Desde quinta-feira (21), o Paraná reforçou a fiscalização nas divisas com São Paulo, estado que tem mais de 75 mil casos confirmados do novo coronavírus. A medida visa identificar pessoas com sintomas da Covid-19 e assim evitar a circulação viral no lado paranaense. A ação reforçada será realizada até segunda-feira (25), último dia do feriado prolongado de seis dias na capital paulista.

Operação tem caráter preventivo e de orientação, com uma "blitz educativa"
Operação tem caráter preventivo e de orientação, com uma "blitz educativa" | Foto: Gustavo Carneiro

São 11 pontos de fiscalização que ganharam um reforço de 40% no número de agentes, na divisa dos dois estados. O trabalho é coordenado pela Sesp (Secretaria de Estado da Segurança Pública), com o apoio da Secretaria de Saúde, Polícias Rodoviárias Estadual e Federal, além do Exército. A PRE (Polícia Rodoviária Estadual) comanda nove pontos enquanto que a PRF (Polícia Rodoviária Federal) os outros dois.

A operação tem caráter preventivo e de orientação, com uma "blitz educativa", que tem como objetivo de evitar que pessoas com sintomas do coronavírus entrem no Paraná. Quem apresentar sinais da doença não é impedido de ingressar no Estado, mas encaminhado diretamente para um posto médico especializado, permanecendo em isolamento até que o diagnóstico seja concluído.

A FOLHA acompanhou este trabalho no posto da Polícia Rodoviária Estadual próximo à ponte sobre o rio Paranapanema em Sertaneja, a quase 100 quilômetros de Londrina. No local, servidores da Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) também garantem o apoio logístico aos profissionais da saúde.

Há 12 anos nas estradas, o caminhoneiro Adilson Costa, 40, nunca havia sido abordado para receber orientações sobre como se prevenir contra um vírus que pode levar à morte. Com o caminhão carregado de bebidas que trazia de São Paulo, endereçadas a um supermercado de Arapongas, onde mora com a família, o profissional aprovou a ação e demonstrou preocupação com os riscos à saúde trazidos com a Covid-19. “É importante né, dá um medo isso aí”, disse em alusão ao novo coronavírus.

Por lá, desde o início deste trabalho, cinco caminhoneiros relataram terem sentido febre ou outros sintomas da doença. Estes tiveram informações pessoais cadastradas, além do nome da empresa e o telefone, antes de serem encaminhados ao posto da Sesa em Cornélio Procópio. “Também motos, ciclistas, todos que passam por aqui nós orientamos e eu acredito que vai surtir um grande efeito porque alguns não param, mas outros vêm e não sabem nem o que é para fazer e quais os cuidados tomar. Aqui é maioria é de São Paulo e Rio de Janeiro”, explicou a enfermeira Denise Assis, que há um mês e meio vem realizando as abordagens aos motoristas ao lado de duas auxiliares de enfermagem.

De acordo com recomendação da Sesa, as equipes nos postos de fiscalização devem ser formadas por enfermeiros (50%) e técnico de enfermagem ou estudantes (50%) para cada grupo e turno de trabalho. Os profissionais atuam exclusivamente nas ações de saúde, não cabendo a eles barreira física dos veículos nos postos rodoviários.

Entretanto, nem todos demonstram estarem completamente "conscientes" com o fato de que a América do Sul se tornou o novo epicentro da doença no mundo e o Brasil, o País mais afetado, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Conforme informou Denise Assis, o principal desafio tem sido convencer alguns motoristas a adotarem as medidas de segurança com mais seriedade. “Alguns não acreditam. Falam ‘não, isso é coisa de política’, ou não acreditam que isto está acontecendo aqui”, lamentou.

Este não foi o comportamento apresentado pelo casal de namorados Maria Eduarda Caldeira, 21, e Vitor Tomazini, 24, que retornava de Bauru, no interior de São Paulo, para buscar alguns pertences em Londrina. No carro, álcool em gel e luvas. Com as aulas suspensas, os dois decidiram ficar perto da família, mas garantiram que estão tomando todos os cuidados.

CONSCIENTIZAÇÃO

O secretário da Segurança Pública, coronel Rômulo Marinho Soares, ressaltou que 22 policiais rodoviários já atuavam nos 11 postos de fiscalização na divisa com São Paulo desde março. "Houve acréscimo de uma equipe a mais em cada posto para ajudar na fiscalização de ônibus e carros. Precisamos saber as condições de saúde das pessoas que pretendem entrar no Paraná”, afirmou.