A taxa de ocupação de leitos varia dependendo do dia, mas médico ressalta que situação tem piorado
A taxa de ocupação de leitos varia dependendo do dia, mas médico ressalta que situação tem piorado | Foto: Sérgio Ranalli - Grupo Folha

O aumento da taxa de ocupação de leitos e as dificuldades crescentes na contratação de profissionais intensivistas podem colocar em risco o atendimento dos pacientes que procurarem socorro hospitalar em Londrina, não só por infecção por Covid-19, mas também por outros atendimentos. A situação pode gerar ainda a mudança na cor da bandeira laranja (risco moderado), para bandeira vermelha (alto risco), o que pode trazer como consequências o endurecimento das medidas de controle para evitar a disseminação do novo coronavírus.

Um comunicado divulgado pela assessoria de comunicação da prefeitura neste domingo (6) afirma que “a situação de relativa tranquilidade em relação a leitos é fruto do trabalho da gestão municipal, que coloca Londrina com mais estrutura do que de três estados inteiros do país e como referência internacional.” De acordo com boletim de sábado, disponível na secretaria municipal de Saúde, os leitos UTI adulto geral estavam com 76% de ocupação. Já nos leitos UTI adulto exclusivos Covid-19 a taxa era de 74%. Em outros Estados, quando esse patamar foi atingido, a escalada para percentuais superiores até a saturação total aconteceu muito rápido.

O médico infectologista do CCIH (Controle de Controle de Infecção Hospitalar) da Santa Casa, Walton Tedesco Jr., que também atua no Hospital Universitário, relatou que a taxa de ocupação de leitos varia dependendo do dia. “Mas a Santa Casa está superlotada, atendendo acima da sua capacidade. No HU também os leitos estão com muitos pacientes. A taxa de ocupação tem piorado, porque o pessoal tem relaxado, tem se cuidado menos. Tenho andado pelas ruas e a impressão é de que está tudo normal e tudo está lotado."

Ele ressaltou que neste momento há cada vez menos equipes intensivistas disponíveis. “A Santa Casa e o HU ainda não tiveram profissional faltando, mas se piorar não dá para saber o que vai acontecer. Se continuar nesse ritmo, vai faltar profissional capacitado para atendimento e pode aumentar o número de mortes na cidade”, destacou.

A presidente da AML (Associação Médica de Londrina) e integrante do Coesp (Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública de Londrina), Beatriz Tamura, ressaltou que os dados são reais. “Infelizmente é esse o cenário. Não basta abrir mais leitos. Há necessidade de equipes para isso. E a gente tem um cenário ruim até pelo baixo nível de isolamento das pessoas”, destacou.

Ela entende que todos estão bastante cansados e que o momento é difícil para manter o isolamento, mas as pessoas acabam realizando muitas festas e churrascos. “Em todos os lugares que a gente vai é como se a rotina tivesse voltado ao normal. As pessoas não conseguem permanecer distantes, mas a população precisa entender a necessidade de retomar todo o protocolo de segurança, de higiene, de uso de máscaras, de distanciamento e isolamento social”, orientou.

"Estamos na bandeira laranja, que indica quadro moderado, e estamos compilando dados, mas pelo quantitativo que a gente tem provavelmente haverá mudanças na classificação de cores. Nesta terça-feira a gente irá se reunir e na quinta-feira será divulgado o novo estudo”, destacou Tamura.

SEM QUEDA

Segundo ela, ainda não houve queda dos casos ativos em Londrina. “Houve o controle de casos, depois teve um pico no dia 17 de julho. Depois teve a flexibilização do isolamento e houve novos picos. O cenário ainda é preocupante”, afirmou.

“A gente pede realmente para que a população se conscientize. Enquanto não surgir a vacina a gente orienta às pessoas a manter o isolamento para não ficar se expondo e não expor os outros também”, destacou.

A reportagem procurou os hospitais do Coração e Evangélico, mas não se manifestaram.

"SAÚDE SEMPRE FOI UM CAOS"

O presidente do Sindmed Norte do Paraná (Sindicato dos Médicos do Norte do Paraná), Rogério Sakuma, enfatizou que primeiro é preciso que todos deixem de ser hipócritas. "A saúde no Brasil sempre foi um caos. Sempre houve faltas de leitos de UTI, sempre houve falta de respiradores, plantonistas, superlotação de emergências, com frequência se publicam matérias sobre os problemas da saúde. Todos sabemos que são problemas crônicos envolvendo desvios de recursos da saúde há tempos, abertura exagerada de faculdades de medicina sem estrutura, Revalida facilitada, médicos cubanos, sucateamento da saúde, honorários vergonhosos do sistema único de saúde. Mas para permitirem o valor absurdo de recursos para fundão eleitoral existem recursos, para pagarem aposentadorias vitalícias de políticos e do judiciários e dependentes existem", declarou o médico.

"As atitudes dos governantes também demonstram total falta de conhecimento e assessoria péssima. O que justifica uma restrição de horário de comércio feita da forma que foi feita? O que justifica liberação de transporte coletivo superlotado sem critérios de proteção? Nos coletivos não se transmitem doenças? Por que supermercados de grande porte são permitidos trabalharem enquanto pequenos comércios são privados? Qual a lógica de impedir a atividade física em espaços abertos? Qual a lógica em lockdown? Ninguém está subestimando a doença, o que se defende são medidas sensatas baseadas em critérios comprovados de proteção. A doença tem perfil diferente na população de diferentes países em razão de temperatura, nível cultural, social, político (por que não? A corrupção influencia em muito)", declarou.

De acordo com Sakata, o que se faz no Brasil é criar pânico pra tirar proveito da situação pra desvios e causar confusão na população. "Informações desencontradas inclusive dentro da classe médica só deixam a população mais confusa do que é certo ou errado. A população não acredita e não confia nos políticos e acabam não acreditando também nas orientações repassadas por eles. Quantos políticos que já tivemos notícia exigindo lockdown foram flagrados em festas e confraternizações? Não devemos menosprezar a Covid, mas tomemos as medidas em benefício real da população", declarou o presidente do Sidmed Norte do Paraná. (Atualizada às 21h19)