O Paraná entrou na corrida para a imunização do coronavírus. Em uma negociação relâmpago, os governos do Estado e da China chegaram a um acordo de uma parceria de cooperação técnica e científica para a testagem e a produção da vacina que está sendo desenvolvida pelo laboratório estatal Sinopharm. As negociações foram iniciadas na sexta-feira (24), com participação da Embaixada Chinesa no Brasil. E nesta segunda-feira (27), o governador Ratinho Junior (PSD) conversou por videoconferência com representantes da empresa para acertar a participação de instituições paranaenses na fase três, quando acontece os testes em humanos.

Ao lado do secretário de Saúde Beto Preto, o governador Ratinho Junior conversa com a comissão chinesa via videoconferência
Ao lado do secretário de Saúde Beto Preto, o governador Ratinho Junior conversa com a comissão chinesa via videoconferência | Foto: Rodrigo Felix Leal/AEN

As fases um e dois ocorreram sem intercorrências e um grupo de 15.000 pessoas participou nos Emirados Árabes Unidos. Segundo a estatal chinesa, as duas primeiras fases de testes, já encerradas, tiverem 100% de positivação e nenhuma reação adversa grave. “Estamos todos muito esperançosos que essa solução para o coronavírus fique pronta o quanto antes. E que o Paraná, em parceria com a China, possa ser protagonista desse processo, se transformando em um hub logístico da vacina na América do Sul”, ressaltou o governador.

Agora, um grupo de trabalho foi formado entre as partes para discutir detalhes técnicos da parceria, como a elaboração do termo científico regulatório e protocolo de validação nos órgãos competentes, como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) por parte da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde). Ainda não há prazos definidos, mas os envolvidos acreditam que, diante da gravidade da pandemia e a agilidade dos prazos, é possível que a vacinação dos voluntários já esteja acontecendo em outubro.

Já a vacina em larga escala, com a possível imunização da população, depende dos resultados do estudo e deve ocorrer somente no segundo semestre do próximo ano. “Na gestão pública, a ideia é colocar o Paraná numa linha científica e tecnológica. Temos um laboratório estadual que deve ser inserido no contexto e temos enorme interesse na transferência de tecnologia. O plano é que tenhamos autonomia de produção e não simplesmente a capacidade de replicação”, explicou Jorge Callado, presidente do Tecpar (Instituto de Tecnologia do Paraná), que faz parte do grupo do governo.

LONDRINA

O histórico de desenvolvimento de vacinas é um empecilho ao prognóstico de conclusão de mais de quase duas centenas de vacinas que estão sendo estudas em todo o mundo. O combate à caxumba teve um desenvolvimento mais rápido, com quatro anos de trabalhos, mas, diante da gravidade da pandemia, os esforços são para que haja um resultado o quanto antes. Segundo explica o diretor-geral da Sesa, Nestor Werner Júnior, se tudo for acertado, os hospitais das universidades estaduais, incluindo o da UEL (Universidade Estadual de Londrina), deverão participar dos trabalhos da pesquisa. “Todas as unidades deverão estar à disposição, assim como não tenho dúvidas que todas irão querer participar de um estudo de desenvolvimento da vacina”, avaliou Werner, que, além de Callado, participa do grupo do governo com o chefe da Casa Civil, Guto Silva, e o superintendente-geral de Ciência Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, Aldo Bona.

Visto a necessidade de vacinar a maior parte da população mundial para evitar a disseminação da Covid-19 pelo planeta, a ideia do desenvolvimento de diferentes soluções facilita não só uma chance de resposta, como também cria uma possibilidade de que haja vários centros de produção. Essa é a aposta do governo do Paraná. A estratégia é que, caso funcione, os laboratórios do Tecpar sejam capazes de produzir as vacinas não só para o Estado, como para o País e toda a América Latina. Com isso, o centro de pesquisa ganharia maior relevância. “Adquirir esse conhecimento coloca o nosso instituto a ombro com os gigantes do Brasil. Simopharm é uma empresa enorme, com faturamento de mais de R$ 300 bilhões e participação da iniciativa privada. Então, é um movimento muito estratégico, que pode significar uma nova era”, conclui Werner.

CHINESES

Segundo os envolvidos, a transação entre o Paraná e os chineses é de interesse mútuo. O relacionamento entre os lados é bastante complexo. A potência oriental é um dos principais consumidores da produção do Estado, em especial a soja, além de ter uma enorme participação no movimento do Porto de Paranaguá. Por parte da vacina, os chineses precisam ampliar a testagem em diferentes partes do mundo, em especial em locais onde os casos estejam com maior crescimento, o que atualmente acontece na Região Sul.

A Sinopharm demonstrou bastante preocupação com o estágio da pandemia no Brasil. Liu Jingzhen, presidente do grupo, disse que a farmacêutica espera finalizar os testes em estágio avançado em humanos em até três meses. “Temos pressa para começar esses testes no Paraná por causa da situação do Brasil. Serão oficinas com o mais alto nível de segurança, total confiança para garantir o fornecimento quando a vacina estiver completamente aprovada”, disse. (Com Agência Estadual de Notícias).