Novo diretor do CTA diz que década de 90 foi a pior da história
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quinta-feira, 30 de março de 2000
Por Júlio Ottoboni
São José dos Campos, SP, 31 (AE) - O recém-empossado diretor do Centro Técnico da Aernáutica (CTA), brigadeiro Carlos Augusto Leal Velloso, classificou hoje a década de 90 a pior da história da entidade. O órgão militar é considerado estratégico dentro do Comando da Aeronáutica, nos segmentos de novas tecnologias, nos setores bélico, civil e espacial. Entretanto, atravessa uma das maiores crises nos 50 anos de existência. Sem recursos para manter equipamentos e funcionários, o principal núcleo de pesquisa aeroespacial do País está sendo sucateado. "Se a situação continuar assim, vejo um futuro negro para nós"
comentou o diretor.
O CTA, situado em São José dos Campos, no Vale do Paraíba (SP), desempenhou uma função fundamental na capacitação do Brasil em novas tecnologias, entre elas, a aeronáutica. Foi em seus angares que na década de 60 surgiu o Bandeirante, o primeiro avião brasileiro, e a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer). Os técnicos do centro também foram responsáveis pela criação do motor brasileiro, movido a álcool e a gás. O último grande projeto do CTA é o foguete conhecido como Veículo Lançador de Satélites (VLS), que assegurará ao País autonomia na corrida espacial.
Segundo Velloso, o órgão tem sobrevivido aos baixos orçamentos e, mesmo assim, produzido resultados. A direção do CTA ainda desconhece qual será seu orçamento em 2000 e contará apenas com os repasses do Comando da Aeronaútica. O Tesouro deixou de colaborar na receita do órgão há dois anos. Para continuar trabalhando, vários projetos foram paralisados e apenas alguns, considerados fundamentais, foram mantidos, como o desenvolvimento de mísseis e pesquisas em fibra ótica. "O problema mais sério é a manutenção da nossa capacidade instalada", explica o militar.
Entre os projetos abandonados está o túnel transônico supersônico, que seria utilizado no desenvolvimento de aviões de alto desempenho.
Mas sequer há prazos ou perspectivas de melhora, o que acaba por dificultar ainda mais a situação do instituto. Somente para manutenção de seu parque produtivo e da mão-de-obra qualificada, o CTA necessitaria de R$ 15 milhões. No ano passado
a verba disponível foi de R$ 6 milhões e para esse ano, a direção aguarda algo em torno de R$ 8 milhões.
A gravidade do quadro chegou a um ponto que há 10 anos o principal centro de pesquisa da armada e um dos mais importantes da América Latina sequer consegue contratar um profissional formado no Instituto Tecnológico da Aeronáutica ( ITA), que pertence a própria instituição.
Os baixos salários e a falta de novos concursos públicos deixaram um deficit de pessoal estimado em 1,4 mil funcionários. Além do envelhecimento de seu quadro funcional. "Tenho na área técnica apenas dois servidores com menos de 30 anos de idade", preocupa-se Velloso.
A área espacial o esvaziamento dos institutos é ainda mais grave. Cerca de 500 profissionais deixaram o centro de pesquisas migrando para empresas privadas ou se aposentaram. No ano passado, para lançar o segundo protótipo do VLS, o CTA contou com ajudas da Agência Espacial Brasileira e do Ministério da Ciência e Tecnologia para disparar o foguete da Base de Lançamentos de Alcântara (MA). E a missão do próximo foguete, marcada para agosto de 2001, ainda é um mistério. "Essa situação ofende a soberania nacional, que não há como existir se não houver tecnologia", alerta o diretor.