O número de policiais militares na ativa caiu 19,4% no Paraná em dez anos, de acordo com um levantamento divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública no final de fevereiro. É a terceira unidade da Federação que mais teve redução no efetivo ao longo deste período, atrás de Distrito Federal (31,5%) e Rio Grande do Sul (22,5%).

Conforme os dados, que fazem parte do estudo chamado de Raio-X das Forças de Segurança Pública do Brasil, o Paraná tinha 21.147 PMs em 2013, enquanto em 2023 o efetivo era de 17.036. A diminuição dos policiais paranaenses é quase três vezes maior do que a queda nacional, que foi de 6,8%.

O presidente da Associação de Praças do Estado do Paraná (Apra-PR), sargento Orélio Fontana Neto, avalia que essa redução reflete diretamente no serviço prestado à população, pois os policiais da ativa acabam trabalhando mais para suprir a demanda.

“Esse é um ponto nevrálgico dessa situação, porque o trabalho do policial militar teria que ser baseado nas quarenta horas semanais. Mas o policial militar faz muito mais do que isso. Então, não existe realmente uma carga horária para esse policial. Tudo isso reflete no aumento do estresse do policial. Aumentando o estresse você pode cometer mais erros nas observações das ocorrências e nas intervenções policiais. A qualidade do serviço não fica a contento. Você só pressiona e tensiona todo o sistema”, disse em entrevista à FOLHA.

Conforme a pesquisa, o Paraná tem menos de dois policiais a cada 1.000 habitantes. O efetivo existente equivale a 73,4% do que seria o previsto e considerado ideal (23.196 policiais).

“Você olha o efetivo recomendado pela ONU (Organização das Nações Unidas) que é de um policial a cada 350 pessoas, e nós estamos muito abaixo disso. Tudo isso reforça a impunidade”, lamenta Fontana.

O estudo, construído com dados disponibilizados pelas forças de segurança com base na Lei de Acesso à Informação, também analisa os salários das forças de segurança. Um soldado, que é o menor cargo dentro da Polícia Militar, recebe em média R$ 4.743,81 líquidos no Paraná - valor dentro da média nacional.

A grande diferença acontece quando são analisadas as remunerações de oficiais e praças. As carreiras na Polícia Militar estão organizadas nesses dois grupos. O primeiro é responsável pelo comando e direção da instituição, já ao segundo compete as atividades operacionais de policiamento.

Os tenentes, primeiro posto da carreira de oficiais, têm média salarial de R$ 10.097,12 no Paraná, ao passo que os subtenentes, mais alta graduação dos praças, têm valor líquido médio de R$ 9.475,03. Isto quer dizer que um praça no final da carreira ganhará menos que um oficial que acaba de ingressar na corporação.

“Falta uma questão de carreira para o policial militar, um incentivo para o policial permanecer. Porque ele sai da Polícia Militar, do efetivo, e continua trabalhando. No lugar de descansar na aposentadoria, como não tem um rendimento condizente, o policial volta a trabalhar em outra área. Tudo isso faz com que o estresse desse policial aumente e que ele não tenha uma qualidade de vida”, pontua o presidente da Apra-PR.

A FOLHA procurou a Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp) para repercutir o assunto e foi orientada a entrar em contato com a Polícia Militar. Após a solicitação da reportagem, a PM respondeu que “não faz contratação de pessoal e não fala em número de policiais, pois é uma informação sensível e estratégica”.

CARREIRAS DE SEGURANÇA

Conforme o Raio-X das Forças de Segurança, o Paraná está entre os Estados com os menores salários para as carreiras de perito criminal, papiloscopista, escrivão, investigador e delegado.

O Estado é o que tem a pior remuneração para investigadores da Polícia Civil. Enquanto a média nacional bruta é de R$ 11.704,41, aqui gira em torno de R$ 8.947,74. No caso dos escrivães, a média bruta estadual é de R$ 9.151,01, bem abaixo da nacional que é de R$ 11.310,86.

O Paraná também tem o segundo pior salário para delegados, melhor apenas que o de Minas Gerais. Na média nacional, o valor pago por essa função é de R$ 26.655,38 bruto, já aqui no Paraná fica em R$ 24.378,78.

Em relação aos papiloscopistas, a remuneração média no Brasil é de R$11.537,87, ao mesmo tempo em que aqui no Estado fica em R$8.941,10 - sendo o segundo pior salário do país, ganhando somente da Paraíba.

O Estado detém ainda a terceira pior remuneração de peritos criminais, pagando mais apenas que Ceará e Espírito Santo. A média nacional bruta é de R$ 18.918,46, ante os R$ 13.592,72 praticados aqui.

Em contrapartida, o Paraná está acima da média bruta nacional quando se trata dos salários dos policiais penais, que são responsáveis pela segurança nos presídios. A média salarial no Brasil é de R$ 8.070,98, já aqui no Estado é de R$ 9.970,03.