O domingo ensolarado serviu de estímulo para a terapeuta Sabrina Vargas levar os filhos para passearem no Zerão, na região central de Londrina. “É a primeira vez que saio de casa desde o início da pandemia. A gente fica com medo de sair, mas as crianças já estão nervosas de tanto ficar em casa. Elas sentem falta da escola e das brincadeiras com os amigos e acabam ficando muito inquietas”, afirmou sobre a filha Maria Júlia, 8 anos, e o filho Marlon, 12.

Pais aproveitaram domingo ensolarado para levar crianças para passear
Pais aproveitaram domingo ensolarado para levar crianças para passear | Foto: Marcos Roman

A irritabilidade dos filhos citada pela mãe londrinense vai ao encontro do que foi diagnosticado em uma pesquisa divulgada recentemente na qual quase nove em cada dez pediatras do Brasil apontaram que as crianças apresentaram alterações de comportamento durante a pandemia de Covid-19. De acordo com os entrevistados, entre as queixas mais frequentes estão oscilações de humor, ansiedade, irritabilidade, depressão, agitação, insônia, tristeza, agressividade e aumento de apetite.

A terapeuta Sabrina Vargas aproveitou o domingo ensolado para passear com os filhos no Zerão
A terapeuta Sabrina Vargas aproveitou o domingo ensolado para passear com os filhos no Zerão | Foto: Marcos Roman

O levantamento foi realizado por duas entidades médicas, a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e a Febrasgo (Federação das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia), que ouviu 1.525 profissionais, sendo 951 pediatras e 574 ginecologistas e obstetras de todo o país, entre 20 de julho e 16 de agosto. De acordo com Luciana Rodrigues Silva, presidente da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), várias hipóteses explicam as mudanças de comportamento, como alterações da rotina, a falta da escola e da convivência com os colegas e a necessidade de isolamento social imposta pela pandemia.

As hipóteses citadas pela presidente da SBP são compartilhadas por outros pais londrinenses. “Nem mesmo as atividades escolares que faz em casa, brincadeiras com a família e as horas que passa na frente do videogame têm suprido a falta que meu filho sente do convívio com a turma da escola dele. A gente se esforça para passar o maior tempo junto possível, mas não é a mesma coisa. Por conta disso, ele acaba ficando irritado e mais teimoso”, destacou o técnico de informática Wagner Dias, que para fugir da rotina levou o filho Cauã para a andar de bicicleta na Praça Nishinomyia (zona leste).

“A gente faz o que pode para tentar driblar essa mudança de rotina. Acaba até permitindo que as crianças comam mais besteiras e fiquem mais tempo assistindo televisão. Mas é difícil dar conta de gastar toda a energia que eles têm e que acaba gerando mais estresse pelo fato fato de não poderem brincar com as amigos da idade deles”, reclamou a dona de casa Maria Cleusa Silveira, que levou os netos Rafaela, 5 anos, e André, 4, para brincar na praça localizada em frente ao Aeroporto.

Para a presidente da SBP, brincadeiras e tarefas domésticas em conjunto, como cozinhar, podem ajudar a minimizar os efeitos da pandemia junto às crianças. Ela afirma que o fato de as crianças estarem mais tempo em frente às telas de celulares e computadores não só pode provocar alterações de comportamento como também contribui para o aumento da obesidade infantil. (Com Folhapress)