O Trem de Prata, reativado em 1994, não conseguiu recuperar o mesmo glamour dos anos 50 e faz sua última viagem amanhã em São Paulo e Rio. O superintendente Jerônimo Gil lamenta a medida, forçada por problemas constantes na linha, mas ainda confia num retorno logo que o serviço ferroviário melhorar. A decisão deixou muita gente triste, são os saudosistas, os que desejavam fazer a viagem numa ocasião especial e que agora terão de procurar outra opção e, especialmente, os quase 150 demitidos.
‘‘Quando a notícia se espalhou, muita gente veio chorando perguntar o motivo. Muitos me diziam: foi no trem que fiz a minha lua-de-mel... O Trem de Prata era mais do que um simples meio de transporte, tinha algo mais’’, observa Gil, que completa: ‘‘os funcionários assinaram a carta de demissão chorando’’.
O Trem de Prata é administrado pelo consórcio formado pela Portobello (rede de hotéis de Angra dos Reis) e pela Útil (companhia de transportes rodoviários). Esta é a segunda vez que desativa-se o trem, que circulava na malha ferroviária da Flumitrens e da Malha Sudeste mediante pagamento de aluguel. ‘‘A medida foi tomada porque a empresa alega não ter mais lucro. Nem sempre o trem estava cheio, porém o serviço tinha de manter a mesma qualidade’’, explica Gil. De acordo com o departamento de vendas e reservas de São Paulo, durante a semana a lotação era de apenas 20 a 30% da capacidade total, nos finais de semana o índice de ocupação era de 100%.
Além da falta de lucro, a concorrência com a ponte aérea e os ônibus foi também determinante na extinção do sistema. Heuéldio Barreto, gerente comercial em São Paulo acredita que poderia ter sido feito algum tipo de promoção em cima das tarifas, consideradas altas em comparação com os demais transportes que fazem o trajeto Rio-SP.
‘‘Acho que a empresa poderia ter desenvolvido algum tipo de trabalho em cima dos preços para que o Trem de Prata ficasse mais competitivo. O custo de R$ 120 (cabine simples), só para ida, era realmente inviável’’, comenta. ‘‘A maioria dos funcionários ficou revoltada como tudo aconteceu’’, diz. O preço da cabine dupla era R$ 240 e da suíte 360. Na ponte aérea, esse preço cai para cerca de R$ 70 e os ônibus cobram menos de R$ 30. De avião o percurso leva 50 minutos, de ônibus oito horas e de trem eram necessárias nove horas.
O Trem de Prata podia não ser sofisticado, mas o atendimento era realmente impecável. Se na Europa o transporte ferroviário é um dos mais procurados pela eficiência, aqui o que chamava a atenção era justamente o clima familiar que europeu nenhum conseguiu alcançar ainda. Era uma viagem, acima de tudo, romântica e animada, mais procurada por casais em lua-de-mel ou grupos de amigos.
Durante o trajeto de 516 quilômetros, quem não quisesse ficar trancado nas cabines poderia optar em assistir a filmes, videoclipes ou participar de animadas conversas no bar, a grande atração e o local mais agitado do trem.
As suítes tinham cama de casal, escrivaninha e frigobar, e todas com banheiro privativo e ducha quente. Um cabineiro-mordomo ficava à disposição dos passageiros durante toda a viagem. Havia dois horários para o jantar: das 20h às 21h30 ou das 22h30 às 23h30. O cardápio - assinado por um chef francês - oferecia sempre duas opções de entrada, prato principal e sobremesa.