Déficit de médicos, falta de medicamentos básicos, equipamentos com prazo de manutenção vencido, fragilidades no sistema de segurança e prédios com goteiras, mofo e rachaduras. Este foi o cenário encontrado em várias unidades públicas de saúde de Londrina durante visitas realizadas nas últimas semanas por representantes do Sindicato dos Médicos do Norte do Paraná (Sindmed), do Ministério Público (MP) e do Conselho Municipal de Saúde. A situação crítica do setor será debatida em uma audiência pública agendada para a próxima segunda-feira (11), às 19 horas, na Câmara Municipal de Londrina.

"É muito fácil colocar sempre a culpa pelo mau atendimento da saúde pública no médico. No entanto, existem vários fatores que contribuem para que isso aconteça. E a pedido dos próprios profissionais, fomos verificar as condições de trabalho que eles têm enfrentado e encontramos situações alarmantes", explica Alberto Toshio Oba, presidente do Sindmed, sobre o cronograma de visitas realizado há cerca de um mês nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do Jardim Sabará, do Jardim Leonor e do Jardim do Sol, além da Maternidade Municipal, Pronto Atendimento Infantil (PAI) e do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas de Londrina (Caps-AD).

Segundo ele, um dos principais problemas encontrados foi a sobrecarga na escala dos médicos. "O próprio poder Executivo já admitiu no primeiro semestre deste ano que há um déficit de 220 médicos na rede municipal de saúde da cidade. Por conta disso, é muito comum encontrar um ou dois profissionais trabalhando em locais onde a demanda exige quatro médicos. O resultado é demora no atendimento ao público e profissionais sobrecarregados com horas extras permanentes", reclama.

Toshio destaca que dentre os locais onde a situação é mais crítica está a Maternidade Municipal Lucilla Ballalai. "A situação é realmente crítica. Na própria maternidade, no período da tarde, a escala contempla apenas um plantonista pediatra. Como fica esse profissional nos momentos em que ocorrem dois, três partos simultâneos? O que temos visto nas visitas às unidades de saúde é um grande desrespeito aos médicos e à população", avalia Toshio Oba.

De acordo com o presidente do Sindmed, a estrutura física nas instalações vistoriadas é quase sempre precária, com portas que não fecham ou não existem, camas e berços quebrados, fios soltos, rachaduras, infiltrações, mofo, goteiras e vários outros problemas decorrentes da falta de manutenção. Também faltam equipamentos e medicamentos, até mesmo básicos. "Em alguns locais não havia furosemida, um diurético que deve custar menos de R$ 0,50 e que é muito usado em pacientes que sofrem de edema agudo no pulmão. Também foi registrada a falta do antibiótico recomendado para pessoas com risco de sofrer um choque séptico. A ausência desses medicamentos pode ser fatal para determinados pacientes", alerta.

O relatório das visitas apontou ainda que na maternidade municipal a pediatra plantonista não tinha nem sequer um estetoscópio infantil e faltavam, ainda, oxímetros. No PAI, os aparelhos de ar-condicionado instalados não funcionam e são poucos os ventiladores. Há salas sem janelas e sem nenhuma ventilação. Na maternidade, os ventiladores estão quebrados. E conforme o verão vai chegando, a situação piora. A falta de conforto térmico tende a afetar os recém-nascidos. Segundo relatos colhidos junto aos funcionários, no verão os bebês fazem quadros de hipertermia devido à instabilidade térmica, o que triplica o número de exames necessários no período.

Segurança

A segurança é outro problema grave, principalmente no PAI. Invasões do prédio e roubos de pertences de funcionários e pacientes são comuns, devido à fragilidade das instalações, muros baixos e sem grades. Faltam portas. Não há guardas ou vigias.

"Sabemos que esses problemas não são recentes e não queremos jogar pedra no poder Executivo. O que estamos propondo é uma ação conjunta entre representantes de vários órgãos para encontrarmos soluções que beneficiem a todos, principalmente os mais pobres, que não têm condições de pagar por uma plano de saúde e ficam à mercê de um tratamento incompleto. Como sabemos que o problema é muito grande, entendemos que será necessário dividi-lo em fatias que possam ser resolvidas aos poucos. E o primeiro passo para isso será essa audiência pública que será realizada na segunda-feira, dia 11. Esperamos que desse encontro se estabeleça um fórum para discutir a fundo a saúde pública de Londrina e que juntos a gente possa estabelecer prioridades que ajudem o poder Executivo a promover uma gestão mais eficiente dos recursos públicos", conclui Toshio.

O Sindmed visitou várias unidades de saúde em Londrina
O Sindmed visitou várias unidades de saúde em Londrina | Foto: Divulgação/Sindmed