A noite deste sábado (23) foi de muito encanto e animação para quem passou pela região da Praça Nishinomiya, na zona leste de Londrina, e resolveu parar para olhar para o céu. O evento ‘Na Rua, de Olho pra Lua’, promovido pelo Gedal (Grupo de Estudo e Divulgação da Astronomia de Londrina), reuniu centenas de pessoas que têm curiosidade em olhar ‘mais de perto’ astros como a Lua e Saturno. O grupo disponibiliza 10 telescópios que ficam apontados para os astros do sistema solar, assim como tiram dúvidas da população sobre ‘o que está lá em cima’.

Miguel Fernando Moreno, coordenador do Gedal, explica que o grupo é formado por “astrônomos amadores” e já está na ativa há 25 anos. Composto por pessoas das mais diversas idades e profissões, mas com um interesse comum: a paixão pelo universo. “O grupo começou com cinco pessoas e foi aumentando com o tempo, sendo que hoje nós já estamos em dezenas de pessoas”, comemora.

Diferente de outros projetos ao redor do mundo, segundo ele, o foco principal do Gedal está na divulgação da astronomia para toda a sociedade. “É levar para a comunidade de Londrina e região esse acesso à astronomia, seja através das observações públicas ou dos cursos e palestras”, explica. O ‘Na Rua, de Olho pra Lua’ teve sua primeira edição em 2012 a partir de um evento chamado Noite Internacional de Astronomia de Calçada, fomentado por um grupo de astrônomos americanos.

“Na época, nós fizemos esse evento na praça do aeroporto, mas no dia choveu. Mesmo com a chuva, eu levei e montei um telescópio lá e apareceram umas 40 ou 50 pessoas”, relembra. Na semana seguinte, eles marcaram um novo encontro, que trouxe centenas de pessoas à Praça Nishinomiya. Com toda a participação e interesse da comunidade, eles passaram a realizar todos os meses uma observação pública dos astros sempre nos dias de lua crescente.

“Tem muita gente que questiona o motivo de a gente não fazer durante a lua cheia, mas na verdade ela só é bonita a olho nu, já no telescópio é péssimo”, explica. Segundo ele, o fato de ser muito brilhante atrapalha a observação, causando incômodo e dor nos olhos. Além disso, por conta das sombras, durante a lua crescente é possível ver com muito mais detalhes as crateras da superfície do satélite da Terra. Antes da pandemia, o evento era realizado todos os meses; agora, a observação passou a ser realizada a cada dois meses por conta do número de pessoas envolvidas na organização.

VISÃO IMPACTANTE

Na edição deste sábado, quem passou pela Praça Nishinomiya pôde observar a Lua e Saturno, planeta que é conhecido pelos anéis que orbitam o seu entorno. Moreno conta que neste ano Saturno está em uma posição melhor para ser observado nos meses de agosto e setembro, principalmente no início da noite. “A Lua é aquela coisa impactante, mas Saturno tem uma coisa muito legal na observação: as pessoas olham e então falam que é uma foto que foi colocada ali”, conta. Segundo ele, a experiência não é como a de olhar para as fotos disponíveis na internet, mas que é possível ver os anéis de Saturno perfeitamente. “É uma visão que impacta todo mundo”, afirma.

Cerca de 10 telescópios são montados para quem quiser fazer a observação, assim como quem tem um telescópio em casa pode levar também, tanto quem sabe quanto quem não sabe usar. “Se ele não souber utilizar, a gente ensina na hora e ela já vai poder começar a compartilhar com dezenas ou centenas de pessoas para observar o céu”, explica. A expectativa da organização era de reunir de 1.500 a 2 mil pessoas.

Além da observação, o evento também contou com palestras sobre a temática da astronomia e com experiências químicas produzidas por estudantes de química que participam do projeto. Já na parte do Gedal Junior são disponibilizados desenhos sobre o universo para que as crianças possam colorir e se aproximar ainda mais do tema.

“Eu tive meu primeiro telescópio com 13 anos e eu colocava ele na calçada de casa para que os meus vizinhos também pudessem ver. Eu sempre gostei de ensinar, de querer compartilhar, e é uma coisa que me apaixona tanto que eu quero compartilhar com todo mundo”, afirma. Segundo ele, o conhecimento existe para ser compartilhado. Moreno afirma que o trabalho feito pelo Gedal é o maior do país na área de divulgação de astronomia para a população.

