O Paraná tem o maior número de trabalhadores com ensino superior completo de sua história. De acordo com dados de 2023 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o estado conta com 1,42 milhão de profissionais com formação acadêmica atuando nos mais diversos segmentos. O número é muito superior aos 837 mil trabalhadores formados e empregados em 2012, quando a pesquisa começou a ser divulgada.

Apesar do cenário animador, a remuneração desses profissionais com ensino superior completo vem caindo. Hoje, um profissional formado recebe, em média, R$ 5.663; em 2012, a remuneração era de R$ 6.528, o que mostra uma redução de 13% no salário do trabalhador. Em todo o país, a renda desses profissionais também caiu nos últimos 12 anos, saindo de R$ 7.076 para R$ 6.048.

Economista e professor do Departamento de Economia UEL (Universidade Estadual de Londrina), Emerson Esteves explica que o número de profissionais com ensino superior completo cresceu por conta de uma facilidade no ingresso nas universidades. Ele exemplifica o caso de Londrina, que conta com 53 universidades e faculdades, sendo três públicas e 50 privadas, seja com campi ou polos de ensino à distância.

Em relação à remuneração, que vem caindo ano após ano, o professor explica que uma das justificativas é uma oferta acima da demanda do mercado, ou seja, o número de profissionais qualificados é superior à quantidade de vagas disponíveis.

Além disso, segundo ele, o fator econômico também pode ter influenciado, já que o país passou por um período de recessão entre 2015 e 2016, assim como a pandemia a partir de 2020, em que ambos os momentos fizeram com que o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil caísse. “A economia ainda está se recuperando de momentos difíceis”, aponta.

Esteves também acrescenta que o cenário pode ser explicado pelo fato de o mercado não conseguir atender à demanda de profissionais com vagas que tenham uma remuneração compatível à formação acadêmica. Com isso, o economista reforça a importância de o profissional estar sempre atualizado dentro da área de formação. Ele exemplifica que é essencial falar, além do português, inglês, espanhol e até mesmo o mandarim para profissionais que querem atuar em empresas de exportação e importação.

Para outras áreas, é fundamental que o profissional entenda de programação computacional, que é a famosa Inteligência Artificial. “O mercado espera que os profissionais resolvam problemas”, aponta, complementando que no caso de uma pessoa tímida, é importante que ela faça um treinamento para dominar o discurso em público ou trabalhar em equipe.

Secretário municipal do Trabalho, Emprego e Renda, Gustavo Santos afirma que o número de pessoas com ensino superior completo em busca de vagas de trabalho que não exigem aquela formação aumentou na agência do Sine (Sistema Nacional de Emprego) de Londrina. Segundo ele, isso acontece porque muitos profissionais recém-formados ainda não possuem experiência no mercado de trabalho.

“Muitos profissionais de nível superior sequer puderam fazer estágios nas suas áreas em função da pandemia. Existe uma geração de recém formados que nunca atuou nas suas áreas”, aponta.

AUMENTO DA QUANTIDADE DE MÉDICOS

O número de médicos cresceu em todo o Brasil em 2023 se comparado ao período pré-pandêmico. De acordo com dados do IBGE, o aumento foi 23,6%, o que representa mais de 500 mil profissionais da medicina na ativa. Conselheiro do CRM-PR (Conselho Regional de Medicina do Paraná) em Londrina, Carlos Zicarelli aponta que esse crescimento também foi sentido na cidade, principalmente por conta da abertura indiscriminada de faculdades de medicina. Segundo ele, nas últimas duas décadas houve um aumento superior a 270% no número destas instituições, passando de 107 para 398 escolas médicas no país. Ao todo, são mais de 40 mil vagas de graduação.

A estimativa é de que 3.600 médicos estejam atuando em Londrina e região. No Brasil, são 23,7 médicos para cada 10 mil habitantes. Em Londrina, a densidade é de 64,75 médicos por 10 mil habitantes, número extremamente alto em comparação com a média nacional, aponta o conselheiro.

A medicina sempre foi uma área requisitada, mas Zicarelli destaca que ser um bom médico vai além do domínio técnico e do conhecimento científico. “Envolve competências, habilidades e atitudes que impactam positivamente a vida dos pacientes, das equipes de saúde e da comunidade. Empatia, humanização e princípios éticos devem sempre nortear a formação e carreira dos recém-formados”, afirma.

A facilidade no acesso às vagas e as diversas áreas de atuação podem estar alavancando esse crescimento, de acordo com a análise do profissional. Ele reforça que é de responsabilidade do MEC (Ministério da Educação) a autorização para abertura de novas faculdades de medicina. Entretanto, propostas estão sendo debatidas nos Conselhos para a criação de provas semelhantes às realizadas pela OAB (Ordem do Advogados), com o objetivo de melhorar a capacitação dos novos médicos. “Atualmente, o CRM-PR luta pelo ensino médico de qualidade e atualmente está com projeto de aproximação com as escolas médicas”, reforça.