A notícia do aparecimento de uma onça-parda no município de Xambrê (Noroeste) movimentou a manhã de segunda-feira (5). O animal já havia sido visto por diversos moradores, mas foi na casa do aposentado Ziel Azevedo, 86, que se abrigou. O idoso foi surpreendido pelo felino enquanto saía de sua cozinha em direção à lavanderia. Uma fêmea adulta, com idade média de 3 anos, pesando aproximadamente 45 quilos, seguiu na direção do dono da casa. "Ela teve aquela reação típica dos gatos. Esticou os bigodes e mostrou os dentes. Não tive nem tempo de me assustar. Saí de casa, pulei o muro e pedi ajuda aos vizinhos", contou o aposentado, que mora com a mulher e seis gatos. Sem conseguir nem mesmo trancar a porta de casa, ele esperou a chegada da Polícia Ambiental de Umuarama para o resgate. "Adoro gatos e, apesar do susto, gostei da visita. Até coloquei a foto do bicho no meu perfil do WhatsApp", brincou Azevedo, que se mantém em alerta. "As pessoas da cidade viram outra onça-parda andando próximo ao hospital municipal, depois, à noite. Quando acordei hoje (terça-feira, 6), abri a porta com medo de encontrar outra, até mesmo pelo cheiro, mas por enquanto não apareceu mais nenhuma", explicou.

Felino foi anestesiado e transportado até o Parque Nacional de Ilha Grande
Felino foi anestesiado e transportado até o Parque Nacional de Ilha Grande | Foto: Polícia Ambiental de Umuarama/Divulgação



A equipe de resgate contou com agentes da Polícia Ambiental e veterinários e a operação durou quase duas horas. O felino precisou ser isolado e tranquilizado antes de removido. Depois que foi anestesiado, o animal foi transportado até o Parque Nacional de Ilha Grande, unidade de conservação de proteção integral à natureza, onde foi solta. "Ela estava muito assustada e deu trabalho. Os exames clínicos demonstraram que ela não tinha nenhum ferimento ou impeditivo e que poderia ser levada à natureza imediatamente. Os resultados dos exames de sangue servem para conseguirmos identificar parasitas e montar um banco de dados", explicou a veterinária Marilda Taffarel, professora de anestesiologia da UEM (Universidade Estadual de Maringá). A ocorrência de aparecimento de onças-pardas tem aumentado na região. A sargento Emanuele Delattre relatou que os pecuaristas têm reclamado dos casos. "Outro dia um senhor ligou muito revoltado, reclamando que uma onça havia comido um novilho e queria ser indenizado. Apesar disso, acredito que as pessoas estão mais conscientes e têm priorizado pedir ajuda na remoção em vez de agredir ou matar", afirmou a policial.

Casos como o de Xambrê estão se tornando comuns no Paraná. Em julho deste ano, duas onças-pardas assustaram os moradores de Cascavel (Oeste). Principal cartão-postal da cidade, o Lago Municipal precisou ser mantido fechado. Uma câmera de segurança da cidade chegou a flagrar um dos animais caminhando em frente a uma capela mortuária, no centro da cidade. Os moradores de um sítio em Paranavaí (Noroeste) também foram surpreendidos por uma onça-parda, que foi encontrada em outubro, no alto de uma árvore. Outros incidentes muito comuns são os atropelamentos dos bichos. A bióloga da UEL (Universidade Estadual de Londrina) Ana Paula Vidotto Magnoni explica que o comportamento dos animais é o de busca de um território. Um macho pode coexistir com várias fêmeas, mas precisam viver numa área de mil quilômetros quadrados. "Elas caminham em busca de um local para se instalar e, como as áreas verdes são espaçadas e pequenas, elas chegam às áreas urbanas e acabam vítimas de acidentes, como atropelamentos", alertou a especialista.

Imagem ilustrativa da imagem Onça-parda aparece em casa e assusta moradores de Xambrê
| Foto: Folha Arte



As onças-pardas - cientificamente chamadas de Puma concolor - tinham desaparecido do Estado, mas ao longo dos últimos 20 anos a população voltou a crescer, especialmente por causa da cobertura verde da região de Telêmaco Borba (Campos Gerais). A cidade, conhecida como a Capital do Papel, tem áreas de produção de eucalipto e pinos, de propriedade da Klabin. Como contrapartida ambiental, a empresa implantou uma série de programas, incluindo o reflorestamento de parte do território. A cada dois anos uma fêmea pode ter entre três e quatro filhotes. "Acabou que o efeito colateral foi o aumento dos indivíduos. Foi inesperado, mas o fato é que a espécie que estava quase em extinção teve um crescimento considerável", explicou José Marcelo Torezan, professor de ecologia e coordenador do Laboratório de Biodiversidade da UEL.

Em Londrina, há registros de exemplares de onças-pardas na região do Parque Estadual Mata dos Godoy, na zona sul. Somando as propriedades particulares à área de preservação ambiental, o espaço tem 2.800 hectares, considerado ideal para um único macho. Os animais são sensíveis à área urbana e muitas vezes têm a população de suas presas, como por exemplo as queixadas, reduzidas por caça, o que desestabiliza todo o habitat, e por isso se aproximam das casas. "Não há uma forma ideal para se proteger, o ideal é tentar isolar e chamar o apoio da Polícia Ambiental como o senhor de Xambrê fez, mas o melhor é preservar as áreas para que os animais possam viver em harmonia", concluiu Magnoni.