Números da degradação refletem tendências desastrosas
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quinta-feira, 20 de abril de 2000
Por Liana John e Maura Campanili
São Paulo, 21 (AE) - A população mundial chegou a 6 bilhões, sem sinais de estabilização, embora o ritmo de crescimento tenha diminuído em relação às previsões feitas há alguns anos. Para alimentar e dar conforto a tanta gente, a agricultura já tomou mais de um quarto da superfície terrestre. Do total de áreas agrícolas, porém, três quartos são solos de baixa fertilidade e metade está em terrenos acidentados, com baixa produtividade. Cerca de 66% dessas mesmas terras ocupadas pela agricultura sofrem processos de degradação devido à erosão, salinização, poluição ou degradação biológica, intensificados nos últimos 50 anos.
Como consequência da degração, a produtividade agrícola cresce cada vez mais devagar e de forma desigual. Embora o total de alimentos produzidos no mundo seja suficiente, a má distribuição desta produção mantém pelo menos 800 milhões de pessoas subnutridas. E o crescimento na produtividade não atenderá aos 3 bilhões de novos habitantes do planeta Terra, previstos para os próximos 30 anos.
Além dos alimentos, a energia, ar, água, solo, petróleo, minérios e outros recursos naturais consumidos pelos homens remontam altas somas: cerca de 45 a 85 toneladas por pessoa/ano. Na contabilidade das economias mais desenvolvidas, pode-se dizer que cada 100 dólares de riquezas produzidas consomem 300kg de recursos naturais.
Só o uso de energia cresceu cerca de 70% nos últimos 30 anos e deve continuar aumentando à razão de 2% ao ano pelos próximos 15 anos. Isso significa mais conforto, mas também contribuições 50% maiores para o aquecimento global da atmosfera
a menos que se consigam baratear as formas alternativas de energia - eólica, solar, geotermal - cujos avanços tecnológicos têm sido promissores.
Gases - A redução nas emissões de gases prejudiciais à camada de ozônio foram consideráveis. O mundo já consome 70% a menos desses gases, desde 1987. Porém, ainda falta substituir os outros 30% e acabar com o mercado negro de CFCs e mesmo assim, a recuperação da camada de ozônio deverá levar muitos anos, porque os gases emitidos no passado ainda estão ativos.
Um novo desafio surge também com o excesso de nitrogênio proveniente da fertilização química agropecuária, dos esgotos e da queima de combustíveis fósseis. O excesso acaba por reduzir a fertilidade dos solos e favorecer a eutrofização de lagos, represas, estuários e mangues. A fragmentação dos rios com a construção de barragens, desvios e canais de irrigação aumenta ainda mais os impactos sobre as áreas de influência das bacias hidrográficas e a zona costeira, provocando assoreamento, erosão
alteração de recifes de coral e mangues, poluição. Cerca de 60% dos grandes rios do Planeta já estão fragmentados e 58% dos recifes de coral do mundo correm risco devido a atividades humanas.
Desmata - O desmatamento continua acelerado, apesar do mundo já ter perdido metade de suas florestas originais. Na zona tropical, a perda anual soma 130 mil quilômetros quadrados por ano. A devastação atinge também as áreas inundáveis, pântanos, charcos, banhados e depressões, locais, em geral, de alta biodiversidade e extrema importância para a conservação da qualidade da água doce. A água é, por sinal, um dos recursos que mais preocupa. Um terço da humanidade já vive em regiões com falta ou escassez de água e esse total pode chegar a dois terços nos próximos 30 anos, se não forem tomadas sérias medidas de conservação.