Imagem ilustrativa da imagem Ortigueira registra terceira morte de indígena por Covid-19 no Paraná
| Foto: Divulgação/MPPR

A terceira morte de indígena pela Covid-19 no Paraná foi registrada em Ortigueira (Campos Gerais), na terça-feira (11). Um homem da etnia Kaingang, de 37 anos, que morava na aldeia Queimadas, deu entrada no Pronto Atendimento Municipal um dia antes, com hemorragia digestiva alta em decorrência do consumo excessivo de álcool.

A vítima chegou a ser transferida para o Hospital Regional de Ponta Grossa, mas foi a óbito. De acordo com a Vigilância Epidemiológica de Ortigueira, o homem não tinha comorbidades. “Foi feito o teste rápido confirmando a doença e agora aguardamos o resultado do Swab, mas o diagnóstico foi fechado pelo hospital como Covid-19", afirma o coordenador da Vigilância Epidemiológica, Diego Franciscato.

Na aldeia Queimadas, onde vivem cerca de 850 indígenas, há 21 infectados até o momento. Destes, dois são familiares da vítima, sendo um deles o irmão, de 44 anos, que está internado no Hospital Regional de Telêmaco Borba, com quadro estável. A outra vítima também é do sexo masculino, tem 56 anos e está internado no Hospital Regional de Ponta Grossa.

Segundo Marcos Cesar da Silva Cavalheiro, Chefe da Coordenação Coordenação Técnica Local da Funai (Fundação Nacional do Índio) de Londrina, responsável pelo local , a primeira infecção aconteceu há algumas semanas. “O risco é grande, pois os índios moram próximos uns dos outros e isso faz o perigo de contágio ser maior.”

Segundo ele, a maior dificuldade tem sido conscientizar essas pessoas a permanecerem isoladas. “Por mais que a gente oriente, nem sempre obedecem. O cacique também fala com eles, mas eles não obedecem. Iniciamos conversa com promotor do Ministério Público de Ortigueira pedindo para que enviem polícia ameaçando prendê-los, pois em uma situação dessas eles podem responder criminalmente, pois estão com doença e estão transmitindo para outras pessoas.”

O cacique Marcos Pires confirma essa dificuldade. “Aqui está complicado. Temos orientado o pessoal, mas quando a gente vê eles estão saindo à noite, de carro. A gente manda todos ficarem isolados em casa, mas tem uns teimosos que desobedecem”, ressaltou. “Tem uma equipe de Curitiba que está vindo aqui para dar uma força para a gente para orientar esse pessoal”, destacou Pires.

Segundo ele, outro fator que gera preocupação é o fato de não haver máscaras e álcool em gel em quantidade suficiente para atender todos. “ A Defesa Civil trouxe colchão e disse que iria trazer álcool em gel e máscaras, mas não trouxe”, ressaltou.

No boletim de quinta (13), Ortigueira registrou oito novos casos de Covid-19, somando 230 infectados desde o início da pandemia. Destes, 41 estão em isolamento domiciliar, 65 são suspeitos e 180 já se recuperaram. Até o momento, sete pessoas morreram pela doença.

Na aldeia indígena Mococa, que também fica próximo a Ortigueira, nenhum caso do novo coronavírus foi registrado até o momento.

COMBATE

Franciscato destaca que o plano de contingência de Ortigueira abrange as aldeias de Queimadas e Mococa. “Desde o início da pandemia, a gente tinha o receio da doença chegar nas aldeias pelas questões culturais e de higienização precária e, portanto, já vínhamos conversando com os líderes locais e agentes de saúde. Em julho, tivemos o primeiro caso na aldeia Queimadas. Tratava-se de uma mulher que não precisou ser internada e está bem”, comenta.

Ele detalha que parcerias com empresas privadas ou até mesmo a Sesa estão sendo consideradas para fazer uma testagem em massa entre os indígenas. “Com a ajuda das lideranças, hoje estamos tendo mais aderência nas orientações de isolamento. Os indígenas criaram uma barreira na entrada da aldeia para evitar os deslocamentos para Ortigueira e uma tenda da secretaria de saúde foi instalada no acesso a Queimadas”, afirmou.

A diretora de Atenção e Vigilância em Saúde da Sesa, Maria Goretti David Lopes, afirmou que será realizada a testagem em massa nas duas aldeias de Ortigueira. “Isso já deveria ter sido feito. A Sesa garante através de todas as notas técnicas a testagem de grupos prioritários, entre eles os indígenas”, disse.

PRIMEIRO ÓBITO

A primeira morte de indígena no Paraná pelo novo coronavírus foi a do pajé Gregório Venega, de 105 anos, da comunidade avá-guarani Tekoha Ocoy, em São Miguel do Iguaçu (Oeste), localizada a 45 quilômetros de Foz do Iguaçu.

Venega estava internado desde o dia 07 de julho e morreu 18 dias depois. A Terra Indígena Ocay conta com uma população de aproximadamente 700 indígenas e foi interditada em junho depois que 77 indígenas testaram positivo para a Covid-19.

O segundo óbito registrado foi de uma mulher de 71 anos, em Curitiba, no dia 23 de julho. A Sesa esclarece que a vítima não residia em nenhuma aldeia, mas se autodeclarava indígena e esteve internada por um longo período.

NÚMEROS DE CASOS

Os dados apresentados pela Sesa (Secretaria de Estado da Saúde) até o dia 12 de agosto apontam que o Estado tem 774 casos notificados e suspeitos de Covid-19 em etnias indígenas. Destes, 91 foram confirmados, 374 são suspeitos e 309 foram descartados.

Na mesma data do mês de julho, o número de notificações e casos suspeitos entre indígenas era de 411, sendo 64 confirmações e 197 suspeitos. Em 30 dias, houve 27 novos casos. A maioria dos pacientes com suspeita (364) não tem a etnia informada nos gráficos da Sesa. Dos identificados, 187 são da etnia Guarani M’bya e 161 Kaingang.

Lopes ressalta que os indígenas são bastante vulneráveis e que a Sesa tem articulado junto aos municípios as ações para o enfrentamento da Covid-19 incluindo esta população. Segundo ela, são 30 municípios paranaenses com aldeias indígenas. “São as mesas ações previstas no plano de contingência do Estado”, diz.

Ela ainda destaca que quem atua na linha de frente das comunidades indígenas é o DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena), unidade gestora descentralizada do SasiSUS (Subsistema de Atenção à Saúde Indígena), com a retaguarda da Sesa, através das regionais de saúde. (Colaborou Vítor Ogawa)

(Atualizada às 17h)