"Sou grato demais por ter passado por tudo isso e com força para conseguir vencer", afirma Airton Pereira, que recebeu um rim
"Sou grato demais por ter passado por tudo isso e com força para conseguir vencer", afirma Airton Pereira, que recebeu um rim | Foto: Gustavo Carneiro



Entre seus mais diversos significados, um que representa bem o Natal é a esperança. Segundo o dicionário, é a "confiança de que algo bom acontecerá" e a "espera na possibilidade de que um desejo se torne realidade". Durante a vida, muitos são os momentos de espera, assim como variados são os períodos de conquistas. Por isso, para muitas pessoas, este 25 de dezembro será ainda mais especial em relação aos outros, e carregado de celebração pelos sonhos que chegaram e a espera que se transformou em algo concreto no decorrer do ano.

É o caso do aposentado Airton Pereira, 61. Morador de Rolândia (Região Metropolitana de Londrina), ele descobriu um problema no rim há seis anos, o que lhe obrigou a iniciar o tratamento de hemodialise. "Fiz uma cirurgia no olho porque estava com diabetes alta e neste meio tempo comecei a sentir muita falta de ar e que meu corpo estava inchado. Fui para o médio e no mesmo dia tive que começar fazer hemodialise", relembra ele, que perdeu a visão de um olho e possui 70% do outro.

Desde então, a vida do então vendedor mudou completamente. Por conta do procedimento médico, Pereira teve que parar de pescar, jogar bola, viajar e cantar. "Amava fazer tudo isso e de repente não pude mais. Foi um baque e tive que aprender a me acostumar, porque em primeiro lugar vem a saúde. Também foi necessário mudar a alimentação e beber pouca água", elenca. As sessões de hemodialise aconteciam quatro vezes por semana, com duração de quatro horas.

Foi com um telefonema, em agosto de 2017, que a realidade do homem de palavras sutis começou a ser mais uma vez transformada, mas para melhor. Na fila de transplante de rim, ele foi informado que tinha sido contemplado com o órgão, que veio de uma vítima de acidente fatal em Curitiba. "Isso foi no sábado de manhã. Tinha um rapaz que também estava esperando, porém ele teria que fazer mais exames e não existia este tempo todo. Então, veio para mim e durante à noite já fiz a cirurgia."

RECUPERAÇÃO

De acordo com ele, o início da recuperação foi tão desafiador quanto o tratamento, precisando ficar com várias sondas e enfrentar dificuldades para se alimentar. Entretanto, foi o apoio dos familiares e amigos que lhe deu o combustível necessário para superar os desafios. "Minha esposa, irmãos e amigos me falavam que estavam orando por mim e para eu não desistir. Foi o que fiz. Disse que iria vencer e pensando muito nas pessoas e naqueles que fazem hemodialise. Refleti que se eu desistisse eles também poderiam desistir", destaca. "Pior coisa é ver um doente se lamentar", acredita.

Ainda com várias restrições, Pereira enaltece a oportunidade de estar em um novo momento de sua vida. Para ele, o Natal é marcado pela expectativa. Quando era criança, recorda, era de origem humilde e morava em um sítio. Quando chegava dezembro, o final do ano oferecia a possibilidade de ter uma alimentação diferente e poder beber refrigerante.

NOVA FASE

Agora, ele planeja reunir toda a família para a ceia, que marcará um nova fase para todos. "Este Natal será bom e maravilhoso. Todos estarão contentes por mim. Sou grato demais por ter passado por tudo isso e com força para conseguir vencer. De hoje em diante, o que puder fazer por quem está passando o que eu passei vou fazer. O Natal é dia 25, mas o presente ganhei há quatro meses", festeja.

Para deixar ainda mais marcado o mês de dezembro, Airton Pereira montou pela primeira vez uma árvore natalina, que contou com a ajuda do neto, de três anos. De agora em diante, cada dia será para ser valorizado. "Foi difícil, mas consegui. Uma mensagem que carrego é sofra tudo o que tem que ser sofrido. Saboreie tudo que tem que ser saboreado, pois você deve sempre ver a alegria e tristeza como algo natural da vida", finaliza.