentos que tenham sido causados comprovadamente por alguma perturbação no sistema elétrico ou por falhas nos serviços prestados.

“Ou seja, na ocasião de um raio, a solicitação será acatada apenas se ficar caracterizado que o dano ocorreu na unidade consumidora por meio da rede elétrica da distribuidora”, acrescenta a empresa, através de sua assessoria.

A Copel também pontua que, ainda que o sistema seja “provido de proteções para minimizar surtos de tensão”, é recomendado, durante uma tempestade com muitas descargas elétricas, retirar equipamentos elétricos das tomadas e de outras entradas, como redes de comunicação e antenas externas.

Também é importante observar se o imóvel segue as normas brasileiras para instalações elétricas e prediais, “possuindo dispositivo de proteção contra surtos de tensão, sistema de aterramento eficiente e sistema de proteção contra descargas atmosféricas.”

Na alimentação de equipamentos mais sensíveis, é recomendada a utilização de estabilizadores e nobreaks. O processo para solicitar o ressarcimento de um eventual dano está detalhado no site da empresa (www.copel.com).

FOTOGRAFIA

Se por um lado há quem olhe com temor para um céu carregado, há quem se anime com a possibilidade de uma foto única. Os chamados "lightning hunters”, ou caçadores de raios, em bom português, erguem suas câmeras buscando um registro perfeito.

Um dos adeptos desse estilo de foto é o jornalista Klaus Pettinger, morador de Guarapuava (Centro-Sul). Seu acervo conta com cerca de 50 fotografias de relâmpagos na região do distrito de Entre Rios, a 20 quilômetros da cidade.

“Ser um caçador de raios é ao mesmo tempo um exercício enorme de paciência e também um momento de ousadia e alegria, quando desafiamos o instinto natural de fugir de um dos maiores e mais violentos fenômenos naturais, com o intuito de eternizar o momento único e efêmero de cada raio”, afirma à FOLHA.

Klaus conta que usa a técnica de longa exposição para capturar o relâmpago. A câmera fica sobre o tripé e, com um disparador remoto, ele tira uma foto após um determinado período de tempo.

“Caso um raio risque a escuridão nesse intervalo, a foto está garantida, desde que a câmera não tenha tremido e a imagem esteja com foco correto. Sempre tiro fotos de dentro de um carro fechado, o tripé fica no assento do passageiro, ou de dentro de casa, com a janela fechada. Qualquer outra forma, incluindo a sacada, é extremamente perigosa”, alerta.

Inclusive, o jornalista mantém uma constante preocupação com a segurança. Ele afirma que não se deve fotografar ao ar livre ou em veículos abertos, e é importante manter distância de árvores, postes e outros objetos que possam cair sobre o veículo durante a tempestade.

“Sempre aviso meus familiares onde vou e onde estou. Tirar fotos nas sacadas de prédios ou casas pode parecer atraente, mas é perigoso demais. Qualquer raio sobre a estrutura pode atingir fatalmente o fotógrafo”, acrescenta.