Com menos de 20 mil habitantes, o município de Assaí está no imaginário dos norte-paranaense sob a benção do seu castelo japonês, também podendo ser lembrado por sua tranquilidade. Embora esteja arraigada na cidade, a cerca de 50 quilômetros de Londrina, a calmaria de outrora ganhou um novo patamar nesta quinta-feira (18) e chegou a surpreender até a antigos moradores, como a atendente Miriam Kono Tokunaga, 57. No lugar da paz e da serenidade dos dias normais, o luto e a preocupação com a gravidade da pandemia eram os sentimentos que rodeavam a mente da moradora. "Assim, eu nunca vi. Estou até assustada, desta vez está sério mesmo", definiu.

No primeiro dia após a publicação do decreto que estabeleceu medidas mais restritivas, a ampla maioria dos moradores e comerciantes do município decidiu aderir. Inserida em um grupo de sete cidades que entraram na fase mais difícil do lockdown, Assai só não registra número maior de óbitos em decorrência da Covid-19 do que Bela Vista do Paraíso, quando analisados somente estes municípios. Eram 22 e 28 óbitos, respectivamente, até esta quarta-feira.

Vitor Struck

Embora a constatação tenha sido de que boa parte dos moradores entendeu a mensagem, o empresário e entregador Samuel Rosa, 49, lamenta que grupos de jovens ainda realizem churrascos em casas alugadas às margens do Rio Tabagi, na região de São Sebastião da Amoreira. “Lockdown é pouco para essa cidade. Aqui deveria ter viaturas 24 horas, o povo não acredita", criticou.

Além de Assaí, Alvorada do Sul, Prado Ferreira, Sertanópolis, Lupionópolis, Bela Vista do Paraíso e Primeiro de Maio deram início à fase 1, em que sair de casa só é permitido se for para comprar medicamentos, diante de emergências médicas com pessoas ou animais e para embarcar em viagens intermunicipais.

Postos de combustíveis, como o que trabalha Miriam Kono Tokunaga, estavam atendendo, porém não podem vender bebidas alcoólicas. De acordo com ela, o anúncio de que a cidade endureceu as medidas de combate ao vírus, na tarde de quarta-feira, provocou uma corrida aos supermercados e filas para abastecer.

"A gente vê que, para chegar numa situação dessas, é que o pessoal, acho, não estava levando muito a sério. Tem pessoal que ainda faz festas, a gente fica preocupado", lamentou.

Depois da morte do seu marido, há mais de um ano, garantir o desenvolvimento pessoal e profissional dos filhos Gabriela, 27, e Gustavo, 25, com o próprio trabalho representa o principal objetivo, o que para muitas pessoas vem sendo impedido em decorrência da pandemia. "Sinto muita tristeza, o comércio todo fechado, nunca imaginei na vida passar por isso", lamentou.

Nas ruas, o silêncio só era quebrado por conta de um carro de som que anunciava: fique em casa. Com um trator, a Secretaria Municipal de Saúde de Assaí também decidiu pulverizar um produto de limpeza nas ruas e jardins das residências. Apropriado para passar o veneno em lavoura de soja, o equipamento pertence ao secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Assaí, Paulo Ohara, que decidiu apostar na ideia.

Imagem ilustrativa da imagem No primeiro dia, maioria dos moradores de Assaí respeita lockdown
| Foto: Vitor Struck/Grupo FOLHA

Em Assaí, até o secretário Municipal de Saúde, Jorge Torquatto Júnior, está vivendo o drama de ter um ente querido, sua mãe, na fila por um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) exclusivo para o tratamento da Covid-19, em Londrina. Durante a tarde, em meio à procura de alguns moradores pela testagem, o secretário e sua equipe também receberam cilindros de oxigênio no Hospital Municipal de Assaí. No entanto, as notícias trazidas com eles não eram nada animadoras.

Acir Roque trabalha com o transporte do oxigênio e atende hospitais em 17 municípios. Além de Nova Fátima, passa diariamente por cidades bastante afetadas pela pandemia, como Sertanópolis, Siqueira Campos, São Sebastião da Amoreira e Assai. Enquanto descarregava cilindros no Hospital Municipal de Assai, revelou à reportagem que a demanda por cilindros de oxigênio nestes hospitais era de cerca de 20 por dia. "Hoje chega a 200", estimou.

“Semana passada já faltou o oxigênio para abastecer os cilindros. Se o povo não se cuidar, vai acontecer igual aconteceu em Manaus, morrer gente por falta de oxigênio. Já estamos notificando todos os hospitais que está em risco de entrar em colapso”, alertou.