Para Dias, demissão de Maierovitch é "gesto sensato" de FHC
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terça-feira, 11 de abril de 2000
Por Mariana Caetano
São Paulo, 12 (AE) - O ex-ministro da Justiça José Carlos Dias disse que a demissão do secretário nacional antidrogas, Walter Maierovitch, já era esperada. "Seria incrível que eu saísse e ele não", disse. Dias alegou até mesmo "contar" com esse "gesto de sensatez" do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Dias foi demitido após divulgar nota condenando o anúncio prévio, pelo secretário, de uma operação sigilosa da Polícia Federal. Ele afirmou ter dito ao presidente que "um governo democrático" não poderia contar com pessoas "com essa formação de direita como tem o juiz Maierovitch". "Maierovitch não é só de direita, é uma pessoa complicada", declarou o ex-ministro.
Questionado se o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso - a quem Maierovitch estava submetido - sairia fortalecido do episódio Dias afirmou não saber avaliar. Em seguida, completou: "Dizem que eu saio com fama de encrenqueiro, que eu não sei trabalhar em equipe... realmente, eu não sei trabalhar em bando. Em equipe sim, agora, não vou ficar fazendo joguinho, se tenho uma posição defendo ela até o fim." Mais tarde, declarou que não se referia a "bando" como "quadrilha", mas a um grupo que não tem voz unida.
Dias declarou-se satisfeito com o trabalho e está convencido de que ajudou o presidente ao divulgar a nota sobre Maierovitch. "Era meu dever", declarou. "Eu não poderia ter uma PF enfraquecida." De acordo com o ex-ministro, a secretaria antidrogas havia sido convocada para as reuniões de preparação da operação na fronteira com a Bolívia, mas "obviamente", nas palavras de Dias, não enviou representantes aos encontros. "Se sou o ministro responsável pela luta contra o crime organizado, o narcotráfico, como posso permitir que alguém venha vazar uma informação como essa, sendo que já tinha dinheiro gasto e que estávamos preparando com um cuidado muito grande", declarou.
Demonstrando bom humor, Dias afirmou que há muito tempo não dormia tão bem quanto ontem (11). "Agora, entro em quarentena, vou descansar e mais tarde voltar para a advocacia", disse.
Retrocesso - Entre os motivos de seu embate com o general Cardoso está o fato de que o ex-ministro quer manter a PF sob as ordens do Ministério da Justiça. Ele garantiu ter recebido, há cerca de um mês, o compromisso do presidente Fernando Henrique de que não haveria alterações no controle da Polícia Federal. "Seria profundamente chocante que o presidente que teve a coragem de criar o Ministério da Defesa e pôr um civil tomando conta dos militares viesse a colocar um militar tomando conta da segurança interna do País", afirmou. "Isso seria um retrocesso ao período autoritário."
Dias mostrou-se preocupado com o eventual esvaziamento das atribuições do Ministério da Justiça. Manifestou-se mais uma vez contrário à criação de uma secretaria específica para a segurança pública. A atribuição dessa secretaria seria fundamentalmente aplicar o plano nacional de segurança, elaborado em conjunto por Dias e o general Cardoso, entre outros. "Agora, o plano de segurança está na mão do presidente, é extremamente sério, resultado de oito meses de preparação", disse o ex-ministro. "De maneira nenhuma poderá o Ministério da Justiça ser esfacelado, que é a intenção indiscutível demonstrada pelo general Cardoso que pretendia a coordenação geral do plano."