Relatório divulgado ontem pela FAO - o organismo das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura - revela que das cerca de 826 milhões de pessoas em todo o mundo que passam fome, 792 milhões vivem nos países em vias de desenvolvimento. A maioria dos famintos vive na Ásia e na África subsaariana e 34 milhões em países industrializados.
Segundo o relatório da FAO, lançado durante a Jornada Mundial de Alimentação, entre os países mais atingidos pela fome, destacam-se a Somália (África), o Afeganistão (Ásia) e o Haiti (América Central).
O documento adverte que, se não forem empreendidas ‘‘ações enérgicas’’, não será possível reduzir em 400 milhões o número de subalimentados no mundo até o ano 2015 - prazo estabelecido durante a cúpula mundial sobre Alimentação realizada em 1996.
Se permanecer o ritmo atual no combate ao flagelo (8 milhões de famintos a menos a cada ano), diz o relatório, o objetivo inicial só será atingido em 2030 - mas ‘‘as pessoas que morrem de fome não poderão esperar mais 15 anos’’. Já para atingi-lo no prazo previsto, seria preciso eliminar anualmente pelo menos 20 milhões de subalimentados.
O combate à fome, explicou a FAO, não se justifica apenas por motivos humanitários, mas também por motivos econômicos, pois ‘‘o custo econômico da fome é altíssimo do ponto de vista da perda de produtividade e dos casos de denças e mortes’’.
Ontem, a Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) abriu a II Semana da Alimentação, que até sexta-feira estará discutindo alternativas emergenciais para o combate à fome. Segundo a pesquisadora Maria Isabel Rodrigues, organizadora do evento, um dos objetivos é atrair a comunidade acadêmica para programas de combate à miséria desenvolvidos por organizações não-governamentais.
‘‘A sociedade está muito passiva ante o problema da fome no País’’ disse a pesquisadora. Segundo ela, há cerca de 36 milhões de jovens e crianças vivendo em situação de pobreza no Brasil. ‘‘Desse total, cerca de 7 milhões estão totalmente abandonados, desnutridos, entregues a própria sorte e sem esperanças de uma vida decente,’’ afirma.
Dados da FAO indicam que a cada 3,6 segundos uma pessoa morre de fome no mundo. Pelo menos três quartos dessas mortes são de crianças. Atualmente, 10% das crianças de países em desenvolvimento, como o Brasil, morrem antes de completar cinco anos.
‘‘A maior parte dessas mortes está relacionada à pobreza extrema, já que no País não há guerras nem escassez de alimentos’’, diz a pesquisadora. Segundo dados da FAO, o índice de mortalidade infantil no Brasil ainda é um dos maiores da América Latina. Em cada mil nascidos vivos, 47 morrem nos primeiros cinco anos. Na Argentina, o índice é de 24; no Chile, 14;, na Colombia, 28; no México, 34; no Peru, 55; e na Venezuela, 23.