Panorama da pandemia requer espera para viajar ao exterior
Segundo especialista, só mudança de cenário viabiliza deslocamentos para fora do país
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 06 de agosto de 2021
Segundo especialista, só mudança de cenário viabiliza deslocamentos para fora do país
Lucas Catanho - Especial para a FOLHA
Um grande ponto de dúvida em meio à pandemia é sobre as viagens ao exterior. Como não há uma regra global, cada país adota as suas práticas de biossegurança para prevenir o coronavírus, o que vem causando muita incerteza entre os turistas brasileiros.

A infectologista Sylvia Lemos Hinrichsen, consultora em biossegurança da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), aponta várias situações atuais que motivam a espera antes de alguém pensar em sair do país.
“Nós não estamos ainda com a guerra vencida. Em alguns lugares, essas batalhas ainda não foram vencidas. O problema da pandemia é muito mais coletivo do que individual”, destaca.
Ela acrescenta que, antes da pandemia, o grande problema era tirar o passaporte ou visto e não perder os documentos. “Agora é também ter a vacina, saber se pode entrar no país, o que pode ser feito, se o restaurante ou o museu vão exigir documentação ou não, por exemplo. É complicado. Existe hoje toda uma gama de situações que, ao meu ver, nós precisamos esperar um pouco mais”, defende.
As exigências dos países em relação ao controle do coronavírus podem ser conferidas no site da IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos), na sigla em inglês.
A infectologista acrescenta que o Brasil ainda não regulamentou o cartão de vacinação internacional para Covid-19. “O único comprovante disponível no momento é o emitido no aplicativo Conecte SUS, mas no próprio documento existe a ressalva de que não é documento internacional de viagem.”
VACINAS
Outra dúvida frequente dos brasileiros é com relação às vacinas exigidas lá fora. “Tem sido muito difícil porque existiam a princípio alguns imunizantes que eram aceitos em alguns países e outros não. Mas as quatro vacinas que temos contra Covid no Brasil (Coronavac, AstraZeneca, Janssen e Pfizer) estão todas certificadas como de uso emergencial pela OMS (Organização Mundial da Saúde).”
O problema, segundo a infectologista, é que mesmo assim existem alguns países que vão exigir vacinas que eles estão aplicando nos seus territórios. “Isso também é outra dificuldade, outro ponto de bastante discussão.”
Outra questão apontada pela infectologista é a baixa cobertura vacinal atingida em nível mundial, bem abaixo de 70%.
Em junho, a publicação “Our World in Data” apontou que somente 10% da população mundial, o equivalente a mais de 782 milhões de pessoas, estava totalmente vacinada contra a Covid. Na América do Sul, o índice chegou a 11%, contra mais de 30% na América do Norte, 28% na Europa e 8% na Ásia.
“Nós estamos aqui no Brasil com um índice ainda não desejável de vacinação, mas existem países onde os níveis estão abaixo. Por outro lado, estamos observando que as pessoas não querem só viajar a trabalho, mas estão ansiosas para voltar a viajar como sempre viajaram por turismo. Isso se coloca muito forte em muitas pessoas que sonham em voltar a ter a vida que tinham anteriormente.”
As novas variantes são outro novo desafio imposto pela pandemia. “A variante Delta, por exemplo, tem sido o ponto fora da curva nos esquemas de vacinação no mundo todo. Então é muito difícil você começar a ter turismo aberto como era antigamente, mesmo com as pessoas vacinadas.”
Diante do surgimento das novas variantes do vírus, como a variante Delta, alguns países hoje já falam em oferecer a terceira dose para todas as vacinas.
EXPECTATIVA
A arquiteta e urbanista Suellen Cortez Obici, que é de Arapongas (Região Metropolitana de Londrina), aguarda a segunda dose da vacina contra Covid no Brasil para retornar, em setembro, para o Reino Unido. Antes de chegar ao destino final, onde mora e trabalha há 7 anos, ela ficará 10 dias na Suíça.
“Vim passar um período com a família aqui no Brasil e agora estou me preparando para voltar. Vou aproveitar as atuais circunstâncias para conhecer a Suíça”, explicou.
O Reino Unido está com medidas bem restritivas quanto ao coronavírus. “Existe um sistema de semáforo que categoriza os países quanto ao risco de contágio e presença de novas variantes. As regras de entrada variam de acordo com qual país você esteve nos últimos 10 dias antes de entrar no Reino Unido”, explica.
O Brasil está na lista vermelha, em que só é permitida a entrada aos cidadãos britânicos e irlandeses, ou se tiver direitos de residência no Reino Unido, esse último caso de Suellen. Se ela fosse turista, seria barrada.
“Vindo do Brasil, é obrigatório fazer quarentena em um hotel controlado pelo governo. Durante esse período, você deve fazer dois testes de Covid, no segundo e no oitavo dia da estadia. Caso teste positivo, esse período é estendido. Todas as despesas são de responsabilidade do viajante”, explica.
Para quem esteve na Suíça, que está na lista laranja, as pessoas que não foram vacinadas no Reino Unido são obrigadas a fazer a quarentena de 10 dias na sua própria residência ou no local de hospedagem. Suellen, então, fará quarentena em casa quando chegar ao Reino Unido.
“Independentemente do país de origem, você deve preencher um formulário no site do governo e apresentar um PCR negativo antes de embarcar”, explicou.
REDUZIDOS
A passagem de volta de Suellen foi cancelada inicialmente, pois os voos diretos para o Reino Unido estão bem reduzidos. “Resolvi deixar a passagem em aberto e analisar a evolução da pandemia e as restrições. Quando outros países da Europa começaram a abrir as fronteiras para viajantes brasileiros completamente vacinados, resolvi programar minha volta após tomar a segunda dose, fazendo uma parada em outro país.”
A Suíça, para onde Suellen irá inicialmente, está sem restrições para brasileiros completamente vacinados, o que a permite conhecer o país antes de finalmente voltar para casa. Se ela tivesse ido direto do Brasil para o Reino Unido, teria que fazer quarentena no hotel, mesmo com direitos de residência.
“Considerando as restrições no Reino Unido, decidi que seria um melhor custo-benefício ficar um período na Suíça a fazer 10 dias de isolamento em um hotel, mesmo com a necessidade de fazer quarentena de 10 dias em casa ao chegar ao destino final”, concluiu.

