Londrina - O clima dos espetáculos mambembes tomou conta na tarde de ontem do Conjunto Avelino Vieira (zona oeste). Durante o domingo de Páscoa, o Movimento dos Artistas de Rua de Londrina (MARL) esteve no bairro para realizar uma ocupação artística e levou muita alegria aos moradores da região. O objetivo do grupo é semelhante ao da Caravana Rolidei, do filme Bye Bye Brasil (1979), dirigido pelo diretor Cacá Diegues, no qual um grupo de artistas realiza espetáculos para o setor mais humilde da população.
Se no caso do filme a diversão era dirigida para quem não tinha acesso à televisão, o espetáculo londrinense é o primeiro de uma série de seis espetáculos que serão realizados em dois bairros de baixa renda que usualmente são esquecidos pelas políticas públicas culturais: além do próprio Conjunto Avelino Vieira, que abrigará três apresentações, o Residencial Vista Bela futuramente também receberá três apresentações.
Para convocar a população, o grupo formado por 40 pessoas realizou uma espécie de cortejo artístico. Um carro de som saiu pelas ruas do bairro cantando cantigas de roda como a folclórica "Se essa Rua fosse minha" ou a canção "Eu quero é botar meu bloco na Rua" (1973), composta por Sérgio Sampaio. Uma boneca semelhante àquelas gigantes que costumam aparecer no carnaval de Olinda também esteve presente para alegrar o domingo no bairro.
Logo as cirandas e brincadeiras de roda tomaram conta das ruas e tudo isso foi devidamente registrado por câmeras de vídeo dos organizadores. Algumas dessas cenas foram exibidas ontem na Associação Ciranda da Cultura, que fica no bairro, algo que os organizadores chamaram de "TV de Rua". Posteriormente o objetivo do MARL é fazer um documentário mais elaborado com o material.
O técnico de enfermagem Rogério Rafael, de 44 anos, é morador do conjunto habitacional e aprovou a ocupação cultural. "O nosso município oferece muito pouco para a cultura em nosso bairro e esse tipo de ação deveria acontecer mais vezes aqui", afirmou. Segundo ele, no Avelino Vieira não acontece quase nenhum evento que integre os moradores.
Crítica semelhante à apresentada pela adolescente Janes da Silva, de 15 anos. "Eu gostaria que houvesse apresentações musicais no bairro", sugeriu. Ao ver o cortejo passar, ela elogiou a iniciativa. "Se tivesse mais apresentações assim, participaria mais, com certeza", apontou.
A psicóloga Kira Fernandes, de 24 anos, atua como auxiliar nas oficinas de pernas-de-pau e relatou que, além de ensinar novas habilidades às crianças, sempre acaba aprendendo algo novo com eles. "Você vê o brilho nos olhos das crianças", afirmou. Para ela, o projeto ajuda no desenvolvimento das crianças tanto fisicamente como psicologicamente. "É uma oportunidade de brincar e deixar a vida mais bonita", enalteceu.
Seus alunos são crianças como Gustavo Siqueira, de 12 anos, ou Thainan Carneiro, de 11 anos, que se equilibraram durante as oficina de pernas-de-pau. Os dois manifestaram a predileção por essa atividade entre as várias que foram oferecidas pelo projeto: música, contação de histórias, jogos e brincadeiras, teatros, oficinas de bricolagem, e shows de palhaços. "É divertido. Você vê todos do alto e é fácil de andar. É só levantar bastante o joelho", ensinou Gustavo.