PRÓXIMOS EVENTOS

Além dos eventos já previstos a cada dois meses, o grupo também agenda observações em situações específicas, como no caso da ‘Superlua Azul’, no mês passado. No dia 14 de outubro, o grupo também vai promover uma observação do eclipse do Sol, ainda sem horário e local definidos. O astrônomo amador conta que o evento será menor porque a equipe estará reduzida, já que parte dos membros do Gedal vão para a Paraíba, onde a observação do eclipse será completa.

No final do ano, o ‘Na Rua, de Olho pra Lua’ vai acontecer nos meses de novembro e dezembro por conta da campanha “Natal do Gedal”, com o intuito de arrecadar brinquedos que serão doados para crianças em situação de vulnerabilidade social. Neste sábado, o evento arrecadou caixas de leite que serãs encaminhadas para o Nuselon (Núcleo Social Evangélico de Londrina). Segundo Miguel Fernando Morena, nos meses de novembro e dezembro vai ser possível observar a Lua, Saturno e Júpiter. “Na observação de Júpiter você consegue ver as faixas do planeta e as maiores luas que orbitam ao redor”, adianta. Todas as datas e informações sobre novas observações são divulgadas nas redes sociais do grupo @grupogedal

Para muitas pessoas, as crateras da Lua", que "parecem um queijo", é uma das imagens mais impressionantes
Para muitas pessoas, as crateras da Lua", que "parecem um queijo", é uma das imagens mais impressionantes | Foto: Pedro Medeiros/ Divulgação

ANIMAÇÃO

A advogada Patrícia Giacomini, 46, foi ao evento junto com o marido, Eduardo Giacomini, 40, e a filha do casal, Laís Giacomini, 7, por gostar muito do assunto. Segundo ela, ter a oportunidade de olhar daquela forma para a Lua e para Saturno é “lindo e impressionante”. Para Laís, o que mais chamou a sua atenção ao ver a Lua tão ‘de perto’ no telescópio foram as crateras: “parece um queijo”.

Juliana da Silva, 27, foi levar a filha de seis anos, Ágata Lorena, para ter um gostinho do que existe no universo. A pequena disse ter adorado a experiência e garantiu que participaria novamente. Sobre a Lua, ela concordou que o satélite parece um queijo, mas com uma peculiaridade: “parece que está estragado”. Apesar de ainda não ter visto o conteúdo na escola, ela se mostrou animada para estudar sobre astronomia. O encanto com os astros não contagia somente as crianças, mas os adultos também, como conta a Silva, que definiu como “indescritível” a observação. Segundo ela, é fundamental incentivar que a filha tenha esse tipo de experiência.

A auxiliar de escritório Jéssica Alves, 26, ficou sabendo do evento por conta de um amigo, que faz parte do Gedal, já que ela tem muito interesse pela área de astrologia. “Eu vejo a astronomia mais relacionada à questão do espaço, algo mais científico, e a astrologia mais como uma crença, com os signos, mas que tem uma relação nessa questão de mapa astral, do lugar que os astros estavam quando alguém nasceu”,

explica. Segundo ela, a experiência foi incrível e o que mais a deixou impressionada foi o fato de que as imagens são muito nítidas.

Alves também contou que pretende comprar um telescópio para instalar em casa e admirar os astros. “A gente vê na internet e na televisão imagens [dos planetas], mas não imagina que é tão perfeito desse jeito”, explica.

Ricardo Hendges, 41, opina que o mais legal do projeto do Gedal é a possibilidade de permitir que ele leve a filha para observar os astros, o que incentiva a curiosidade por explorar outros lugares. “Ela ficou fascinada porque é possível enxergar tão de pertinho e parece que até dá para tocar com as mãos”, explica, acrescentando que sempre faz atividades relacionadas à natureza e ao mundo com a filha.

A autônoma Andrea Pires, 39, conta que foi ao evento a pedido dos filhos, que têm 8 e 14 anos. Segundo ela, os filhos adoraram a experiência de ver os astros, assim como de ver um experimento físico “que faz o cabelo levantar”.