O primeiro fiscal do DAC em Londrina morreu no último dia 13, aos 88 anos. Dikran Balikian era filho de armênios que vieram ao Brasil para se refugiar da guerra, na diáspora armênia, fato que os fez ficarem noivos por carta, no início do século 20. Juntos os pais de Dikran tiveram Artur, Guira, Isabel, Dikran, Pedro, Salomão e Avedis, que nasceram no Brasil. A reportagem da Folha conversou com duas de suas sobrinhas, Lenita Balekian, psicóloga que reside em Londrina, e Mary Raquel Balekian, iluminadora cênica que reside em São Paulo, que consideravam Dikran como seu segundo pai, já que ele não teve filhos.

Balikian nasceu em São José do Rio Preto (SP) em 1933 e chegou a Londrina ainda pequeno. “No início ele morou em uma casa de palmito”, relembrou Lenita. Ele começou a trabalhar no ramo aéreo quando tinha 19 anos, na Aerolinhas Brasil, comprando e vendendo passagens aéreas, e depois essa companhia foi absorvida pela Real Linhas Aéreas e, posteriormente, foi adquirida pela Varig. No início da década de 1950 ele foi contratado para ser fiscal do DAC (Departamento de Aviação Civil) e só deixou o cargo quando se aposentou em 2004.

Ele trabalhou por 52 anos no Aeroporto Governador José Richa, local em que foi contratado antes mesmo da inauguração do espaço. Em entrevista concedida à Folha de Londrina, em 1998, ele relembrou algumas das histórias que vivenciou. ‘‘Nas sextas-feiras, isso aqui enchia de fazendeiros para esperar o ‘balaio das putas’, o avião que trazia prostitutas de São Paulo,’’ conta. O movimento de aeronaves refletia a realidade econômica da cidade e região. ‘‘Antes, se tinha prostituta e malandro na cidade, era porque o dinheiro corria fácil. Hoje, se sabe da situação econômica pelas bolsas de valores”, declarou ele na época.

Essa história era uma das narradas por ele às sobrinhas. A sobrinha Mary Raquel relembra de outra, em que ele dizia que um desses fazendeiros contraiu uma doença venérea com uma das prostitutas e, enfurecido, pegou um avião agrícola e jogou defensivos agrícolas sobre o prostíbulo. “Ele sempre foi muito sisudo, mas ao mesmo tempo gostava de brincar”, destacou.

“Ele era muito rígido com a gente, mas dentro das regras ele fazia muita piadinha com a gente. Ele tinha bom humor. Quem não o conhecia achava que ele mordia, mas ele era muito engraçado. Gostava de viver. Queria viajar, mas morria de medo de avião. Quando foi a Porto Alegre receber uma medalha, meu pai e minha mãe tiveram que ir junto”, destacou Mary Raquel. “A gente brincava no aeroporto. Era o tempo antes da Infraero e a gente pegava o microfone que chamava o voo e subia e descia as escadas dos aviões”, destacou Lenita.

Lenita relata que eram muitos aviões que ele precisava coordenar e se recorda que o tio era bastante rigoroso na condução do aeroporto. “As pessoas pediam para que ele liberasse o voo logo, mas ele era rigoroso. Antes o aeroporto não tinha muro, então as pessoas entravam no aeroporto e bebiam por lá e ele chamava a polícia, mas não tinha pessoal suficiente para ir para lá.”

Sobre acidentes aéreos, Lenita relembra que ele contou certa vez de um acidente aéreo que ocorreu onde ficava a AABB, com uma pequena aeronave. Dikran anotava todos os voos que chegavam e partiam de Londrina à mão. “Ele tinha todos esses livros guardados. Ele tem muitos registros do tempo em que trabalhava no aeroporto. Ele queria escrever um livro”, destacou Mary Raquel.

Lenita afirma que o principal legado do tio foi fazer um bom trabalho, enquanto Mary Raquel ressaltou que ele era um exemplo de determinação. “Ele não deixava que o pensamento do outro interferisse no trabalho dele. Sempre foi determinado no que queria fazer e estimulava isso nas pessoas. Ele incentivava que as pessoas buscassem seus sonhos”, destacou.

Foi condecorado em 1984 com a Medalha “Bartolomeu de Gusmão” e em 2000 com a Medalha “Mérito Santos Dumont” pelos serviços prestados à aviação civil. Deixa a esposa Luzia Lopes Balikian, irmãos e sobrinhos, muitos dos quais cuidou como se fossem filhos. No domingo, (18), às 11h, haverá a missa de sétimo dia com transmissão pelo Youtube e Facebook, na página da Paróquia Armênia Católica.