Foi sepultado ontem, no cemitério municipal de Itu, no interior de São Paulo, o historiador Nelson Werneck Sodré, de 87 anos (foto). Residente no Rio de Janeiro, Sodré estava há mais de um mês passando férias em Itu onde sua mulher, Yolanda Sodré nasceu e tem parentes. Na segunda-feira, dia 12, ele teve uma complicação intestinal e foi operado na. Anteontem, Sodré passou mal com problemas respiratórios. Os médicos não conseguiram reverter o quadro e o historiador morreu por volta das 18 horas.
Marxista e autor de mais de 40 livros, entre eles ‘‘Formação Histórica do Brasil’’ (1962) e ‘‘Memórias de um Soldado’’ (1968), Nelson Werneck Sodré nasceu no Rio de Janeiro, em 27 de abril de 1911. Estreou na literatura em 1938, com o livro ‘‘História da Literatura Brasileira - Seus Fundamentos Econômicos’’.
General reformado, integrou o Exército de 1924 a 1962. Apaixonado por história, chefiou o curso de história militar na Escola do Comando e Estado-Maior do Exército. Uma das passagens de maior destaque de sua vida foi a criação do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), em 1955, no Rio de Janeiro.
O Iseb, fundado como um núcleo de assessoria ao governo, era constituído por intelectuais de diversas tendências, que defendiam um capitalismo e um empresariado nacionais, na ideologia que ficou conhecida como
‘‘nacional-desenvolvimentista’’.
O instituto foi extinto em 1964 com a instauração do regime militar, que o considerava um ‘‘divulgador de idéias subversivas’’. No Iseb, Werneck Sodré coordenou a execução da ‘‘História Nova do Brasil’’, logo apreendida pelo regime. Após o golpe, foi, junto com intelectuais de sua equipe, preso e processado.
Foi processado pela Justiça Militar por ter escrito o livro ‘‘História Militar do Brasil’’ (1965), acusado de propaganda subversiva. A Polícia Federal, em junho de 1970, remeteu ao Ministério da Justiça uma relação de livros que seriam ofensivos à moral e aos bons costumes. O livro de Werneck Sodré foi citado no relatório do ministério não como ofensivo à moral, mas como ‘‘propaganda subversiva’’. Os exemplares que já estavam sendo comercializados foram apreendidos.
Como Werneck Sodré já era general reformado nessa época, seu processo foi enviado para o Superior Tribunal Militar, que extinguiu a punição em 1978. Em março do ano passado, três de suas obras voltaram às livrarias, e seu primeiro livro foi incluído no programa de enriquecimento de bibliotecas da rede pública escolar de todo o Brasil.
Adepto das teorias mais ortodoxas do marxismo, mesmo quando era criticado, Werneck Sodré ironizava e costumava dizer: ‘‘Como foi decretada a morte do marxismo, então não é mais preciso ler meus livros’’.

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