Presente em todas as regiões do território paranaense, a Mata Atlântica é um dos biomas com maior biodiversidade de espécies da fauna e da flora. Além do Paraná, ela se estende por outros 16 estados, contornando toda a costa leste do Brasil. Apesar de sua beleza, a Mata Atlântica é vítima da atividade humana, vista principalmente através do desmatamento.

Com 2,3 milhões de hectares de Mata Atlântica, o Paraná concentra hoje apenas 11,8% do bioma originário
Com 2,3 milhões de hectares de Mata Atlântica, o Paraná concentra hoje apenas 11,8% do bioma originário | Foto: Mario Sergio Andrioli/iStock

De acordo com dados disponibilizados nesta quinta-feira (25) pela 18ª edição do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, uma colaboração entre a SOS Mata Atlântica e o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), entre 2021 e 2022, o Paraná foi o terceiro estado que mais desmatou o bioma, com a derrubada de 2.883 hectares.

Neste sábado (27) é celebrado o Dia Nacional da Mata Atlântica, bioma que, segundo o SOS Mata Atlântica, é lar de 70% da população brasileira. Com 2,3 milhões de hectares de Mata Atlântica, o Paraná concentra hoje apenas 11,8% do bioma originário.

O Paraná é responsável por mais de 14% do desmatamento total da Mata Atlântica, que foi de 20.075 hectares.

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Além disso, o Paraná tem quatro municípios entre os 30 que mais tiveram desflorestamento de mata, sendo eles: Reserva do Iguaçu, Nova Laranjeiras, Pinhão e Bocaiúva do Sul.

De acordo com o relatório técnico do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, “mesmo com uma queda em relação ao ano anterior, o valor de desflorestamento acima de 20.000 hectares, considerando apenas os 12,4% de remanescentes maiores, mais bem conservados e com maior biodiversidade, é inaceitável para um bioma fortemente ameaçado”.

Também segundo o documento, a “situação está na contramão de estudos internacionais que apontam a Mata Atlântica como um dos biomas prioritários no mundo para ser restaurado, considerando sua contribuição para a conservação da biodiversidade e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas”.

Aline Canetti, engenheira florestal do Núcleo da Inteligência Geográfica e da Informação do IAT (Instituto Água e Terra), explica que a Mata Atlântica está presente em todo o Paraná, mas os principais remanescentes estão nas regiões sul, sudeste e leste. O Norte do Paraná é a região que concentra a menor parte da mata nativa.

“[O Norte] tem áreas desmatadas há muitos anos por conta da colonização e tem uma presença forte da agropecuária e silvicultura, com a produção de pinus e eucaliptos, então por isso ela já foi mais explorada”, explica.

De acordo com a engenheira ambiental, o desmatamento tem como objetivo final a agropecuária, principalmente em propriedades de pequeno e médio porte. Esse cenário é visto em todos os estados que são abrangidos pelo bioma, já que de acordo com o SOS Mata Atlântica, 73% do desmatamento ocorreu em propriedades particulares, que vão dar lugar às pastagens e culturas agrícolas.

Entretanto, apesar de ainda permanecer no pódio dos estados que mais desmataram o bioma, Canetti explica que o endurecimento da legislação, a conscientização e, em último caso, a punição, fez com que o Paraná tivesse um aumento no tamanho da Mata Atlântica, principalmente em áreas de preservação permanente, como mata ciliares.

A engenheira ambiental não detalhou dados sobre o tamanho desse aumento, mas de acordo com dados de 2015 do SOS Mata Atlântica que falam exclusivamente sobre o Paraná, o estado teve uma regeneração de 75.612 hectares de florestas entre 1985 e 2015.

Segundo ela, desde 2018, o Paraná tem acesso a uma plataforma de monitoramento remoto, que utiliza imagens de satélite para detectar pontos de desmatamento irregulares. “Antes a gente recebia notificações por meio denúncia de vizinhos ou por vistoria em campo, então tinha poucas [notificações] porque era difícil acompanhar o estado todo de uma vez”, explica.

Agora, a engenheira ambiental conta que é possível fazer varreduras diárias no estado. “As imagens são de altíssima qualidade, o que permite que a gente faça a descrição do local e mande para os fiscais de campo. Com essa agilidade, a gente consegue até pegar o desmatamento acontecendo, prevenindo que ele seja maior”, afirma.

Em 2018, quando o sistema de monitoramento por imagens de satélite começou a ser utilizado, foram lavrados 1.168 autos de infração, o que rendeu mais de R$ 19 milhões em multas; quatro anos depois, em 2022, o número de infrações quase triplicou e o valor das multas aplicadas foi quase cinco vezes maior, acumulado mais de R$ 95 milhões.

Canetti destaca que o dinheiro acumulado é investido no Fundo Estadual do Meio Ambiente, que alimenta projetos como o de viveiros ao redor do estado, onde são cultivadas e distribuídas espécies nativas da Mata Atlântica.

Por conta do desmatamento, algumas espécies da flora estão ameaçadas de extinção, como a araucária, a imbuia e a canela. “A derrubada dessas espécies é restritiva e conta como agravante nos autos de infração. Além da flora, a fauna também sofre com o desmatamento, já que interfere nos corredores ecológicos e obriga os animais a ficarem limitados a determinado território.

“Por conta disso, vemos animais invadindo municípios, sem contar os prejuízos durante o desmatamento, principalmente quando há o uso de fogo”, afirma.