Em agosto, uma festa de casamento realizada no Maine, nos EUA, resultou em pelo menos 177 pessoas infectadas e sete mortes provocadas pelo novo coronavírus. Isso reforça a mensagem de que neste período de pandemia a aglomeração de pessoas deve ser evitada. Nesse cenário, os casamentos foram fortemente atingidos pelos protocolos de segurança.

Segundo o Irpen (Instituto do Registro Civil das Pessoas Naturais do Paraná), de janeiro a agosto deste ano houve uma queda de 29,68% nos casamentos em relação ao mesmo período do ano passado no Estado. O número foi de 32.598 para 22.920 enlaces. Dados municipais apontam uma queda ainda maior. Nesse mesmo intervalo Londrina registrou um decréscimo de 32,52%, partindo de 2.091 matrimônios em 2019 para 1.411 registros realizados neste ano.

Segundo Rodrigo Camargo, do Conselho Fiscal do Irpen, os casamentos representam uma receita razoável dos cartórios. “Foi um impacto grande e há um agravante, pois a tabela de custos no Paraná está bastante defasada, já que não é reajustada desde 1970", lamenta.

De acordo com ele, os cartórios permanecem abertos adotando todas as medidas de segurança necessárias. E os responsáveis pelos estabelecimentos pedem que somente o casal e as testemunhas compareçam à cerimônia. “Antes vinha toda a família. Para nós é muito difícil, porque a gente percebe que é um momento especial na vida das pessoas, mas infelizmente não há como todos irem ao cartório”, ressalta. “A gente só pede para o casal tirar a máscara no momento do beijo”, destaca.

REAGENDAR OU CANCELAR?

O coordenador de departamento de engenharia Renan Miranda, 25, e a psicóloga Luana Aires, 24, compõem um dos casais que decidiram pela cerimônia só no civil. Eles estão juntos há quatro anos e iriam realizar a festa no dia 1º de agosto. “Reagendamos para outubro, mas chegou setembro e as coisas não melhoraram. Então nós decidimos cancelar o evento. Fizemos o casamento só no civil”, explica Miranda.

Renan Miranda e Luana Aires decidiram realizar a cerimônia só no civil
Renan Miranda e Luana Aires decidiram realizar a cerimônia só no civil | Foto: Roberto Custódio

“A gente só teve a presença de nossos pais, e parece que faltou alguma coisa.”, confessa a psicóloga. Ela reforça que o casamento é um evento esperado não só pelo casal, mas pela família toda. “O casamento é a celebração nossa com quem a gente ama. Mas não faz sentido fazer a festa e colocar em risco quem a gente ama. Oportunidades não vão faltar para celebrar este momento”, destaca Miranda. “Eu acho que vai levar um tempo ainda para acabar a pandemia, até sair a vacina. Vamos ter que manter a calma”, declara Miranda.

A educadora física Giovana Lourenço Costa, 25, e o desenhista industrial Guilherme Caldeira Marques, 25, se casaram no civil no dia 6 de setembro, mas não houve festa. “Decidimos em maio que não daria certo o casamento. Como o buffet nos retornou o dinheiro, preferimos não reagendar. Casamos no cartório,em uma cerimônia bem intimista, breve, com todos de máscara. Só estiveram oito pessoas e tudo durou menos de 20 minutos”, relembra Costa.

Guilherme Marques e Giovana Costa optaram por live pelo Instagram
Guilherme Marques e Giovana Costa optaram por live pelo Instagram | Foto: Roberto Custódio

“Pensamos em fazer uma celebração no ano que vem. No cartório fizemos uma live pelo Instagram e todos os parentes puderam participar. Alguns parentes até se arrumaram e colocaram roupa de festa para assistir a live”, descreve Costa. Marques confessa que a decisão de cancelar a festa foi o momento mais difícil, mas necessária. “Nós temos muitos parentes de Curitiba e São Paulo, que na época em que tomamos a decisão eram cidades que estavam com o maior número de casos”, observa o desenhista.

CERIMÔNIAS RELIGIOSAS

Na Arquidiocese de Londrina, de 1º de janeiro a 31 de agosto do ano passado foram 595 registros de matrimônio. Neste ano, no mesmo período, foram apenas 162. O padre Alexandre Alves dos Anjos Filho, coordenador da Ação Evangelizadora, explica que todos os casamentos que ele tinha marcado para 2020 foram adiados. “Todos foram transferidos para 2021. Não pode ter mais de 30% da capacidade das igrejas. Como muitos noivos acham estranho limitar a presença de parentes e amigos, preferem adiar."

Segundo o padre, os casamentos que ainda são realizados, em sua grande maioria, é de casais que já vivem juntos. "Outros se casam no civil e aguardam para o ano que vem para a cerimônia religiosa. Eu tive um caso de casal que iria se casar em março, no início da pandemia e a noiva ficou consternada, porque dez dias antes teve de cancelar a cerimônia”, lembra.

O presidente do Conselho de Pastores de Londrina, Atílio Varotto Neto, confirma que também houve queda dos casamentos nas igrejas evangélicas. “Temos informações de adiamentos, por muitos deles estarem marcados em chácaras. Alguns adiaram para fevereiro do ano que vem por causa dos riscos em função da Covid-19. Há também o desconforto de fazer casamento com máscaras e distanciamentos, e lógico que também pelas determinações do nosso município”, explica.

“No primeiro momento causa uma certa tristeza, mas em virtude de tudo o que está acontecendo em relação à pandemia está havendo uma compreensão dos noivos. O que tem ajudado muito é a facilidade que os buffets e chácaras têm proporcionado para os adiamentos. O que tenho notado é que há uma boa compreensão dos casais sobre a situação”, destaca Vartotto Neto.