Pais gostariam de mais tempo com filho recém-nascido, aponta pesquisa
Um quarto dos entrevistados não tira nenhum dia de folga apesar do direito à licença-paternidade
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sexta-feira, 08 de novembro de 2019
Um quarto dos entrevistados não tira nenhum dia de folga apesar do direito à licença-paternidade
Brenda Zacharias, Heloísa Scognamiglio e Marcela Coelho – Agência Estado
São Paulo - A maioria dos homens (82%) quer se envolver nos cuidados do filho nas primeiras semanas de vida, mas um quarto deles (27%) com direito à licença-paternidade não tira nenhum dia de folga. Esses são alguns dos resultados da pesquisa da ONG (organização não governamental) Instituto Promundo e da Dove Men+Care, feita com 1.709 homens e mulheres no Brasil.
Entre os pais, conforme o estudo, 19% tiveram de um a três dias de licença, 32% tiraram um três a cinco dias e apenas 16% ficaram um mês fora do trabalho. O medo da perda de emprego e de prejuízos à carreira é um dos principais empecilhos, relatam os entrevistados. A legislação brasileira prevê cinco dias de licença-paternidade. O Marco Legal da Primeira Infância (Lei 13.257/2016) criou a possibilidade de estender o período para 20 dias a funcionários de empresas que façam parte do programa Empresa Cidadã ou do setor público - com a condição de que o pai participe de algum tipo de programa de orientação sobre paternidade. A pesquisa do Promundo aponta que 75% dos pais entrevistados acreditam que homens deveriam tirar licença em prol do relacionamento com os filhos.
O objetivo da pesquisa era traçar um perfil da paternidade no País e compreender os motivos por que tantos homens não envolvam na criação dos filhos como afirmam desejar. Segundo Daniel Costa Lima, psicólogo e consultor do Promundo, é possível identificar que a preocupação com a carreira está entre as principais razões pelas quais pais e mães não tiram licença. "Os pais dizem que o maior empecilho para tirar essa licença na íntegra são pressões perceptíveis dentro do (ambiente de) trabalho. Algumas vezes é uma pressão direta. Em outras, pensam que o chefe não vai gostar", afirma Lima. "E há cada vez mais homens na informalidade, sem direito a licença alguma."
Segundo a psicóloga Elizabeth Monteiro, autora do livro “Cadê o pai dessa criança?”, há uma mudança na visão de papel de pai. "Estão muito mais participativos. Vemos muitos pais dedicados, apaixonados, carinhosos. Ainda não chegou onde deveria chegar, mas está mudando." Para ela, a pausa do pai no trabalho poderia estender o tempo que o bebê fica em casa e evitaria que crianças fossem levadas ainda muito novas para a creche. Se o pai pudesse tirar uma licença na sequência da mãe, seria ótimo, para ajudar e criar o vínculo com o bebê", defende.
O contato do homem com o bebê tem efeitos, segundo ela, até a adolescência e fase adulta do filho. "As crianças que têm vínculo afetivo forte com os pais geralmente são adolescentes mais equilibrados, sem tantos conflitos", diz Elizabeth. (Colaborou Adriano Cirino/Agência Estado)