Pacote tributário já tem efeito nos preços
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terça-feira, 04 de janeiro de 2000
Por Ariel Palacios
Buenos Aires, 04 (AE) - "La Dolorosa" é a denominação que os argentinos encontraram para o aumento dos impostos que fez que o debut do ano 2000 fosse acompanhado de bastante mal-estar ao colocar a mão no bolso para os gastos da vida diária.
O aumento nos preços e o surgimento de novos impostos é o resultado do pacote tributário aprovado na semana passada, com o qual o governo do presidente Fernando De la Rúa pretende conseguir US$ 2 bilhões, o que equivale a 1,5% do consumo total do país.
O verão portenho será abafado, tendo em vista que a cerveja aumentou para o consumidor em uma média de 4,5%. E será mais abafado ainda, pois transportar-se em ônibus para refrescar-se nas praias do balneário de Mar del Plata custará 5% a mais.
Quem ficar em casa, e só puder ver o verão passar pela tevê, talvez não possa descarregar seu stress por meio do cigarro de forma barata: eles receberam um aumento de 67%, mas o preço ao consumidor ainda não está definido.
As comunicações também sofrerão os efeitos do pacote: os telefones celulares terão um aumento de 5%, mas as empresas de telefonia não decidiram o que fariam com os preços ao consumidor. Os planos de saúde subirão 10,5%. As bebidas alcóolicas oscilarão entre 11% e 16% de aumento.
Por causa do aumento no imposto de transferência de combustíveis, as empresas de combustíveis subiram a gasolina comum entre 11,7% e 13,7%. O transporte terreste ou aéreo para distâncias superiores a 100 quilômetros terá de pagar 10,5% de Imposto sobre o Valor Agregado (IVA), mas os usuários somente veriam um aumento de 5% nas passagens.
Os automóveis com o preço-base (sem impostos) entre US$ 15.000 e US$ 20.000 aumentariam sua carga tributária em 4%. Os automóveis com preço-base superior a US$ 22.000, aumentariam até 8%. No entanto, de forma geral, as empresas só pensam transferir para o consumidor uma pequena parte desse aumento.
Por causa do pacote, o poder aquisitivo dos argentinos cairá. Para salários inferiores a US$ 1.500, a queda seria de 1%. Nos salários entre US$ 3.000 e US$ 4.000 seria de 4%. Nos salários ao redor de US$ 12.000 veriam uma redução de 14% em seu poder de compra.
O ex-ministro da Economia, Domingo Cavallo, considera que o ajuste não dará certo. "Tenho certeza que não vai gerar a arrecadação que o governo espera, e desta forma, além de ser injusto e ineficiente, não resolverá o problema do déficit fiscal", disse.
Cavallo sustentou que o pacote tributário vai "brecar ou reduzir o ímpeto de reativação da economia". Além disso, prognosticou que por causa disso, "a arrecadação será menor". Segundo o ex-ministro, a saída é reduzir os gastos dos governos provinciais e da cidade de Buenos Aires.
Arrecadação - A arrecadação tributária em dezembro caiu 9,2%.
Foram arrecadados US$ 3,8 bilhões, o que indica que foram conseguidos US$ 400 milhões a menos do que no ano passado. Em relação a novembro, a queda foi de 2,5%. Analistas consideram que esta redução indica que a tão alardeada reativação da economia teria entrado em período de hibernação.
Apesar de uma série de reformas tributárias ao longo de 1999, neste ano a arrecadação caiu 4,8% em relação a 1998, o equivalente a US$ 2,4 bilhões a menos. Em 1999, a arrecadação total foi de US$ 47,65 bilhões.
Com estes resultados, calcula-se que o déficit fiscal deixado de herança do governo do ex-presidente Carlos Menem irá além dos US$ 5,1 bilhões estipulados como meta, e alcance os US$ 7 bilhões.